Quando entrou no pequeno e confortável loft, onde morava a pouco mais de quatro meses, depois de sair do internato no qual passou os últimos dezesseis anos, ouviu o telefone tocar. Apenas a mãe tinha aquele número e por isso atendeu imediatamente.
_ Mãe? O que houve?
_ Sua mãe está um pouco indisposta hoje.
A voz rouca e fria causou um arrepio em sua coluna.
_ Marko... porque está me ligando do celular da minha mãe?
_ Está na hora de voltar para casa pequenina.
Não era um convite, mesmo assim tentou barganhar.
_ Estou terrivelmente ocupada. Podemos adiar essa visita para um momento mais oportuno?
_ Não sei se sua mãe vai resistir até lá.
Apavorada, pegou algumas coisas e jogou na mochila, saindo logo em seguida. Furiosa consigo mesma por ainda se importar. Mas era sua mãe! Acontecesse o que fosse, seria sempre a mãe querida que adorava mima-la quando era criança, enquanto o pai era vivo e durante algum tempo depois de sua morte... até Cortez entrar em suas vidas!
Marko Cortez casou com sua mãe pra ter acesso a ela, tinha 8 anos na época, ao se dar conta a mãe fez de tudo para protege-la, acabou mandando-a pra um internato dois anos depois, evitando que ele tivesse qualquer contato, ocultando-a de todos, para mante-la segura. Nem mesmo na dolescência pode voltar para casa, a mãe ia visita-la de tempos em tempos e conversavam por telefone as vezes. Helena era a única que tinha acesso a ela e somente ela poderia tira-la do colégio. Quando vinha visitá-la, a levava para passear e era com ansiedade que esperava por esses encontros. Até o dia em que fez quinze anos e a mãe a levou para um fim de semana especial. Sem que se desse conta Cortez a seguiu até o hotel onde se hospedaram, sem que nenhuma delas se desse conta. Kat estava sozinha na suite, enquanto a mãe relaxava no spa, iriam se encontrar mais tarde para jantar. Quando ouviu a batida na porta ela abriu sem titubear, pensando ser a mãe que esquecera a chave novamente.
_ Marko? O que faz aqui? indagou paralizada de choque
Fazia 5 anos desde que o viu pela última vez e como sempre, estremeceu ao encarar aquele rosto. Tinha algumas lembranças nebulosas, dele maltratando sua mãe e sentia verdadeiro pavor daquele homem desde os 8 anos.
_ Katerina... a quanto tempo. Você está mais linda do que eu me lembrava!
Ele entrou no quarto como se fosse dono do lugar, sem que ela oferecesse resistência. Antes que pudessem fazer qualquer coisa, a atirou sobre a cama, rasgando o fino robe que a cobria e colocando as mãos nojentas em seu corpo jovem e intocado.
_ Finalmente você vai ser minha pequena Kat! Eu esperei muitos anos por isso... tive de aturar a maldita da sua mãe... mas eu vou ser o primeiro a ter você.
Kat gritou e lutou de forma feroz, conseguindo se livrar dele por alguns segundos, suficientes para se trancar no banheiro. Cortez bateu e chutou, mas a porta não cedeu, então desistiu e se foi. Quando a mãe voltou para o quarto, Kate estava na cama e alegou um mal estar para evitar dar explicações a ela. Nunca contou a ela sobre o ocorrido. Rezou e esperou que a mãe deixasse aquele homem, mas isso nunca aconteceu. Mesmo assim, sempre acalentou a ideia de voltar para casa e por isso, durante uma das visitas de sua mãe, em um fim de semana fora do colégio, quando estava com dezessete anos, decidiu perder a virgindade com um garoto que conheceu na piscina do hotel onde se hospedavam. Pensou ser essa, a a única forma de se proteger da obsessão de seu padrasto por ela.
Porém nessa época sua mãe já se tornara alcoolatra e se afastou ainda mais, deixando claro que não iria leva-la para casa. Mesmo assim ainda se preocupa com ela, a mãe também era uma vítima daquele monstro. Agora já era uma mulher adulta e estava finalmente livre, pela primeira vez. Usou o dinheiro da conta que a mãe abriu para ela, mas na qual nunca tocou, por não queria usar o dinheiro maldito daquele homem. Mas não teve escolha, então alugou aquele lugar, após ter de deixar o internado ao completar 21 anos.
Depois de tantos anos longe imaginou que Cortez havia perdido o interesse, mas obviamente se enganara.
_ Venha para casa pequena Kat! o ouviu dizer antes de desligar
Sem escolha, Kate decidiu voltar para casa, muito preocupada com a mãe. Tentaria convencê-la a deixar aquele homem. Se tivesse de usar a pequena fortuna que viera dele e estava rendendo na conta em seu nome, usaria sem pestanejar, se fosse pra salvar a mãe. Não tocou no dinheiro, exceto aquela pequena quantia usada para se estabelecer fora do internato, pois sabia que deixaria rastro se o fizesse. Não queria correr o risco de receber outra visita inesperada do maldito. Sentia um nó na garganta ao descer do carro em frente a enorme mansão que sempre odiara.
_ É bom te-la de volta pequena Kat! foi Cortez quem a recebeu
_ Onde a minha mãe está?
_ Olha os modos garotinha.
_ Não sou mais uma garotinha Cortez, onde está a minha mãe? cortou irritada
O tapa a pegou de surpresa, lançando-a ao chão.
_ Nunca mais use esse tom comigo. avisou
Kate se levantou depressa afastando-se o maximo que pode.
_ A vagabunda bebada, bateu o carro e está no hospital... não acho que irá sobreviver. seu tom frio causou nauseas nela
Ela correu para fora, entrando no carro que também comprou com o dinheiro dele e saiu em disparada para o hospital.
A mãe estava realmente em um estado critico e os medicos não sabiam dizer se iria se recuperar. Kate ouviu tudo em silêncio e ao ficar sozinha chorou inconsolavel, sobre a mão morna e inerte da mãe.
_ O que eu vou fazer mamãe? Não posso voltar pra aquela casa e não posso deixar você desse jeito!
Mas não teve escolha.
Ao sair do quarto da mãe, Cortez a aguardava e segurando em seu braço com força, praticamente a arrastou para fora, obrigando-a a entrar em seu carro e levando-a de volta para a mansão.
_ Não pode me obrigar a ficar aqui! Eu quero ficar com a minha mãe. disse se recusando a sair do carro
_ Você prefere caminhar com suas proprias pernas ou que eu a arraste garotinha?
Como não obteve resposta ele a arrastou pelos cabelos, aos gritos e pontapés e só a soltou ao bater a porta atrás deles.
_ Se você vai se comportar como uma selvagem eu a tratarei como tal!
_ Mantenha suas mãos imundas longe de mim! gritou correndo para o antigo quarto
Cortez arrombou a porta com um chute.
_ Foi isso o que aprendeu durante esses anos todos naquele colégio caro? A agir como uma selvagem?
_ Você é o único selvagem aqui!
_ Ah, pequena Kat... eu vou gostar muito de doma-la!
Em dois passos ele a alcançou e tombaram juntos sobre a cama. Kate não lutou, ficou parada como uma boneca de pano, enquanto Cortez rasgava suas roupas e tocava sua pele arrepiada de asco.
_ Dessa vez eu terei o que eu quero... o que eu sempre quis.
_ Não, não terá. frisou encarando-o hostil _ Me livrei disso a muito tempo!
_ Está mentindo! disse soltando-a
_ Não estou. Você não será o primeiro... jamais daria essa satisfação a você.
_ Então você não me serve pra nada sua vagabunda!
Dessa vez o golpe quase a fez perder os sentidos, erguendo-a pelos cabelos novamente, ele a arrastou até o porão, onde a jogou no chão frio e trancando-a no escuro. Onde se encolheu, juntando o tecido rasgado sobre a pele arrepiada e chorando desesperadamente.