Capítulo 34

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Nunca imaginei que aquela conversa seria convertida em meios insultos por ambas as partes. Onde eu estava com a cabeça para chama-lo de nerd e alien? Uma ação totalmente idiota e imatura. E claro a retribuição de Ben com "patricinha" e "bruxa", foi mais que merecido. E por mais que eu concordasse com ele, ser chamada de bruxa não era tão animador. Bruxas até podiam ser do bem, eu sei, mas não acreditava que era a isso que ele se referia.

Para manter os cacos da minha dignidade o mais agrupados possível, apenas saí de lá. E vim parar sentada na praia com o desânimo de 30 Perséfones no Tártaro.

Brincar com Millie me animou um pouco. Montamos um castelo de areia, a enterrei para desenhar uma calda de sereia no monte sobre suas pernas, e ela correu para água com a mãe em seguida.

Me sentei com Dennis em uma toalha sob um guarda sol. O menino era o sinônimo de quieto e impassível quando estava com um videogame nas mãos, mas quando Karl roubou o aparelho portátil e correu, eu nunca vi uma criança tão sedenta em extinguir a humanidade da face da terra.

Três voltas ao redor de mim depois, Dennis se jogou em cima do tio, que fingiu cair e despencou na areia.

— Fui derrotado — Karl gritou.

— Vitória! — Dennis comemorou – um tanto maquiavélico.

Coberto de areia, o mais novo concordou em nadar com os pais e com a irmã, e Karl veio se sentar ao meu lado.

Eu e ele não tínhamos conversado direito desde a minha suposta amnésia alcóolica. Culpa minha é claro, porque ver Karl me lembrava constantemente da minha mentira.

Inconscientemente, olhei na direção da casa, onde podia ver as pernas de Ben estiradas na espreguiçadeira distante.

— Ele tá ranzinza a semana inteira. — Embora Karl olhasse para os gêmeos na água, eu soube que estava falando de Ben. — Recebo resmungos e olhares feios toda vez que eu abro a boca.

— Será que é por minha causa? — Abaixei o olhar para meus pés, remexendo a areia branca.

Não tentei me fazer de desentendida, não fazia muito o meu feitio e eu só era boa nisso quando empenhava uma quantidade absurda de sarcasmo junto a falsidade.

— O que você fez de errado? — Karl me olhou de esguelha como naquela manhã na cozinha.

— Eu? Nada. Não fiz nada. — A minha reação desesperada não era muito convincente. E, pelos deuses, eu estava praticamente me entregando como culpada. Contei dois segundos antes de acrescentar com mais calma: — Mas se algo ruim acontece, provavelmente a culpa é minha.

Ele deu uma risadinha, e se apoiou com as mãos para trás na toalha.

— Isso é verdade — Karl gracejou, mas sua expressão de divertimento foi se dissipando até estar apenas concentrado no teto azul do guarda sol. — Ele deve estar chateado porque você esqueceu do beijo.

— O quê? — Congelei, sentindo um arrepio friolento me inundar.

Com um sorrisinho cínico e um olhar impertinente, ele virou o rosto para mim.

— Eu sei que você lembra.

Pelo visto, nem mentir eu sabia fazer direito – que decepção.

Parando para pensar bem agora, ninguém tentou me lembrar do que aconteceu. Karl aceitara a minha palavra muito fácil. Ben não viera atrás de mim, e nem os meninos ou Trisha tocaram no assunto. Se alguém tivesse comentado "Você beijou o Ben", eu teria que admitir ou pelo menos fingir surpresa, mas sequer fizeram isso, o que me enterrou mais ainda na minha inverdade.

Singularidades de um Amor (sem cerimônias) ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora