Capítulo 21

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   Ele coloca a mão em minha cabeça dolorida e faz um pequeno carinho, algo que me surpreende e me assusta. Minha cabeça latejava, a dor seguia percorrendo por todo o crânio me arrancando lágrimas.

- Vamos garota... Vamos para casa.

- Eu não quero... Por favor...- Digo baixinho chorando de dor.

  Mesmo implorando ele me pega nos braços e volta a caminhar comigo. Caminhamos por algum tempo, eu me encolhia nos braços grandes e "aconchegantes" que me carregavam. Eu tremia de frio enquanto observava o lobo. Sua forma estava bestial, não pude deixar de olhar seus olhos amarelados como ouro. Chegamos na cabana, a cabana do antigo caçador. Eu olho para a cabana velha e depois para ele, como se estivesse dizendo: "eu me recuso a voltar pra lá" 

  Mas não podia reclamar, ali era no mínimo quentinho, diferente da neve que caia aqui fora. 

  Adentramos a cabana, ele me leva até a poltrona velha e me coloca sentada sobre ela.

  Ele estava agindo de maneira gentil e isso me assustava um pouco. Ele me deixa sentada ali com minha cabeça dolorida. Ele sai da sala me deixando só. Sua ausência me trás uma sensação de "frio" como se estivesse abandonada e sozinha, oque me soa um pouco engraçado, já que preciso mata-lo. 

( Vou mata-lo, é pela minha avó, mas valeria a pena sujar as mãos de sangue?...isso a traria de volta?)

   O meu coração pesa e geme de dor. Desde aquele dia eu passei a ser distante...o que esta acontecendo comigo? oh deus...essa falta de amor não fez bem comigo.

   Eu dou uma leve observada pela sala. A poltrona é velha e tem alguns arranhões de garras, passo meus dedos por elas lentamente sentindo a textura. No centro á uma mesinha segurando um jornal e uns livros, em cima dela também contém um vasinho com flores amarelas, mas já estão mortas pelo tempo e pela falta de água, morreram sedentas.

   Ele adentra a sala, pega algumas lenhas e coloca na lareira que ficava de frente para nós, ele começa a ascender o fogo, a sala começa a esquentar lentamente, mas eu ainda tremia de frio.

   A enorme besta, que agora não passa de um homem com características animalescas, como seus olhos dourados e sua selvagem personalidade. Se aproxima segurando uma bolsa de gelo, ele se inclina sobre mim e eu posso sentir seu perfume amadeirado, ele pelo menos era cheiroso, mas sendo sincera, ele não era apenas isso, ele era uma criatura mística de outro mundo, como se tivesse vindo de um conto de terror.  Seus olhos dourados e sua beleza sombria e exorbitante eram encantadores de alguma forma e eu fazia certo esforço para não encara-lo.

- Por que esta me olhando assim?- Ele pegunta me encarando confuso.

  Minhas bochechas ganham um tom avermelhado.

- É-é...n-nada..- Balbucio envergonhada desviando o olhar.

  Com certa indelicadeza ele coloca a bolsa  de gelo em minha cabeça me fazendo chiar.

- Aí! cuidado!- Eu digo com um baixo gemido e uma expressão de dor.

- Você mereceu, me desobedeceu-  Ele diz com uma voz grave que me dá arrepios.

- Não é verdade! A culpa não é minha, você havia me mordido naquele dia e sem contar o fato de que me deixou sozinha, e eu odeio ficar sozinha.- Disse entre lágrimas.

- Eu te mordi por que você desobedeceu. Esta afirmando que precisa de minha supervisão para não fazer nada de errado e andar na linha?- Ele pergunta em um tom sarcástico e zombeteiro. 

-É c-claro que não!- Eu balbucio.

- Então eu prometo para a neném que vou ficar na próxima para colocar uma chupetinha na sua boca se for necessário- Ele diz irônico e sarcástico, com um lindo e perigoso sorrisinho, quem me dera se eu pudesse tirar aquele sorriso com um tapa.

-eu não sou um neném e não preciso de sua supervisão!

- Humm...certeza?  então já que você é tão responsável e não precisa de minha gentileza...não se importa se eu for eu mesmo não é? 

-o que quer dizer com isso?...-eu o encaro  confusa e com um grande grau de medo.

   Ele se afasta um pouco ficando em um lugar onde a luz do fogo que queima na lareira não pode alcança-lo, seu rosto estava escuro pela sombra, mas seus olhos brilhavam de uma forma intensa em cor de ouro, ele começa a ficar maior, sua postura bestial estava tomando conta do mesmo, ele fica alto e com o corpo robusto e cheio de músculos. Sua camisa se rasga, seus dentes brancos á mostra, não consigo velos direito, mas sei que são grandes, já senti eles uma vez.

   Eu já o havia visto se tornar na besta uma vez, mas agora era diferente. Ele era a própria personificação do mal e do perigo.

- O-oque ta f-fazendo?!-olho para ele assustada

    Ele toma sua forma aterrorizante rosna para mim como verdadeiro predador. Eu me alevanto com dificuldade por conta do medo. Ele de repente salta para cima de mim me agarrando com força, não com força o suficiente para quebrar meus ossos, mas força o suficiente para quase me sufocar. Eu solto um grito agudo cheio de terror. As orelhas do lobo se contraem, ele me tira do chão, ainda estava me abraçando. Ele abre sua mandíbula e age como se fosse engolir minha cabeça por inteiro, eu me deparo horrorizada com a visão de seus enormes dentes, eu chorava e me debatia em seus braços. O lobo fecha a mandíbula e me põe no chão, minhas pernas tremem e eu caio no chão tremendo e chorando de pavor.

   Ele rodeia a sala  passando pela escuridão e se transformando em sua forma humana e se aproxima lentamente. Ele se agacha ao meu lado.

- Horrorizada?- Ele pergunta sarcástico, como se fingir engolir minha cabeça fosse algo normal.

- Sim!- Digo chorando irritada.

 - Abaixe o tom de voz ou lhe darei outra mordida como aquela e farei questão de arrancar um grande pedaço!- Ele me pega no colo e me coloca na poltrona novamente. Ele pega a bolsa de gelo e me entrega. Eu pego a bolsa de gelo ainda tremendo, agora não era mais de frio, mas sim de adrenalina e medo. Eu coloco a bolsa de gelo em meu machucado o observando assustada. Ele se senta no chão perto da lareira, não estava longe de mim, mas não tão perto. Nós dois permanecemos em um silêncio desconfortável.

   Embora a lareira estivesse nos esquentando o frio ainda adentrava a sala, eu voltei a tremer de frio. Meu queixo bate um no outro por conta do frio e do acontecimento que me deixou com medo.

- Esta com frio?...

- Uhum...- Aceno com a cabeça. Era notório em meu rosto que eu estava abalada com toda a situação. 

  Em cima do sofá velho havia uma manta azul escura jogada, ele pega a manta e me cobre, seu toque não tinha mais a raiva de antes, mas também seu toque não era tão delicado quanto no momento em que ele havia me trazido para cá.

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