Segundo capítulo

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Aquela não foi uma noite qualquer. Depois de conversarem por bastante tempo no bar e quase serem expulsas porque já passava das três da manhã, elas caminharam lentamente até o carro de Miranda e prolongaram a despedida. Elas não admitiriam tão facilmente, mas gostaram demais da companhia para ter que terminar daquela forma e nunca mais trocarem uma palavra ou saberem como a outra está. Sendo assim, Miranda a convidou para o hotel onde estava hospedada, ignorando completamente seu cansaço.

Era um lugar luxuoso ao qual Andrea não estava habituada e, muito provavelmente, apenas um dos lustres do hall pagaria seu financiamento estudantil. O quarto era praticamente do tamanho do seu apartamento, ou até maior, e tinha uma banheira tão grande que ela pensou que poderia facilmente nadar. Querendo ou não, alcançar aquele patamar era um dos motivos de investir tanto em suas aulas de canto e seus shows, mesmo que pequenos.

Ela não era ruim no que fazia e tinha ciência disso, mas precisava melhorar muito se quisesse fazer sucesso. Tocar nas ruas, na porta de estabelecimentos, boates e bares de esquina não era o futuro que queria, então todas as economias que conseguia trabalhando de garçonete ou babá eram voltadas exclusivamente para seus estudos e aprimoramentos.

— E desde quando você sonha em ser uma cantora famosa?

Andrea mostrou seu grande sorriso quando Miranda quis saber mais sobre sua vida. Era a primeira vez que ia para algum lugar reservado com uma mulher tão bonita e não transavam. Era interessante e, ao mesmo tempo, intrigante. Ela gostava disso.

— Desde o dia em que cantei no chuveiro e minha mãe disse que eu "até que tinha afinação".

Miranda observava Andrea com certa admiração. A jovem tinha um brilho diferente nos olhos, especialmente quando falava sobre sua carreira e seus sonhos. Era agradável ver alguém tão disposto a seguir minimamente cada passo traçado para alcançar seus objetivos.

— Posso dizer que concordo.

— Eu melhorei muito, tá bom?! — Andrea riu com a resposta de Miranda, mas entendendo nas entrelinhas que era um elogio.

— Eu sei que sim. Mas não sei se ouvi o suficiente para chegar à uma conclusão.

— Esse é um pedido subentendido para que eu cante pra você?

— Talvez...

Mas não era somente Andrea que sorria com os olhos. Há muito tempo, muito tempo mesmo, Miranda não se via tão à vontade com alguém, principalmente alguém desconhecido. Ela sentia que podia falar sobre tudo com Andrea e não seria julgada. Era exatamente o tipo de coisa que precisava para espairecer e esquecer tudo sobre sua vida.

— Quem sabe outra hora. O que eu quero fazer agora... É te beijar.

Elas estavam na imensa cama do hotel, ambas vestindo os roupões aconchegantes e caros. Apesar de não terem feito nada além de rir e conversar, estava frio e chovendo, então procuraram sentir-se confortáveis. Pediram vinho e alguns petiscos, como morango, queijo e coisas de gente rica que não me compete explicar. Miranda estava sentada com as costas encostadas na cabeceira e com as pernas esticadas e cruzadas uma sobre a outra. Andrea, por sua vez, estava deitada mais próxima dos pés da cama. Ela tinha feito um coque no cabelo preto que, àquela altura, já estava bastante bagunçado, e mantinha os olhos atentos em cada movimento de Miranda.

— E o que está esperando para fazer o que quer?

Andrea foi bastante sincera em suas palavras. Ela estava esperando para repetir o beijo do bar desde o momento em que entraram naquela suíte. Na realidade, foi bastante difícil se controlar no carro, no elevador e até então.

Actually, you belong to me. [Mirandy]Onde histórias criam vida. Descubra agora