"Recado"

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Agora eu me encontro em uma situação meio embaraçosa, onde quero deixar o pai e o filho sozinhos para interagirem, mas meu namorado não quer ficar sozinho com o pai, e o pai dele quer me conhecer melhor, e estou começando a ficar constrangido...

  – Eu não quero atrapalhar o reencontro familiar de vocês e eu tenho que trabalhar, em uma próxima vez marcamos de sair.– digo trocando entre olhar nos olhos de alguém bem mais alto que eu e o César.

– Menino! Você já é da família, me conte como conquistou o coração do corcundinha do meu filho, ele te obrigou? Foi divida de jogo?– ele diz de forma bem humorada fazendo César fazer uma careta.

– To me arrependendo de deixar você conhecer o joui....– Diz baixo em um tom meio ameaçador, só meio igual o tamanho dele.

   Christopher me abraça passando o braço em meu ombro.

– Vamos menino! Me conte a quanto tempo vocês namoram, o pai aqui aceita!– De certa forma as palavras dele me causavam conforto, um conforto que nunca tive e tenho que segurar fortemente as lágrimas.

– Faz uns dois dias eu acho.– César disse em tom indiferente e corado.

– A gente tá namorando?– faço uma cara surpresa

– Você não falou que gostava de mim?– ele indaga nervoso me olhando de cima abaixo e eu sinto seu pai se afastar devagar de mim.

–Ah mais você não pediu.– uma expressão meio indignada surge em meu rosto.

  – Não sabia que era uma regra, ok? Eu tenho mesmo que falar "Joui namora comigo?"– a cada palavra que ele fala, ele cora mais e seu tom desesperado aumenta, o que torna tudo engraçado.

  –Sim?!

– Espera sim pra qual pergunta?

– Para a primeira, que merda de pedido né César. – Eu levanto a sobrancelha rindo enquanto o pai dele entra no nosso meio.

– Eu abençoo vocês, agora vocês são namorados, ok? Amém?

– Agora a gente se beija?– césar me olha confuso quase em desespero, o vermelho do rosto dele dando um contraste com o cabelo grande e bonito dele, até o pescoço dele estava vermelho.

– Não na frente do seu pai, né César pelo amor!

– Ah se beijem pra eu tirar uma foto bonitinha de vocês.– Christopher tira um celular bem velho do bolso.

– Eu só não vou julgar seu celular porque o do Joui é mais arcaico, quase uma relíquia. – Eu ponho a mão no peito ofendido

  Eu rio de toda a situação e me viro para Christopher.

– Pelo senhor ter estado muito tempo no exterior não deve estar com saudade das comidas típicas do Brasil? Porque não saímos para passear. –Digo sorridente e o pai de César me dá um tapa forte nos ombros me fazendo massagear o local pela dor.

– Isso aí menino! César ele é todo direitinho né? Você devia aprender com ele a ter uma coluna tão retinha.– César nos encarava com um certo desinteresse mas tinha um sorriso pequeno no rosto

[...]
  Enquanto caminhávamos na rua com Christopher fazendo perguntas um tanto desconfortáveis e César o repreendendo um carro vem em nossa direção e paralisamos. O primeiro a tomar rédea da situação e nos puxar foi Christopher, não fazia sentindo aquele carro vindo tão rapidamente em direção a calçada, o carro bate em um poste e quando olho mais profundamente o motorista estava morto, mas não pelo acidente, tinha uma faca cravada em sua cabeça e outra carta vermelha. César parece travado em choque enquanto Christopher analisa a carta com uma expressão meio assustadora, ele parecia reconhecer a carta... assim como eu.

Eu não contenho minhas emoções e caio no chão, aquilo obviamente foi um aviso de meu pai, se eu não voltasse ele ia machucar as pessoas em minha volta, mesmo que eu acabasse me machucando fisicamente também, sinto uma onda de choque e arrepios subirem pelo meu corpo enquanto estremeço no chão, minhas mãos ficando frias e meus olhos se encherem de lágrimas.

Christopher me encara com um olhar acolhedor e se abaixa em minha direção.

– Você parece reconhecer isso Joui... pode me disser por quê você conhece isso?– Ele diz em um tom sério, o que me fazia ter medo da montanha alto em minha frente, o velho que estava sempre rindo me encarava como se eu fosse um inimigo.

  César encara o pai e entra em minha frente se ajoelhando e me abraçando forte, não consigo conter minhas lágrimas escorrendo como se fosse uma criança, as lembranças do meu pai voltando como um chicote em minha pele, eu abraço forte César e ele passa as mãos em minhas costas.

– Não vê que ele está assustado? Podia ter um pouco de empatia!

As pessoas em volta começam a se reunir e logo ao longe dava pra escutar as sirenes de carros de polícia e ambulância, o barulho me fazia tremer mais, eram barulhos tão familiares, de um lado acolhedores me fazendo lembrar de Liz e Thiago... por outro lado, me lembrava do meu pai e eu observando um corpo que matamos ao longe.

Christopher olha bravo para César e grita de volta.

– Eu estou tentando te proteger! Fazer o papel de pai que eu não fiz! Se esse garoto conhece esse homem ele certamente é perigoso, você não sabe como o homem que mandou esse "recado" é, você acha que a cicatriz em meu rosto foi feita pelo meu trabalho de dublê?– Ele grita se levantando e puxando nós dois para um lugar seguro.

– Me desculpe senhor Christopher, não é minha culpa... eu não... eu não queria nada disso eu juro!– Minha voz saia falhada e desesperada, a memória de todas as vítimas que matei em minha cabeça, me lembrava que todos tinham família, pensar que meu pai podia tirar a vida de César era assustador, saber que ele quase matou Christopher fez uma onda de culpa subir em meu corpo. Saber que no passado se meu pai tivesse pedido pra eu matar esse homem a sangue frio ou tortura-lo me assusta, eu com certeza teria feito.    

   Christopher de certa forma me olha com um pouco de empatia e pena por ver meu estado e quando entramos em uma rua vazia ele me abraça, era um abraço caloroso de um pai, um amor que nunca tinha ganho na vida, mesmo sabendo que aquele homem me considerava um perigo para seu filho, e não sabe minha origem, somente sabendo que tenho os mesmos traços que o homem que mandou a carta, sabendo disso tudo... ele me abraçou forte como se visse através de mim. César ainda parecia meio chocado por ter visto aquele cara morto daquela forma, mas ele parecia aliviado por seu pai estar me tratando bem.

– Joui... você acha que seu pai te mandou um recado ou ele estava tentando te matar?– César indaga sério.

  – Foi um recado... de que eu preciso obedecer ele e eu não tenho escolha... – Seu pai me encarava chocado, ele já suspeitava que era filho daquele homem mas a confirmação disso foi chocante pra ele.

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⏰ Última atualização: Jun 06, 2023 ⏰

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