Capítulo 20

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Depois que a Kate foi embora, eu até tive o meu banho quente, mas o devido sono não veio, embora a cama fosse sim macia e decente. O cheiro da comida sendo feita invadiu minhas narinas e chamou atenção do meu estômago. Oh, sim, eu precisava comer alguma coisa pra já.

Como eu suspeitava, Bia estava na cozinha, fazendo algo digno dos deuses. E espiar dentro das panelas era praticamente uma obrigação. Só que ela tinha outros planos para mim.

— Não deixe que aquele fanfarrão vomite no meu sofá — ela me intimou, transferindo assim a responsabilidade de vigiar o caçula, vulgo "fanfarrão", mas eu sabia que a ordem tinha mais a ver comigo roubando comida toda vez que ela me dava as costas.

Eu poderia insistir um pouco mais, oferecer ajuda e pelo menos tomar o café da manhã, mas pela expressão fechada de Bia, sabia que estava chateadíssima com a gente. Então, antes de sair dali, caminhei até ela, lhe dando um beijo no rosto. Ela sorriu, e eu aproveitei a oportunidade para afanar um pão de alho na forma mais próxima. E isso me rendeu um "Pra fora" bem alto.

Karl estava esparramado no sofá. As cortinas da sala estavam fechadas e as luzes apagadas. Desfilei até a janela, cantarolando animada. A minha dor de cabeça já tinha passado, assim como a tontura, eu raramente ficava de ressaca – acho que Dionísio gostava de mim.

— Droga, Kaila! — Como um vampiro fugindo do sol, Karl se revirou no sofá quando abri as cortinas de uma vez e deixei a luz entrar. Ele cobriu a cara com uma almofada, e amaldiçoou todas as gerações de Collards existentes. — Vai dormir.

— Eu estou com fome — anunciei, me sentando no sofá com ele e afastando as pernas longas do meu irmão mais novo. — E aparentemente Bia está me castigando por sua culpa.

— Não quero saber. — Karl moveu a perna e me acertou na coxa. O meu "Ai", fez com que ele recolhesse as pernas de volta. — Que inferno — ele resmungou, tateando a mesa de centro atrás do celular.

Ergui a perna, fingindo que a cruzaria, e movi o celular para longe dele com a ponta do dedo do pé, já que ele se recusava a sequer levantar a cabeça. Aquilo era divertido demais.

Com Karl, eu estava conseguindo ficar mais à vontade. Estar com Kate também era ótimo, e foi ela a primeira a me incentivar a esquecer as preocupações.

— Está mais para esquerda — indiquei a direção errada.

Karl se levantou, observando o meu pé em cima do aparelho digital, bem longe de onde ele procurava.

— Eu vou te matar. — Aquela era ameaça suficiente para eu me levantar e rumar para longe das mãos do irmão furioso e ressacado.

Para minha sorte, ele apenas pegou o celular e começou a checar suas notificações. Pelo modo que ele se sentou e esfregou o rosto, algo parecia não estar certo. O que me lembrava que ele deveria estar ou na faculdade ou na empresa, e não apagado no sofá.

As notícias que eu recebia desde que Karl assumiu a liderança eram que ele, apesar de muito jovem, se mostrara responsável e inovador. Acho que com isso vinha um fardo enorme, e consequentemente meu irmãozinho parecia mais sobrecarregado do nunca.

— O que foi? — perguntei, enquanto terminava de abrir as cortinas restantes.

Karl fez uma careta e me fuzilou com o olhar. Levantei as mãos e me afastei das janelas, suavizando a carranca aborrecida do mais novo.

— Eu tinha que levar um documento pra Contabilidade — ele informou, deixando o celular de lado e levando as mãos as têmporas para massageá-las. Como se tivesse tido uma grande revelação, ele parou, ergueu os olhos na minha direção e um sorriso satisfeito surgiu nos lábios. — Você podia fazer isso pra mim. O que acha? Me faz esse favor?

Singularidades de um Amor (sem cerimônias) ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora