4. Espelho Quebrado

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O resto do dia passou rápido, para o agrado de Valaena. Passara algumas horas com Rhaenyra, conversando sobre banalidades, e com Jace e Luke, relembrando algumas doces memórias de momentos que haviam vivido na Fortaleza Vermelha. Era tão criança naquele tempo, cheia de ideais e concepções imaturas. Acreditava que certas coisas seriam para sempre, que eram inquebráveis. Porém, nada era, apenas dependiam do impacto certo para se despedaçarem em mil estilhaços, sem chance de conserto.

Como um espelho quebrado. Não importava quantos cacos fossem recolhidos e colocados juntos, a imagem refletida nunca seria a mesma. Era assim que via seu relacionamento com Aemond, por exemplo. Apesar da triste constatação, Valaena sabia que não teria feito nada diferente. Seus olhos se fecharam brevemente ao sentir um aperto no peito devido às memórias, os gritos de Baela e Rhaena, o jeito que Aemond empurrara Jacaerys, enquanto ela própria implorava sem ser ouvida para que parassem.

Lucerys arrancara seu olho, mas ela havia deixado-o surpreso ao se virar contra ele e defender os irmãos, o suficiente para o pequeno Velaryon apanhar a faca do chão sorrateiramente e atingi-lo. Havia sido sua culpa, também. E, por aquilo, tinha certeza que Aemond nunca a perdoara. E como poderia? Se a situação fosse contrária, ela também não o faria.

Enquanto Rhaenyra trançava seus longos cabelos prateados, Valaena se deleitou no toque da mãe, permitindo que a cabeça caísse levemente para trás com um meio sorriso. Aquilo fez com que Rhaenyra risse levemente, beijando-a na testa com esmero.

Valaena sentiu o peito se aquecer, o amor pela mãe sempre a surpreendendo. Rhaenyra era e sempre seria uma mãe incrível. Se tivesse metade do carinho e do amor que sentia por Daemon e os filhos pelo povo, então seria uma grande rainha.

Ela se perguntava se seria um dia como a mãe. Uma grande mulher, perfeita em tudo que fazia. Lembrou-se então da forma que cuidava dos irmãos mais novos, e de quanto os amava. Aquele sentimento certamente não faltaria aos seus.

— Sua mente está longe — Rhaenyra apontou, e Valaena sentiu as bochechas corarem ao notar que a mãe falava com ela e era ignorada.

— Desculpe, mãe. Estava pensando no dia em que terei meus próprios filhos. Se serei como você. — Levou uma das mãos à barriga inconscientemente como que para ilustrar o pensamento, um meio sorriso distraído brincando em seus lábios.

— Não estou criando meus filhos para serem como eu, Laena. Estou criando vocês para serem melhores. — Rhaenyra acariciou sua bochecha com tanto amor em seus olhos que a emocionou, fazendo com que Valaena se virasse na cadeira e a abraçasse, encostando a cabeça em sua barriga com delicadeza, sentindo o bebê se mexer levemente lá dentro. Faltavam apenas algumas luas agora. Mais um Targaryen viria ao mundo.

— Ainda me amaria se eu a desobedecesse de maneira imperdoável, mãe? Perdoaria qualquer coisa que eu fizesse?

Rhaenyra franziu a testa, seu indicador levantando o queixo de Valaena para que a filha a encarasse.

— Isso é por causa de Aegon? Ou sua amizade perdida com Aemond também tem a ver? — Valaena perdeu o fôlego momentaneamente, seus olhos de corsa levemente arregalados.

Por fim, lembrou-se da conversa que tivera com Daemon mais cedo. Com certeza o padrasto havia levado o assunto para Rhaenyra do jeito venenoso que ele bem sabia como fazer.

— Daemon é um grande fofoqueiro.

— Daemon não precisou me dizer nada que eu já não imaginasse. Sou sua mãe, Laena. Conheço-lhe bem. — Valaena virou o rosto para evitar encará-la, suas bochechas esquentando. — Eu presumo, pela cena do almoço, que as coisas não estejam tão boas entre vocês três.

Blood And Oath - A HOTD FanficOnde histórias criam vida. Descubra agora