UM ARCO-ÍRIS NO OLHO DO FURACÃO

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Haviam se passado três dias desde o ocorrido e eu inda não tinha digerido a situação, por isso fui passar uns dia na casa de minha mãe. Meu antigo quarto ainda estava vazio, do mesmo jeito que o deixei no dia que parti, isso me fez pensar que quando uma pessoa parte, o rastro de sua existência é facilmente apagada. Sim, eu sabia que aquele quarto era meu porquê eu estive lá mas, se fosse outra pessoa entrando naquele quarto e o observando do jeito que ele estava vazio, não iria saber quem o teria ocupado. Entende o que quero dizer ?! O que quero dizer com isso é que, qual valia podemos fazer de nossa vida se tudo o que fazemos ou construimos um dia deixará de existir ? O que hoje eu faço, amanhã terá outro o realizando. O que hoje eu construo, amanhã outro vem, derruba e constrói o seu. Ou seja, qualquer um é facilmente substituído. Só há uma coisa que nos remete e que ainda permanecerá por um bom tempo até desaparecer como os demais: nossos momentos com as pessoas que nos rodeiam, guardadas em suas lembranças. Curioso ver o quanto que momentos difíceis como esse em que me encontro agora nos faz pensar sobre certas questões que deixamos passar despercebido dia após dia.

Sabia que tinha que voltar para o apê, mas queria demorar mais. Minha mãe estava servindo de ombro amigo, que era o que eu precisava naquele momento. Continuei indo trabalhar, isso ocupava minha mente. Passei a andar mais com o Eduardo, ele é um cara legal, não é do tipo que fala aquilo que você espera, não é do tipo puxa saco. Durante nossos rolês eu tive certeza que podia contar com ele, espero que ele também pense o mesmo de mim. É, sei que tenho um único amigo, mas é verdadeiro e é isso que eu acho foda. Na época do colégio, via aqueles caras da minha sala que andavam como uma 'guangue', não digo isso porquê eles eram de má índole, mas sim pela quantidade de pessoas que faziam companhia uns aos outros. Hoje eu me pergunto se aquela galera toda ainda são amigos ou se pelo menos mantém contato entre si. Que seja! Estou muito bem sem eles! Ao passar dos dias, por mais que ela tentasse mascarar, pois ela é uma mulher forte, percebi que minha querida mãe já não andava muito bem de saúde. Foi durante uma manhã de sábado, eu estava no quintal capinando os matos que já estavam bem altos e quase se fundindo com o do vizinho, após uma machadada, olhei para a porta da cozinha e avistei minha mãe vindo me trazer uma limonada, ao passar da porta ela se apoia bruscamente com uma das mãos na parede, vendo isso eu vou rapidamente até ela:
—Mãe, a senhora está bem ? - Digo  enquanto a seguro pelos braços.
—Sim, filho! Não é nada, não precisa se preocupar! Tome, beba essa limonada que fiz pra você. -Ela diz dando um sorriso.

Ela entra e eu sigo fazendo o trabalho, mas não pude ignorar o que acabará de acontecer, isso me fez ficar ainda mais apreensivo e puto comigo mesmo, tipo, ok que minha cabeça ainda estava, ou melhor, está lidando com a situação do meu tio e de sua esposa mas, e minha mãe ? Se bem me lembro, foi ela quem mais ficou ao meu lado durante a vida inteira e foi bem compreensiva quanto a minha decisão de sair de casa, mesmo sabendo que ficar sozinha seria difícil.

Ao cair da noite, com o trabalho no quintal já feito, guardei as ferramentas e fui me banhar. Enquanto isso, na cozinha, minha querida mãe preparava a janta. Estava tão acostumado a ser gente grande que, durante o banho me veio a mente as lembranças de minha infância. De novo. Lembrei-me de que nessas horas, meu pai estava acabando de chegar do trabalho e como de costume, após adentrar em casa, ele seguia até a cozinha onde minha mãe se encontrava e a dava um beijo. Eu vinha correndo disparado do quarto para lhe dar um abraço caloroso, e ele me abraçava e dizia: "Fala filhão! Cuidou da casa na minha ausência?!" O que eu logo respondia: "Sim, pai, eu cuidei da casa e da mamãe!", ele me dava um sorriso largo e dizia: "Muito bem! Lembre-se de ser assim sempre!". Eu via aquila demonstração de amor que ele tinha para conosco e sentia que quando eu tivesse minha família, que eu a trataria da mesma forma como meu pai nos tratava. Meu pai não era um homem duro, apesar das vezes ter se demonstrado assim, apenas tinha seu jeito de ser, mas sabia ser afetuoso com sua família. De todas as lembranças que tenho dele, essa de certo é a que eu mais gosto. Não quero nunca perdê-la de mim.

SOBRE PAULOnde histórias criam vida. Descubra agora