4. Lu

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27 de Maio de 2018

Sinto meu corpo sendo chacoalhado e uma voz me chamando no fundo do meu inconsciente.

— Acoda, mã! - Léo escalou meu corpo em uma tentativa desesperada de me acordar, e com seus dedinhos pequenos tentou abrir meus olhos. - Ábi olo!

— Não se acorda alguém assim, filho. - A risada escapou de minha boca e beijei a testa do pequeno.

— Igu fone mã. - O menino avisou.

— Igor?

Me inclinei pegando o corpo menor e colocando no chão e seguindo em direção à sala para pegar o telefone.

— Oi Igor, tudo certinho? - Pergunto um pouco apreensiva pela hora.

— Oi Tina, te liguei por ter surgido um imprevisto e hoje não vou poder ficar com o Léo.

— Tudo bem! Obrigada por me ligar, vou ver o que faço. De resto tá tudo ok?

— Tudo sim!

— Que bom! Vou desligar aqui para agilizar as coisas!

Desligo a ligação e me sento no sofá completamente sem ação por isso estar fora de meus planos.

Se eu levar o Léo talvez não consiga fazer os testes direito.

Não posso faltar mais uma consulta, isso iria atrasar tudo.

Fico perdida com minhas opções e por fim resolvo levar meu filho mesmo assim, afinal, não tenho muito o que fazer.

Depois de dar o café da manhã ao pequeno e tomar o meu, fui me arrumar e arrumar Léo. Saí um pouco apressada, pegando minha bolsa e as chaves, fui em direção ao meu carro e me lembrei de ter que trocar a bateria por estar falhando. Não iria conseguir usar o carro hoje. Suspiro frustrada. Nunca andei com ele de ônibus, isso vai ser uma verdadeira missão.

— Filho, fica um pouquinho aqui fora, tá bom? Mamãe já volta!

Volto em casa para pegar um tampão de ouvido e algum brinquedo para entretê-lo durante o trajeto.

— Pronto filhão, mamãe voltou! - Me abaixo para ficar de sua altura e arrumo os tampões nos seus ouvidos e dou seu spinner.

Pego na mãozinha dele e vou caminhando em direção ao ponto de ônibus, espero alguns minutos e não demora muito para chegar. Não está tão cheio, mas uma pequena quantidade já mexe com meu filho e por isso me sento no assento preferencial.

— Senhorita, com licença! Poderia se levantar?

— O que? - Enrugo a testa.

— Esse assento é preferencial e não te vejo grávida nem algo parecido, sua criança também não parece deficiente. Você é jovem, pode se sentar lá trás. - Fico incrédula com o que acabei de escutar e abraço bem meu filho em meu colo.

— Sinto lhe informar que a senhora está equivocada. Nem todas as deficiências são visíveis, meu filho é autista e se estou aqui é porque sei o que é melhor para ele!

— Ele não parece autista!

— Acho que é porque autismo não tem cara. Será?

Consigo observar o rosto da senhora mudar em uma feição bem feia e se afasta de mim finalmente. O resto do trajeto foi calmo e não demorou muito para chegarmos no nosso destino.

Com Léo no colo me sento na sala de espera observando novamente as cores do lugar.

— Este é seu filho Valentina? - A recepcionista perguntou simpática.

Estupidamente Atípica - ValuOnde histórias criam vida. Descubra agora