A morte da sua esposa teve um peso enorme para ele, eu não sentia a dor dele, mas podia vê-lo sofrendo por ela. Ele realmente a amava. Me lembro de minha mãe contar sobre a história do meu tio e sua amada, ela disse que eles se conheceram ainda na juventude, parece ter sido amor à primeira vista (eu não acredito em amor à primeira vista, acho que mainha falou assim para deixar a história linda), enfim, apesar de ambos terem gostado um do outro já de cara, eles levaram quase um um amo para oficializar o namoro. Isso porquê meu tio (segundo mãe) tinha receio de pedir permissão aos pais de Célia (especificamente ao pai) para namorá-la. Até chegar o dia que meu tio criou coragem e pediu permissão, eles ficaram namorando escondido um bom tempo. Quando ouvi essa história pela primeira vez da minha mãe eu tinha por volta dos 10 anos e ficava imaginando se isso iria me acontecer. Não, não aconteceu. Se não estou enganado, tive uma namorada na época do colégio chamada Melissa, pele clara, cabelos escuros curtos na altura do pescoço e cacheados com uma franja também cacheada, seus olhos eram castanhos e sua altura 1,68. Engraçado foi a maneira como a pedi em namoro: escrevi uma carta na qual eu falava que gostava dela e que sempre ficava lhe olhando nas aulas (aliás, essa ara uma das razões das minhas notas baixas, há, há, há!) E que estava com algo para lhe falar. Não disse o que era e nem quem escreverá a carta, que se ela quisesse saber a identidade do autor daquela carta, que fosse até a quadra do colégio no fim da aula. Ela foi. Chegando lá, ela não demonstra surpresa nenhuma em me ver, alegando que já imaginava que era eu, pois já tinha notado os meus olhares nada discretos e termina a frase com uma risada bem singela. Namoramos por um tempo e o fim do namoro veio quando ela se mudou para outra cidade. É, eu fiquei numa bad miserável. Ela não foi a única namorada que tive, mas tinha algo nela que eu amava muito e não encontrei em nenhuma das garotas que namorei depois. O que era ? Eu não sei. Sério mesmo, não sei. Mas seja lá o que for, fez dela uma das minhas melhores lembranças. Voltando pra casa depois de um dia bem cansativo no restaurante, logo que chego na entrada do prédio avisto meio tio discutindo bêbado com uma vizinha. Intervi na discussão e o levei pra casa, assim que entramos no apê eu o acomodo no sofá. Lá mesmo ele dorme. Pela manhã, ao sair do quarto, vejo-o de pé e nem parecia que o mesmo tinha dormido (estava com olheiras bem visíveis) sento no outro sofá e o encarando pergunto se ele tinha alguma explicação a dá sobre o fato ocorrido, sem manter contato visual e semblante opaco ele se levanta e diz que vai se banhar. Isso me deixa bravo, levanto e digo em alto e bom som:
—ISSO NÃO VAI TRAZÊ-LA DE VOLTA!Ele entra no banheiro me ignorando completamente. Dou um suspiro e sigo até a cozinha, sento e tomo café. Depois de uns minutos, escuto a porta do banheiro se abrir, mas o chuveiro permanece ligado, achando isso estranho eu digo:
—Tio ? Tudo bem aí ? Tio ?E nada de resposta. Me levanto e sigo até o banheiro, vejo a porta aberta e nada do meu tio lá, nesse momento escuto um grito vindo de lá de fora, eu corro até a janela para ver o que era…e não queria acreditar no que vi, não queria mesmo. Desço as escadas feito um louco, um suor frio percorre meu corpo. Já embaixo, na rua, meus olhos me confirmam o que eu não queria acreditar estar vendo: meu tio morto no chão. Fiquei parado. Em pé. Estático. Sem consegui me mover. Mesmo assim, era notável a chegada das pessoas, todas em volta dele, fazendo um círculo.

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SOBRE PAUL
Cerita PendekPaul é um homem que conta sua história ou lapsos de sua vida. Desgarrado de quaisquer pensamentos fantasiosos, ele narra seus relatos com uma honestidade crua e sem rodeios.