Zahfira

3# Capitã

Havia uma lenda, de um ser sem alma, outrora garoa, agora tormenta, temor dos soldados, a morte afugenta. 

Pelas mãos do rei, perdeu quem amava, tornando-se agora, feroz e amarga. Terá sua vingança, assim diz a lenda, da mulher pirata, que a morte afugenta.

 BAÍA DE GALLIA 1720

A bordo do navio Perséfone, Zahfira contemplava, agora de longe, o porto de Gergovia, a sua antiga morada, mais uma vez pensando sobre a ironia de tudo aquilo. A filha de um nobre, agora era uma fora da lei.

"Você é um espírito livre Zahfira"

Foram algumas das últimas palavras que o pai disse a ela da última vez que se viram, antes de ele ser executado em praça pública. Ela mais uma vez se perguntava se era isso que ele iria querer para ela.

Caos era a melhor palavra para definir tudo o que havia vivido até ali. Cinco anos atrás, quando Ezus veio atrás de sua vingança e invadiu Gergovia com suas tropas, matando Sedah e tomando o reino para si, a vida que Zahfira conhecia foi totalmente destruída, sua mãe, que já estava doente, não suportou a morte de Diolan, e assim que sua condenação foi anunciada ela parecia ter desistido de lutar. Em seus últimos suspiros Amina olhava com afeto para a filha enquanto acariciava seu rosto.

"Me desculpe por não ficar para cuidar de você - ela disse – encontre seu novo lar meu bem, fique segura."

Zahfira foi tirada de seus devaneios quando um dos tripulantes anunciou que alguém se aproximava do navio.

-Onde está Rackham? - gritou um homem em um pequeno barco que se aproximava – Preciso falar com o capitão.

Zahfira se aproximou a estibordo.

Cinco anos em alto mar deram a ela alguma experiência a respeito de estranhos que se aproximam de navios piratas, ou era uma armadilha, ou algo muito importante, e não parecia ser a primeira opção.

-Rackham não virá a seu encontro, se precisa de uma capitã, fale comigo – Zahfira olhava para baixo com uma mistura de desdém e curiosidade.

- Você? Uma capitã? - ele disse, agora já estava mais próximo a proa do navio.

Zahfira imediatamente perdeu a paciência. Ela se recusava a usar o chapéu ridículo de Rackham, preferia deixar seus cabelos livres. Ela agora estava mais imponente, com adereços de ouro presos aos dreads no seu cabelo, com botas feitas do melhor couro do reino e sempre acompanhada de sua espada e sua arma de fogo. Se isso não era parecer uma capitã ela não sabia mais o que era.

-Escuta aqui seu verme, quem você pensa que é para se aproximar do meu navio e ficar aí fazendo exigências - Zahfira fala mais alto agora – Suba agora mesmo ou em mando meus homens atearem foco a esse seu barquinho.

A tripulação parece ter ficado contente com a ideia, mas o homem logo concordou em subir.

Ele usava uma capa azul, a cor era desbotada, mas havia pequenas linhas bordadas na bainha do capuz, se vestia de maneira desleixada, que contrastava com a capa. Ao subir a bordo, ele se dirigiu a Zahfira.

-Fui informado que a tripulação do Perséfone busca vingar nosso reino, e que paga bem por informações valiosas.

-Continue – disse Zahfira de braços cruzados.

-Bem - ele agora falava de cabeça baixa – Como sabem, Ezus está de volta ao reino... mas eu fui informado de que ele está a caminho do castelo de Milldren.

Zahfira imediatamente descruzou os braços

-O que disse?

-Sim, ele irá por terra, consequentemente com menos soldados, e ficará no castelo de Milldren por alguns dias.

Ouviu-se o murmúrio da tripulação do Perséfone, todos discutindo sobre o significado daquilo.

-Prendam-no! - Zahfira proferiu em voz alta e os piratas mais próximos agarraram o estranho pelos braços.

-O que? - ele esbravejou - Não pode fazer isso.

-É claro que posso, esse é o meu navio – ela riu – Além do mais, se sua dica for uma furada você terá um fim bastante desagradável, caso seja verdade, aí então você terá o seu ouro. Até lá, desfrute da nossa cela.  

Ela se virou e os dois piratas levaram o homem para a cela enquanto ele lutava, em vão, para se soltar. 

Zahfira esperou a tripulação se reunir e, do leme, preparou-se para dar as ordens. 

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Continua...