UM POUCO DE FELICIDADE

51 24 119
                                    

Três meses haviam se passado e já não estava eu a ser atormentado pelas coisas que se sucederam. Não que eu tenha esquecido, obviamente que não se esquece de algo dessa natureza, mas eu estava seguindo em frente, afinal, a minha vida não poderia parar. Infelizmente, a saúde de minha mãe já não é como antes, na verdade ela piorou nos últimos meses. Isso somado com os eventos anteriores me fez ficar próximo dela. Tentei trazê-la para morar aqui comigo no apartamento, mas foi inútil. Então eu passei a visitá-la mais vezes e voltava pro apê duas vezes na semana. Nesse momento em que minha mãe estava, eu tive que levá-la ao médico mais vezes e…bem, consegui comprar a moto que tanto queria e necessitava. No meio disso, eu passei a valiar minha situação financeira e cheguei à conclusão que talvez eu devesse buscar uma formação, não faculdade porque nunca tive interesse e continuo na mesma. Queria algo que me  permitisse adquirir uma certificação relativamente rápida, então dei início à procura de um curso técnico.

Comecei a cursar técnico em segurança do trabalho, é uma área até que boa e não terei que ficar pegando no pesado. Dificilmente pode-se um homem mudar se este se encontrar em um cenário calmo e sem muitas dificuldades, coloque-o em um cenário totalmente contrário a este, turbulento e com muitas dificuldades e verá um homem forte nascer. Não serão todos que se mudariam, mas alguns sim. No meu caso não me encontro num cenário hostil e terrível, mas mesmo assim resolvi mudar a direção da minha vida mudando as minhas ações.

A cozinha estava uma zona, os cozinheiros indo para um lado à outro sem descanso e eu lá fora com os lobos famintos, correndo anotando os seus pedidos. Aqui no restaurante em dia de jogo é movimentado demais e eu fico louco como um pião sem parar um minuto.
—Ô meu amigo, e a comida ? Chega nunca ? Demora da molesta! - disse um babaca da mesa 08 que estava acompanhado com mais quatro debilóides.
—Já vai, amigo! Só mais um minuto! - Eu falo sem nem me dar o trabalho de olhar na cara.

Corro pra cozinha e pergunto ao Steve se o prato da mesa 04 já está pronto e ele me diz para ter paciência, o que eu logo o respondo dizendo que seria melhor ele dizer isso a elas e não à mim. Voltando ao campo de batalha, enquanto servia uma pitoresca família com seus hamburguês e batatas fritas, uma voz feminina me diz:
—Ei, Paul!

Eu me viro ligeiramente em direção a voz e vejo que a moça que me chamava estava acabando de chegar. Ela era mais ou menos da minha altura, com uns poucos centímetros a menos, cabelos negros longos até a base da cintura e olhos castanhos. Estava vestida com uma calça jeans, blusa preta com manga longa que deixava seu decote aparente de um jeito não ousado e um salto baixo preto.
—…a, oi… - Eu digo tentando buscar na memória quem ela poderia ser.

Ela se aproxima mais dizendo se chamar Manuela, o que logo me faz lembrar dela. Eu a cumprimento e perguntando como ela está, quando no fundo um dos cozinheiros grita o meu nome. Eu rapidamente me viro e  enquanto sigo até ele, digo-a para sentir-se à vontade para sentar e comer algo. Depois que entrego os dois pratos da mesa 04, vou até ela:
—E aí, o que gostaria de comer ? - Pergunto com o caderninho de pedidos na mão.
—Ah pode ser…não sei bem o que comer, alguma sugestão ? - Ela responde.
—Ok. Que tal uma lasanha de carne moída ao estilo do chefe ? - Eu falo com uma expressão sorridente.
—Pode ser. - Ela responde.

Com o pedido dela em mãos eu sigo até a cozinha e na volta passo na mesa dela e encosto na ponta da mesa, dou uma olhada ao redor e vejo que o clima deu uma leve suavizada.
—Agitado aqui hoje ? - Ela me pergunta ao mesmo tempo que seus olhos correm por todo o espaço do restaurante.
—Sim, mas nada que eu já não esteja acostumado. - Respondo.
—Ah que bom! - Ela responde.
—Então… você está mais sorridente que daquela vez… -falo.
—Ah sim, verdade. É porque eu acabei de participar de uma entrevista de emprego… - Ela diz.
—E como foi ? Gostaram de você ? - Pergunto.
—Bem, acho que sim pois me disseram que começo amanhã. - Ela responde, deixando nítido sua expressão de felicidade.
—Que maravilha! Parabéns! - Respondo retribuindo seu sorriso com outro.

Ouço me chamarem, então levanto e vou até a cozinha, pego dois pratos de macarrão com molho e levo para a mesa 08 onde se encontravam um casal. Ele era um homem de rosto largo, barba fechada e usava uma camisa polo listrada, a moça que lhe acompanhava, ao qual julguei ser sua namorada ou esposa, estava de vestido vermelho e em suas mãos encontrava-se três anéis distribuídos na mão esquerda e dois na direita. Depois de os servi, retorno para a cozinha onde o prato da Manuela já estava pronto. Levo até ela e digo-lhe que para comer tranquila que depois eu voltava para conversamos mais.

No final do expediente daquela noite eu e Manuela conversamos e acabamos marcando de sair para jantar –sem compromisso, foi o combinado– mas depois do jantar fomos nos vendo com mais frequência até o dia em que eu lhe pedi em namoro. Começamos a namorar e eu estava custando a crê que minha vida finalmente estava entrando no eixo, foi quando numa visita a minha mãe –que se encontrava internada já havia um mês– onde Manuela me acompanhava para conhecê-la, que eu recebo a triste e terrível notícia que minha querida e saudosa mãe já havia padecido. Eu fui ao chão com meu coração profundamente partido e cheio de tristeza.
Em minha mente eu me fazia à seguinte pergunta: "Poxa! Por que isso agora ? Por quê justamente agora que eu estava começando a ter um pouco de prazer na minha vida, isso vem e acontece ?!". Aquele dia foi o pior de toda minha vida.

Agora eu possuía a certeza que nada de tão importante pra mim poderia ser-me tirado. Nada. Nos próximos meses que se seguiram eu não estava mais trabalhando no restaurante do seu Manoel, no posto e já estava quase abandonando o trabalho de palhaço. Meu namoro me ajudou muito a passar por essa fase ao qual eu já acreditava quase veementemente que não tinha saída, mas Manuela se demonstrou uma mulher companheira demais. Depois de exatos cinco meses namorando nos casamos e fomos morar na casa que me ficou como herança –Manuela ficou um pouco relutante, já que pra ela morar na casa que fora de minha falecida mãe poderia me trazer de volta para o primeiro estágio do luto– porém, eu queria que meus filhos se criassem onde as minhas memórias afetivas mais importantes foram criadas.

Consegui terminar o curso técnico e agora trabalho numa grande empresa e com meu salário somado com de Manuela –agora minha esposa– vivemos uma vida bem confortável. Para não deixar o apê vazio eu o coloquei para alugar e agora uma mãe solteira com dois filhos moram lá, ainda faço participações em festas infantis vestido de palhaço (esse eu não vejo abandonando porque fazer as crianças darem risadas me faz bem, eu não sei bem como, mas faz). Manuela está grávida de uma menina e já estava combinado que seu nome seria o mesmo de minha mãe –Anastácia– ela queria que fosse "Lizzie", então decidimos dá um nome composto pra nossa filha, mas tivemos uma surpresa no pré natal: gêmeas. Iríamos ter gêmeas. Não consigo encontrar palavras pra descrever o quão feliz e surpreso ficamos com a notícia, Anastácia e Lizzie são os nomes dos meus tesouros.

Estamos planejando ir para o sítio dos avós da Manuela depois do nascimentos das meninas. É, acho que agora eu posso me considerar um homem feliz.

Fim.

SOBRE PAULOnde histórias criam vida. Descubra agora