2.2 Feridas

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[...]

Rei Ezus planeja uma vingança, contra todos os danos causados a ele pelos ataques autorizados pelo nosso reino contra suas tropas marítimas. Você deve saber que, depois do Rei Sedah, Rackham e eu somos os principais alvos da ira de Ezus.

...

Zahfira sabia de todos os perigos envolvendo as atividades do pai, sabia também de Rackham, o homem que a viu espiando naquela manhã de anos atrás. Sua mãe havia contado a ela sobre os feitos do corajoso capitão do navio Perséfone. Mas por que, depois de todos aqueles anos, apenas agora seu pai parecia preocupado com as consequências de seu ofício?

-O melhor a fazer é investigar isso a fundo, e talvez seja melhor que eu esteja longe de vocês caso algo venha mesmo a acontecer.

Mal ele havia acabado de falar quando se ouviu um estrondo vindo do andar de baixo, seguido de uma grande algazarra. Os dois se olharam assustados e correram em direção a porta do escritório.

Ao abrir a porta, Diolan viu seis guardas reais vindo em sua direção, virou-se imediatamente e trancou Zahfira no escritório. Ela ainda assustada demorou alguns segundos para compreender o que estava acontecendo.

E então entendeu.

A vingança de Ezus já estava em decurso, Sedah provavelmente estava morto, e seu pai seguiria o mesmo destino.

Zahfira se jogou contra a porta e gritou para que alguém abrisse, sem sucesso apenas pôde ouvir o som de coisas se quebrando pelos corredores da mansão. Aquilo era loucura, o pai não podia lutar contra tantos guardas, ela tinha que ajudar.

Zahfira mediu a altura da janela, estava no segundo andar, seu coração estava acelerado no peito, ela estava tremendo, não sabia o que viria a seguir, quais as consequências que a esperavam no próximo segundo.

Se agarrou a ao parapeito da janela tentando ficar mais próxima do chão e soltou, sentiu uma pontada intensa nos pés ao cair, mas a adrenalina a impediu de parar. Deu a volta na casa e pela janela da lateral pôde ver os empregados correndo assustados enquanto sua mãe avançava contra um dos guardas com uma espada.

Amina, que deveria estar deitada em repouso, estava agora usado o que tinha de força para defender sua casa. Zahfira entrou em pânico ao ver sua mãe ser derrubada no chão pelo golpe de um dos soldados e correu para socorrê-la.

-Já chega! - Gritou Diolan ao ver sua esposa caída.

Ele soltou sua espada e estendeu as mãos em sinal de rendição.

-Me desculpe minha princesa, eu não deveria ter lutado, você não deveria ter que passar por isso - ele dizia enquanto um guarda prendia suas mãos e o empurrava para fora.

Amina se reergueu e avançou mais uma vez

-Não podem fazer isso! Esse é o nosso reino, não podem levá-lo.

Zahfira fazia um enorme esforço para segurar a mãe e impedir que ela acabasse sendo ferida por um dos guardas. Até que ela caiu de joelhos e buscou refúgio no colo da filha.

-Não podem levá-lo, não podem - repetiu aos prantos.

Ambas sabiam o que aconteceria em seguida, mas Zahfira se recusava a acreditar, não sabia o que pensar, não sabia como consolar a mãe, cujos gritos agora eram lamúrias incessantes. Ao olhar para Amina percebeu que ela sangrava, e tinha algumas marcas roxas. Novamente em pânico, Zahfira levou a mãe para o quarto e correu para a cozinha em busca de água e panos limpos. Não encontrou mais nenhum dos empregados, e provavelmente nunca mais os veria, pensou enquanto corria de volta para o quarto da mãe.

As lágrimas desciam pelos olhos de Zahfira, enquanto ela limpava os ferimentos de sua, agora estática, mãe. Naquela noite nenhuma das duas dormiu.

ZahfiraOnde histórias criam vida. Descubra agora