Sétimo capítulo

353 45 8
                                    

Não se pode negar um sentimento. Muito menos escondê-lo. Ainda que não seja expressado em palavras, a linguagem corporal não nos deixa mentir ou omitir. Veja um exemplo: Andrea não conseguia parar de sorrir depois de encontrar Miranda no café e ser tratada de forma tão natural e carinhosa. Ou depois da conversa na Cartier. Ela chegou à conclusão silenciosa de que Miranda prezava por seu bem-estar e até abriu mão de um desejo para lhe ver bem. Andrea não podia negar que isso aquecia seu coração.

Miranda, mesmo não entendendo o que era aquela inquietude em seu peito, estava contente por ter se encontrado com alguém como Andrea num lugar tão improvável. Ela nunca imaginou que algo como aquela relação, mesmo que se tornasse apenas uma nova amizade, surgisse de um passeio aleatório de carro por ruas desconhecidas de Los Angeles. Era cética e se recusava a acreditar que destino existe, mas aquilo entre as duas era algo. Algo diferente e satisfatoriamente acolhedor.

— Andy, o que ela fez não é pouco. Pelo que contou, ela estava feliz por te levar a um restaurante. Aliás, o restaurante favorito dela. Mudar para um jantar no hotel, com certeza, é algo grande. Significa que ela leva em consideração os seus sentimentos e seu conforto. Isso é...

— Amor! — Doug disse, exasperado, chamando a atenção das duas. — Ela te ama, Andrea!!!

Andrea riu e balançou negativamente a cabeça, levantando-se do seu sofá para pegar um copo d'água na cozinha.

— Não seja emocionado, Doug. Nos conhecemos há menos de um dia. Ela só... Quis ser gentil.

— Bom, gentileza ou não, foi legal da parte dela! — Lili respondeu também se levantando e dando de ombros. Não entraria no mérito de amor à primeira vista com a amiga outra vez, pois sabia que Andrea não acreditava nenhum pouco naquilo.

Todos sorriam e viajaram instantaneamente para o mundo dos pensamentos. Andrea, encostada na pia da cozinha com o copo parado no meio do caminho até a boca, pensava no que tudo aquilo podia significar. Era surreal demais para uma vida tão sem emoções quanto a sua. Era bom, claro. Não podia negar. Miranda é uma mulher incrível! O sexo foi de outro mundo, algo como ela nunca experimentou antes. A conversa era agradável, animadora e, de forma alguma, unilateral. Não era, nem de longe, um monólogo. Ambas expressavam seus pensamentos, suas crenças, seus sonhos, mesmo que até aquele ponto não conhecesse Miranda como todos.

— O papo está bom, mas você precisa se arrumar, Andy. Vem. — Lili fez sinal com a mão para que fossem até o quarto. Andrea já havia tomado banho e secado seu longo cabelo, o que tomou boa parte do seu tempo. Lili agora insistia que iria maquiá-la, mesmo que fosse apenas um blush e um rímel, e Andrea não quis desapontar a amiga. Ela não gostava tanto de maquiagem, isso era inegável, mas se sentia bem por se aprontar melhor para encontrar Miranda.

— Já que você não vai mesmo desistir...

— De forma alguma, minha querida. É hoje que você faz Miranda Priestly nunca mais te esquecer.

— Tenho outros meios para conquistá-la. — Andrea sorriu, travessa, e fez os amigos bufarem e reclamarem.

— Não precisa esfregar na nossa cara que você transou como se não houvesse amanhã.

— Mas essa é a verdade. E vou transar novamente essa noite.

— Você é insuportável!

Andrea riu, se divertindo, e suspirou enquanto se encarava através do espelho da sua antiga penteadeira. Mal podia esperar pela hora em que veria Miranda outra vez.

— Eu nunca te vi tão nervosa na escolha de um vestido. Nem quando foi nomeada editora-chefe da Runway.

Actually, you belong to me. [Mirandy]Onde histórias criam vida. Descubra agora