1.2 A biblioteca

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Zahfira sai do jardim da mansão, já convencida de que o seu tutor não virá, e vai em direção ao quarto da mãe, as palavras de Anne ainda ressoam em sua mente, e provavelmente a irão aborrecer pelo resto do dia.

No meio do caminho o som de vozes exaltadas chama sua atenção, elas vinham do escritório de seu pai, Zafira não contém a curiosidade e se aproxima na ponta dos pés.

Espiando pela brecha da porta ela vê seu pai do outro lado da mesa apontando para um mapa para o qual todos olham empolgados.

-Não se sabe até quando serão tolos o suficiente para continuarem mandando navios até Zulu, mas enquanto continuarem, temos carta branca para atacar e saquear aqueles vermes- Diolan dizia extasiado - E fora a porcentagem que me cabe, todo o resto continuará sendo dividido entre vocês como seu capitão achar mais adequado.

Os homens viraram se para o fundo da sala onde um homem mais alto e mais velho estava sentado fumando seu cachimbo despreocupadamente. Ele limitou-se a acenar com a cabeça para a afirmação do pai de Zahfira.

E todos se viraram novamente para Diolan, exceto ele, que virou para a porta e a viu espiando. A menina se assustou ao ser pega e afastou-se da porta como que por reflexo, e acabou esbarrando em alguém que passava no corredor.

-Cuidado meu bem.

Zahfira virou-se e sorriu constrangida.

-Desculpe mãe, eu estava...

-Sei o que estava fazendo - Ela sorriu com um ar conspiratório - Na sua idade eu também era cheia de curiosidades a respeito do trabalho dos adultos. Venha comigo.

Amina começou a andar em direção a biblioteca, e Zahfira foi atrás. As paredes eram todas adornadas de livros, pinturas e uma lareira que só era usada no inverno, no centro havia uma mesa com um jarro de flor que a própria mãe de Zahfira trocava regularmente, aquele era o lugar que mais parecia com ela em toda a casa, e talvez também o jardim. Amina sentou-se em uma das poltronas e sinalizou para que a filha se sentasse no sofá.

-Soube que o seu tutor não vem, e pelo que vi no jardim. Anne não estará muito disposta a acompanhá-la essa manhã.

Zahfira sentiu seu rosto esquentar de vergonha.

-Eu não tive culpa mãe, ela sempre faz isso, ela fala mal de mim, e como sabe que eu não ligo, fala mal de você - Zahfira sentia lágrimas nos olhos.

-E o que foi que ela disse?

-Eu não quero dizer - Zahfira olhou para o lado, secando rapidamente uma lágrima que tinha caído - Ela disse algo sobre papai ter tirado você da sarjeta - Zahfira diz a contragosto, cruzando os braços e balançando a cabeça.

Amina dá uma risada grave e sincera

-Ora, mas ela sabe que não é verdade. E você também deveria saber meu bem.

Amina se levanta da poltrona e se senta ao lado de Zahfira no sofá, solta seus cabelos que estavam presos em um coque para a aula de esgrima e começa a separá-lo para fazer uma trança.

-Deixar Zulu não foi uma decisão fácil, mas seu pai achou que assim que soubessem de nós, ficar lá seria arriscado para mim, vir para essa casa... para esse reino, foi a maior prova de amor que eu pude dar a Diolan.

-Mas você não se arrepende? Você era uma princesa lá.

-E aqui eu sou sua mãe.

Zahfira sorriu

-Diolan sempre foi um homem bom, um idealista, e eu também sempre quis conhecer outras terras, até viajei com ele algumas vezes, nós construímos nossos sonhos juntos, então não, eu não me arrependo. Talvez um dia, eu até volte para a minha terra, e você talvez veja com seus próprios olhos o motivo pelo qual nós carregamos com orgulho, os nossos traços e nossas cores.

-Tomara que seja logo! - Zahfira balançava as pernas e sorria olhando para a janela e imaginando todas as aventuras vividas pelos pais antes mesmo de ela existir.

-Precisa se mexer menos se quiser que a trança fique boa - Amina disse sorrindo, deliciada com a empolgação da filha.

ZahfiraOnde histórias criam vida. Descubra agora