As Terras Luminosas

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Mesmo com os olhos fechados, a luz que emanou de Lógos foi tão intensa que Quaere viu o brilho através das pálpebras. Quando voltou a abrir os olhos viu as aranhas caídas no chão, gritando e reclamando enquanto tapavam a face com as mãos. Depois disso correram. Correram como nunca. Tinham que alcançar os limites de Valescuros e deixar aquela escuridão para trás.

Então, quando suas pernas ardiam, seu coração ameaçava estourar no peito e não aguentava mais aquela fuga, a escuridão se tornou dia, e Quaere parou ofuscado pela luz. Piscou até que seus olhos se acostumaram, e então ficou sem palavras diante do que viu.

Havia tanta luz e cor fora de Valescuro. A grama e os arbustos balançavam com a brisa, com tons múltiplos de verde. Havia tantas flores que era impossível contar.

Quaere andou como se tivesse caído em um sonho. Ao longe via uma pequena aldeia que crescera junto a um pequeno córrego. As casas eram multicoloridas, e o reflexo do curso d'água fazia tudo dançar alegremente. Lógos havia sentado no chão, tentando recuperar o fôlego, mas Quaere não podia pensar em descansar agora; precisava ver tudo que o mundo oferecia. Quando olhou para cima percebeu o quanto o mundo era grande e bonito. As folhas das árvores restolhavam e o céu era uma maravilha azul, adornado com o branco das nuvens em movimento.

— Lógos... isso é tão bonito.

— Seu mundo é uma maravilha - Lógos concordou.

De repente, toda a alegria de ver a beleza do mundo se transformou em raiva. Que crime terrível fora feito a ele e ao seu povo, sendo mantido nas sombras por toda uma vida.

— Atlanta precisa pagar - disse Quaere - Tem que pagar. Meu povo não merece viver naquela escuridão quando há um mundo tão belo à nossa volta.

Lógos se levantou e ficou ao lado de Quaere.

— A escuridão de Valesperança não é culpa apenas de Atlanta, mas também de seu próprio povo. Mas eles já pagaram por seu erro por tempo demais, e agora a escuridão está prestes a alcançar toda a Floresta de Gaia, e não vai parar por aí.

— O que devemos fazer? - perguntou Quaere, determinado a ajudar.

— Vamos encontrar Heitor - disse Lógos - Ele precisa cumprir seu destino. Mas antes vamos resolver o problema de suas asas.

As próximas horas foram gastas com Lógos ajudando Quaere a voar. Tantos anos sem exercitá-las fez suas asas fracas e inábeis, mas alguns exercícios as ajudaram. Lógos sorriu e o incentivou assim que conseguiu sair do chão pela primeira vez, batendo as asas com esforço, e quando conseguiu voar por alguns metros, Quaere riu e abraçou Lógos, agradecendo por sua ajuda.

— Vamos àquela aldeia - disse Lógos após sentir que Quaere estava pronto - Precisamos buscar informações sobre o paradeiro de Heitor.

Seguiram caminho entre voos curtos e longas caminhadas, pois as asas de Quaere ainda não estavam fortes o suficiente para voar por todo o trajeto.

Por duas horas seguiram caminho desta forma e quando se aproximaram do povoado à beira do curso d'água, estavam exaustos. Seguiram pelas margens do córrego, e Quaere aproveitava o som e o brilho esverdeado das águas. A grama ali crescia alegre pela umidade e havia incontáveis flores multicoloridas que emprestavam sua beleza à paisagem.

Antes de entrarem no povoado se depararam com um grupo de crianças brincando às margens do córrego. Elas gritavam e riam, esparramando água para todos os lados. Quaere não conhecia aquelas espécies, mas eram filhotes de joaninhas, borboletas e grilos; as joaninhas e as borboletas em sua fase larval e os grilos em sua fase de ninfa se divertindo juntos. Quando viram Quaere e Lógos se aproximando, pararam a brincadeira e os olharam com curiosidade. Uma joaninha foi a primeira a se aproximar; a joaninha, curiosa com os estrangeiro.

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