A Fuga No Escuro

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Com o coração aos saltos, Quaere destrancou a cela, temendo o que estava prestes a fazer.

— Cubra o rosto - disse o capitão à Logos.

— Mas assim não verei nada - a fada protestou.

— Eu vou te guiar para fora daqui, apenas confie em mim.

Lógos fez como solicitado, cobrindo-se completamente com o capuz do manto, e assim as masmorras voltaram à completa escuridão.

Quaere retirou a espada da bainha, pronto para qualquer ameaça, e segurou no braço de Lógos. Juntos subiram as escadas das masmorras, buscando sair daquele lugar claustrofóbico.

— Isso é loucura - disse Quaere, num sussuro, mais para si mesmo do que para sua companheira.

— Acho que este é o ato mais são de sua vida - Lógos replicou enquanto subiam.

Estavam quase saindo das masmorra quando um guarda os percebeu.

— Capitão? Quem está te acompanhando? - perguntou o guarda, pois não reconhecia o cheiro de Lógos.

— Estou levando esta para a punição.

— Não fomos informados - respondeu o guarda, desconfiado.

— Não é de sua competência questionar as ações de um capitão - disse Quaere, com a voz irritada - Agora desça às masmorra. Há prisioneiros que precisam de atenção.

— Está certo, senhor. Me desculpe.

Avançaram pelos corredores, seguindo para fora, e sempre que escutavam passos ou sentiam o mais suave cheiro de vagus ou aranhas, eles desviavam o caminho, entrando em salas vazias ou em corredores desertos.

— É horrível não poder enxergar - Lógos lamentou, com a voz abafada pelo capuz.

— Bem-vinda a Valescuro - Quaere respondeu.

Por mais que estivessem com medo de ser apanhados, no fundo sentiam que tudo daria certo. Sentiam que conseguiriam sair de Valescuro sem ter que enfrentar ninguém. Mas não sabiam o que estava acontecendo dentro do palácio.

Na sala do trono, pouco depois de o corvo ter devorado os guardas, Jornala retomou sua discussão com a rainha, insistindo que deviam se livrar logo da fada. Mas a Rainha Sombria estava temerosa. Fingira não ligar para o que Lógos lhe dissera, mas havia medo em seu coração.

"Quem mandou aquela fada aqui?" a rainha se perguntava. A chegada de Lógos só podia significar algo maior e perigoso para ela. Não queria se arriscar a machucar a mensageira e receber punição. Mas depois de uma longa discussão, Jornala a convenceu de que seria muito pior deixar a prisioneira se sentir segura.

— Mostre que não tememos nenhuma força superior - disse Jornala - Traga a mensageira aqui e a dê ao seu corvo.

Com isso Atlanta se decidiu. Mandou trazer a fada, mas quando os guardas chegaram às masmorras, não a encontraram. Vagus e aranhas voltaram correndo à presença da rainha, dizendo que Quaere a tinha libertado. Atlanta ficou irada e mandou as aranhas trazerem a mensageira de volta com o capitão, pois apenas elas conseguiam enxergar no escuro.

As aranhas correram pelo palácio e logo estavam do lado de fora, tomando as ruas à procura dos fugitivos.

— Tem alguma coisa errada - Quaere disse, apurando suas antenas para escutar.

— O que foi? - Lógos perguntou.

— Eles descobriram! - disse o capitão, com o pavor tomando conta de si - Estão vindo para cá!

Escutava o barulho de incontáveis patas correndo por todos os lados, e muitas estavam vindo em sua direção, e ainda estavam no meio de Valescuro. Quaere segurou firme no braço de Lógos e a fez correr apressada. Estavam ganhando distância quando Lógos tropeçou e caiu. O manto voou de suas costas e ela brilhou na escuridão, podendo ser vista de muito longe. Quaere ajudou Lógos a se levantar e a puxou para voltar a correr.

— Venha! - Lógos gritou, batendo as asas e levantando voo.

— Espere! - Quaere a chamou quando ela começou a ganhar distância - Não sei voar!

Lógos virou-se, cheia de incredulidade.

— Mas você tem asas! - ela protestou.

— Mas não sei voar! Nós não voamos em Valescuro. Nunca fui ensinado.

Cheia de dúvidas e medo, Lógos voltou para junto de Quaere e foi nesse momento que uma aranha os alcançou, saltando sobre eles de espada na mão. A aranha atacou Lógos, mas Quaere levantou sua própria lâmina e a defendeu. Lutaram com suas espadas, com golpes violentos, enquanto a aranha corria e saltava, totalmente sedenta de batalha. Mas Quaere era mais habilidoso, e acertou a aranha no peito, fazendo-a tombar.

Não houve tempo para sentir alívio, pois um momento depois uma dezena de aranhas os alcançaram e os cercaram. Elas riam e zombavam deles, e Quaere mantinha sua espada levantada, pronto para quem atacasse. Foi nesse momento que Lógos se colocou à sua frente.

— O que está fazendo? - o Quaere perguntou.

— Feche seus olhos, capitão - disse Lógos.

— O que?

— Confie em mim - a fada respondeu, com um sorriso confiante, e Quaere obedeceu.

Lógos voou acima das aranhas, abriu os braços e brilhou com uma intensidade tão grande que se assemelhava ao sol. As aranhas gritaram e se afastaram uma dúzia de passos, cegadas pela luz. Levou uma hora inteira para que conseguissem enxergar novamente, mas então os fugitivos já estavam longe de seu alcance.

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