EU, O PALHAÇO

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Pode parecer que estou sendo insensível (e talvez esteja mesmo), mas a ida de Célia não me abalou muito. Talvez porquê, de certa forma, eu estou sempre esperando algo de ruim acontecer na minha vida (inconcientemente ? Certamente).

Meu tio, por outro lado, não lidou bem com a situação, passou a andar de cabeça baixa, semblante de tristeza e passou a faltar no trabalho. Isso me deixou preocupado, queria poder fazer algo por ele, todavia não sabia como. Acabou que fiquei triste por ele e nas semanas que se seguiram o meu tio ocupava meus pensamentos sem cessar.

Enquanto me preparava para ir numa festa fazer papel de bobo (palhaço), me ocorreu a idéia de levar meu tio à algum lugar divertido, tentar fazer ele se distrair um pouco, só precisava saber onde que o levaria.

Na festa, muitas crianças me tacando torta, outras puxando minha calça,  algumas outras pedindo para lhes fazer balões…a mesma coisa de sempre. Após liberarem o pula-pula, as crianças me abandonaram e eu pude ir beber um pouco, não bebo na frente dos pais para não criar climão, então me dirijo a mesa dos copos e pego um, vou passando pela jarra de gym e taco o copo dentro e passo direto para o banheiro. Jogo rápido.

Lá eu bebo um gole, dois, três… até não restar nenhuma gota. Esses momentos no banheiro servem para mim como uma pausa da histeria dessas sugadoras de energia chamadas popularmente de "anjinhos". Enquanto me preparava para retornar, dou de cara com uma mulher na saída do banheiro, era uma das mães dos anjinhos.

Nos encaramos por uns instantes até que ela quebra o silêncio com:
— Não vai contar que me viu fumando aqui ou vai ? -Ela diz.

— Não, não vou. Você não vai dizer que me viu bebendo ou vai ? -Digo.

Olhando para o copo em minhas mãos ela diz:
— Não, não vou.

— Então eu também não vou contar. -Digo ao mesmo tempo que me apoio na parede.

— Sempre faz isso ? -Pergunta ela.

— Beber escondido ? Sim, sempre. Não curto fumar e ainda não encontrei outro jeito de relaxar nesses intervalos. -Digo isso olhando descaradamente seu decote.

Ela parece notar, mas não dá importância.

Durante alguns minutos o "silêncio" (estávamos sem falar, mas as crianças estavam fazendo muito barulho) perdura entre eu e ela.

Eu quebro o silêncio com uma pergunta:
— Está com algum problema ?

— Pergunta isso porquê estou fumando aqui longe das crianças ? Se for, sim, estou com alguns problemas. -Responde.

— É…problemas são um saco. Olhando esses pequenos eu me lembro de quando as coisas eram fáceis, até ficarem como estão hoje. -Eu falo.

— Imagino que seja um saco fazer isso. -Diz ela olhando para o chão enquanto libera a fumaça antes inalada.

— Isso o quê ? Me vestir de palhaço e brincar com elas ? Sim, é um saco. -Eu digo apontado ligeiramente com um movimento de cabeça para a direção do salão.

Nesse momento eu me dirijo na direção dela e me encosto na mesma parede em que ela está encostada. Ela levanta o olhar e fazemos contato visual. Meu olhar se desvia do dela e vai de encontro ao seu decote. Eu não sei se aquela era hora para aquilo, tendo em vista que meu tio, ou melhor,  a gente tava de luto.

Forçei-me a deixar esses pensamentos de lado. "Vamos viver o aqui e agora, Paul" disse eu para mim mesmo.

Ela passa a me olhar com certa malícia. Parecia que a mensagem tinha sido passada. Ela joga a bituca do cigarro no lixeiro e virando de costas:
— Vem! -Diz ela.

—Pra onde ? -Pergunto.

—Tem um lugar aqui que a gente pode usar! -Ela fala enquanto vai andando e olhando de um canto a outro.

Chegamos numa sala com à seguinte descrição "Depósito", que era onde se guardava os materiais pra festa. Ela entra, eu olho pra trás e faço o mesmo. Lá dentro estava uma bagunça.

—Vamos ser rápidos! Não queremos ser pegos, ok ? -Diz ela.

Já na sala, eu a pego pela cintura e nos beijamos com vontade, depois vou descendo pelo seu pescoço dando leves mordidas. Chego na calça, ela desabotoa e eu logo deixo-a só de calcinha. Calcinha rosa. Nos beijamos novamente, logo ela abaixa minhas calças e…bem, digamos que ela passou a 'hablar' com o outro palhaço.

Depois da trepada saímos da sala e nos separamos, ela pra um lado e eu pra outro. Retorno a festa e sigo com meu trabalho. Depois desse dia nunca mais a vi.

SOBRE PAULOnde histórias criam vida. Descubra agora