É tarde de sábado e eu estou num porre da noite anterior, dormi a manhã inteira. Normalmente eu não sou de beber, digo, até encher a cara, não. Mas de vez em quando eu me permito pra ver se esqueço que vivo nessa droga de casa, bairro, cidade, estado, país, planeta...enfim, nesse universo.
Calma aí, não vai pensando que sou mais um ser humano deprimido com a própria vida e por isso põe a culpa de seus infortúnios no universo mas, cara, a minha vida poderia ser mais bacana, sério. Na verdade, seria ótimo se minha vida fosse "melzinho-na-chupeta", mas não é assim que as coisas são, sabe. A vida não vê ninguém como "café-com-leite" então não vá achando que só por ser uma pessoa boa que o universo vai conspirar ao seu favor, quanto mais cedo você aceitar que vivemos em um mundo cão e que as pessoas só fazem tudo piorar, melhor.
Gostaria de ter recebido um manual de como lidar quando as coisas fugissem do controle, mas aí seria generosidade demais pra dar a uma só pessoa, sem falar que ia cortar o barato de viver em um mundo de caos constante.
Me chamo Paul Durin, tenho 29 anos e trabalho como animador de festa infantil, vulgo palhaço, frentista e garçom. Segunda e terça tô no posto de conveniência botando gasolina nos veículos da galera, quarta e quinta me encontro no restaurante do seu Roberval e sexta/sábado me visto de palhaço. Talvez você se pergunte o porquê de eu ter três trampos, pois bem, eu preciso me sustentar é óbvio.
Eu não moro com meus pais desde os 23 anos, que foi quando meu pai teve um mal súbito e bateu as botas. Só restou eu e minha mãe. Foi nesse momento em que eu decidi me mudar, ir pro meu canto, tinha chegado a hora do passarinho alçar vôo e sair do ninho. Minha mãe, Anastácia, mostrou-se um pouco relutante, mas não por muito tempo, afinal, como ela mesmo disse esse dia era esperado.
Então peguei minhas coisas e me mandei. Fui. Dei de Pinote. Bati as asas e voei o mais longe que pude, indo parar na casa de meu tio que fica do outro lado do condomínio (Qualé, foi o que eu consegui naquele momento!) Eu não pensava muito em morar só quando estava com meus pais, mas as circunstâncias pós morte de meu pai me fez pensar sobre isso com mais afinco.
Meu tio, Osório, é gente boa e me ofereceu guarita e eu tive que aceitar, não queria voltar pra casa. Ele é o irmão mais novo de meu pai, na verdade, ele é o único (meus avós por parte de pai só tiveram dois filhos homens, presumo que tinham TV há -há- há!) Então passei a dividir o apê com ele.
VOCÊ ESTÁ LENDO
SOBRE PAUL
Short StoryPaul é um homem que conta sua história ou lapsos de sua vida. Desgarrado de quaisquer pensamentos fantasiosos, ele narra seus relatos com uma honestidade crua e sem rodeios.