Nascida nas Sombras

Prólogo

—A Lista está menor esse ano, senhora - Rick era muito mais alto que o normal, mais ainda do que os mundanos poderiam chegar, com cabelos e olhos escuros. O seu trabalho daquela tarde se resumiu basicamente em rever e repassar a Lista de alunos novos, daquele começo de ano letivo, e embora tentasse ignorar, estava achando que a cada ano menos alunos eram encontrados. Mas isso não preocupava apenas ele, preocupava também a pequena mulher, com cabelos grisalhos e olhos verdes, em sua frente. A diretora Minerva.

—Sim, estou vendo, Rick — ela disse, pegando a folha estendida em sua direção — Nosso índice de natalidade está baixo também.

—Enquanto o mundo cresce, nos permanecemos assim — Rick comentou — Temos que fazer algo.

—Nós não, querido, o Conselho — ela corrigiu — Nós apenas cuidamos da Escola Cinzenta, o Conselho cuida de todo o resto. Eles precisam fazer algo ou então nenhum de nós sobreviverá para contar a história.

—Isso me assombra, senhora.

—Confesso que a mim também, meu caro.

Minerva gostava de ler cada nome, antes de escrevê-lo em seu inventário e por isso Rick esperava perguntas casuais sobre alunos.

—Smith? Pedro Smith? Filho de Steve Smith? — ela perguntou, sem levantar olhar, depois de segundos em silêncio.

—Sim, senhora. O irmão saiu ano passado e ele entrará esse ano.

—Ah, eu me lembro de Luna Collins, grande garota. Que bom que será o primeiro ano dela.

—Sim, uma adorável garota.

—E meu sobrinho?

—Está se arrumando, senhora, como pediu.

—Ótimo.

—Ele está bem adiantado. É um garoto responsável e tenho certeza que se sairá muito bem em seu primeiro ano.

—Sim, sim, como o pai — ela concordou — E essa aqui? Anna Jones?

—Filha mais velha dos Jones.

—Da Espanha?

—Sim, essa mesma.

—Dizem que é uma garota meio estranha.

—Ela faz parte do nosso mundo, senhora.

—Mais estranha que isso. Bem,como eu posso dizer? Feliz demais.

—Acho que entendi.

Minerva voltou a ler mais alguns nomes e então levantou, finalmente, a cabeça devagar e temerosa em direção ao seu empregado. Isso seria possível?

—Esse nome é de quem eu penso que é? — ela perguntou e Rick fez uma cara repleta de confusão — Florence Wills? Filha de Edmund e Leila Wills? Como eles estão?

—Edmund morreu alguns meses depois que Florence nasceu, como sabe, e a garota tem um padrasto, um dos grandes amigos de Leila, que trata como pai. Eles vivem bem e ela tem a Marca.

—É claro que tem, filha de quem é, sem dúvida teria. Ela então vem esse ano?

—Sim, senhora.

—O que acha que isso pode significar?

—Se tratando daquela família, presumo que poderemos esperar por qualquer coisa, senhora.

—Foi o que eu imaginei, meu caro, foi o que imaginei.