Capítulo 3 - Eu Vou Pro Céu?

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1

Samantha não conseguia dormir. Toda vez que fechava os olhos ela via o filho, ou a arma, ou olhos de giz, ou...

(Eu vou pro céu?)

Aquele inferno...

Demorou algumas horas (que pareceram dias) para que lhe trouxessem comida. Ela ouviu o som de correntes e um homem esbelto com olhos roxos em uma máscara de abutre rachada deixou um prato de macarrão com almondegas. "A Bruxa disse que esse era o seu prato favorito", ele disse.

O prato era grande, com a borda limpíssima sem uma mancha do molho de tomate e tinha uma folha de alguma coisa em cima do macarrão. Parecia preparado por um chefe em um restaurante chique.

Ela fitou o prato e olhou para o abutre, ainda na porta.

- E se eu fizer greve de fome? - ela perguntou.

- Para? - Sua voz era grave, mas ela ainda achava que ele tinha menos de 28 anos. Talvez 26?

- Para trazerem meu filho de volta, igual fizeram comigo!

- Creio que morrer de fome é mesmo um bom jeito de encontrar ele. Vai comer?

Ela olhou o prato.

- Não - ela disse.

Ele pegou o prato, saiu e fechou a porta. Samantha voltou ao canto, beliscando os lábios. Ela pôde ouvi-lo entrando na outra cela, oferecendo a comida e sendo atacado.

Ele esfaqueou o outro garoto com um cutelo como se fosse apenas mais um pedaço de carne.


2

O Cozinheiro continuou voltando, mas Samantha não tinha fome ou apetite. Foi em algum momento durante o segundo ou terceiro dia (era difícil saber quando não se via Sol talvez ainda fosse o primeiro dia) que ela acabou aceitando um prato. Foi também nesse dia que ela respondeu pela primeira vez nosso amigo Jhonny, na cela do outro lado.

Tudo começou quando ele achou uma substância arenosa e sólida atrás de sua cama. Ele não teve dúvidas: era terra. Ele começou a cavar com as mãos, escondendo a terra debaixo do colchão. Sua sorte foi o atraso do cozinheiro naquele dia.

A cama revelou a terra, a terra revelou o buraco e o buraco revelou esperança e um futuro calo depois de engatinhar por 6 segundos e dar de cabeça com um grande pedaço de pedra que disse "Ai" para Samantha.

Ela puxou a cama, encontrou o pedregulho e o forçou para fora, encontrando a fonte do "Ai".

- Oi! Eu sabia que tinha alguém...

- Tchau - disse ela, fechando de novo o buraco.


3

Foi apenas de relance, mas ele pôde ver o rosto dela. Ele não lembrou de imediato, mas depois sua mente - ou melhor, consciência - o acordou em um estalar de dedos.

Você matou o filho dela. Ela disse. Você matou ela e o filho dela.

- Droga... - ele disse, ainda no buraco, caído para trás.

Ele se lembrava de ter visto um filme aonde um prisioneiro descobria um buraco na sua cela que levava até a cela de outro prisioneiro. No filme eles se tornavam grandes amigos e bolavam um plano para escapar juntos.

Se o Fim Não Fosse o PiorOnde histórias criam vida. Descubra agora