Pov Valentina
Uma semana se passou desde o episódio que Léo resolveu expor a própria mãe de graça para Luiza que eu não entendi mais nada de sua explicação depois que era autista, tanto por Léo ter confessado e depois pelo peso das palavras, aliás, ela falando daquela forma robusta me deixa até sem fôlego. Bufo frustrada! Como eu poderia ficar assim?
Resolvo mandar mensagem para Luiza e marcar uma nova consulta.Valentina: Bom dia Lu, como está? Eu sei que já acabaram os testes, queria saber se teria como eu marcar mais uma consulta sabe? Eu acabei me perdendo.
Após enviar a mensagem, aproveito que Léo está no seu sono profundo para terminar uns projetos, já que tenho que entregar umas encomendas hoje mesmo. Simplesmente amo fotografia, fico deslumbrada.
10:40am
Quando finalmente me desperto do meu trabalho, me dirijo a saída para acordar o Léo e me deparo com a cena mais ilustre da minha vida, meus olhos enchem de água. Eis que meu pequeno ser está deitado autorregulado assistindo seu novo hiperfoco Mister Maker, assim como eu, Léo é muito ligado à área de artes e é uma criança muito criativa. Muitos veriam só uma criança deitada, já eu vejo progresso... além de ter se coberto com seu cobertor pesado, pegou um brinquedo para ficar confortável.
Léo já passou por várias terapias e nenhuma foi tão eficaz. Desde lá venho oferecendo várias estratégias para meu filho se sentir o mais confortável possível, mas dificilmente acontecia, agora com 3 anos e meio tem sido mais frequente e eu fico babando com essas habilidades adquiridas com muito respeito e carinho.
Volto a caminhar calmamente pela sala para não distrair meu filho e sinto meu celular vibrar.
11:00am
Lu: Bom dia! Como tem passado os dias? Bom, você vai fazer algo hoje? Se me permitisse, estou te chamando para jantar.Meu Deus! O que é isso aqui? A Luiza tá me chamando para jantar??? Saio de um momento fofo com meu filho e vou para um ataque de gay panic com essa mulher me chamando para sair.
Valen: Na verdade, nada, mas não sei como Léo ficaria...- Invento uma mentira qualquer, ainda pensando na possível ética.
Lu: E se eu for depois que ele estiver dormindo? Você pode pô-lo na cama, aconchegá-lo, só iremos quando tiver certeza de que ele está bem.
Nunca imaginei Luiza sendo carinhosa assim e acabo cedendo.
— Igor, te devo uma por ficar com ele hoje. — Sorri para meu irmão.
— Que isso! Você merece esse vale night né. Desde que Léo nasceu que você não sai. — Igor falou convencido e com um sorriso no rosto. – O que é esse sorrisinho aí? Vocês vão só jantar?
— Claro que sim! — Mordi o interior da minha bochecha.
— Então tá bom, me conta como foi depois. — Disse por fim e nos despedimos.
Estou no espelho vendo meu reflexo; fiz uma maquiagem preta para combinar com o vestido da mesma cor até acima do joelho e por cima pus um blazer, estou calçando um coturno também preto e escolhi uma bolsinha pequena para guardar meus pertences. Estava pronta. Sorri satisfeita.
Confesso que a ansiedade me ajudou para a velocidade que me arrumei, já não estou conseguindo sustentar os sentimentos que sinto.
Meu celular apitou e meu coração errou a batida ao ver de quem era a mensagem.Lu: Tudo certinho? Devo chegar uns 20h, estou terminando umas coisas no trabalho para ir em casa me arrumar.
Valen: Oi, tá tudo bem sim! Não se preocupe.
Pego minhas chaves e me dirijo ao restaurante para me familiarizar com o ambiente antes dela chegar no horário marcado.
20:00pm
Luiza ainda não chegou e começo a sentir os primeiros sinais da rigidez cognitiva com horário, meu corpo começa a tensionar e automaticamente minhas pernas a balançar.
Consigo observar pelo canto dos olhos um dos seguranças presenciando meu desespero e me levanto correndo para fora dali.Pov Luiza
Chego no restaurante mais atrasada do que gostaria e não encontro nenhum sinal de Valentina. Vejo que tem algumas ligações, será que ela se abusou e foi embora?— Boa noite. — Falo sorridente com o maître do restaurante.
— Boa noite, senhorita! O que deseja?
— Você viu uma moça branca, 1, 67 de altura e cabelos negros?
— Observei ela passando um pouco mal, penso que foi embora. — Me desespero quando ele termina sua fala.
— Muito obrigada! — Digo por fim.
Ao sair do local vejo que o carro dela ainda está aqui, vou andando em passos rápidos até meu carro e me dirijo até sua casa, penso em um único local onde ela pode tá. Assim que chego ao destino consigo vê-la do carro sentada na porta abraçando as pernas e corro até ela.
— Valentina, me desculpe por hoje, por favor! — Mas não obtenho resposta, ela continua chorando de cabeça baixa.
— Ei, olha para mim, por favor! Eu não queria ter causado isso em você.
Valentina levanta seu rosto devagar, seu rosto branco está todo vermelhinho e seus olhinhos verdes pequenos. Não aguento vê-la assim, então toco o seu rosto suavemente, o virando em minha direção, tomando seus lábios em um beijo casto. Valentina logo dá passagem para minha língua e quando nossas línguas se misturam sinto de imediato um choque térmico, mas não por tanto tempo, nossas respirações ficam suaves assim como nosso beijo após ela tocar meu rosto com suas mãos guinando o mesmo.
À medida que o beijo vai parando nossos corpos vão se separando e finalmente vejo em seu rostinho um pouco com mais brilho.
— Valen me perdoe, eu precisei me atrasar, pois minha mãe me ligou desesperada quando estava no carro já dando partida. Eu tenho uma irmã autista nível 3 de suporte e ela estava precisando de mim, acabei me dispersando. Minha irmã é meu maior motivo para ser quem eu sou hoje, por isso me especializei em neuropsicologia aplicado em adultos autistas... - Dou uma pausa observando seu semblante calmo enquanto me olha atentamente. — Queria ajudá-la.
Pov Valentina
Luiza se apressou em me contar o motivo do seu atraso e eu lhe observo dos pés à cabeça, ela estava em um lindo vestido vermelho deixando suas costas nua, uma maquiagem que realçou seus olhos e um salto que valorizou totalmente seu bumbum.
É pedir demais essa mulher para mim?— Cê tá bem?
— T-o - Falo meio sem prestar atenção.
Luiza endireita seus olhos até os meus bem onde estão seus seios e se ajeita desconfortavelmente e eu coro instantaneamente.
— Quer entrar? - Falo procurando uma fuga da minha vergonha.
— Tá bom, vamos.
Ela se levanta e me ajuda a me colocar de pé, sigo em direção à entrada abrindo a porta e dando abertura.
— Mi casa, su casa!
Lu apenas continuou andando e se sentou no primeiro lugar que encontrou.
— Muito bonita sua casa, esse quadro do céu...
— Sim, mas e aí, quando você vai me convidar para um encontro decente? Você está me devendo um agora! - Luiza me olhou me estática e ficou me encarando.
— On-de? - Ela pergunta devagar como se ainda estivesse processando o que acabei de falar.
— Me surpreenda. - Dou um sorriso travesso.
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Estupidamente Atípica - Valu
Fiksi PenggemarApós seu filho ser diagnosticado com autismo, Valentina decide procurar uma neuropsicóloga ao descobrir que a maior causa do autismo é a genética, só não esperava ter hiperfoco nela.