abraço

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Minha mãe está me dando um abraço apertado, dizendo que me ama.

Fico imaginando se seria assim que ela estaria ao me encontrar sem vida. Imaginando se ela apertaria o cadáver com a mesma força, se estaria com o mesmo choro contido.

Consigo vê-la apertando meu corpo gelado e sem vida contra o peito, consigo quase sentir os beijos deixados em minha cabeça e as mãos fazendo uma carícia desesperada, mas gentil, nos meus braços rígidos.

A voz embargada dizendo o quanto me ama

Eu tento dizer que tá tudo bem. Tento consola-la e dizer para que não chore, tento me obrigar a falar as palavras em voz alta, mas não sei se realmente consigo forçar as palavras de consolo vazias a saírem dos meus lábios.

Minha mente está igualmente acelerada e vazia. Penso em mil coisas, mas não consigo focar em nada, apenas no aperto que ela traz no abraço.

Preciso me desculpar com ela por ser mais um peso que a fará ir a cama às lágrimas. Em minha defesa eu não sabia.

Nunca ninguém sabe

Esse é o fardo de esconder bem. Ninguém nunca terá nem ideia de que você está escondendo algo até ser a verdade ser escancarada. Quem diria que nós compartilhavamos tantas dores, não é mesmo?

Sinto seus dedos quentes se entrelaçando com os meus duros e frios. A vivacidade da imagem está me deixando mais sem reação do que jamais estive

Ainda me pergunto como soaria o seu pranto ao se deparar apenas com meu corpo, sem nenhum resquício de vida. Me pergunto se ela entraria em negação, se rugiria desesperada pela dor, se sentiria alguma parte dela morrer junto.

Eu quero me desculpar com ela.

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