Tóquio, 12:50 A.M.
— Finalmente a hora do almoço chegou... — os estudantes da sala 3B comemoraram.
— Realmente, três aulas seguidas de Ciências matam qualquer um. — A menina mais bonita da sala comentou enquanto se espreguiçava.
Todos os meninos da sala prestaram atenção enquanto os seios dela se arrebitavam para cima e depois eram espremidos juntos pelo movimento dos braços, fazendo com que eles ficassem ainda maiores e mais atraentes. A professora suspirou derrotada pelo comentário de sua aluna, nem mesmo ela estava aguentando mais. As outras meninas da sala se separaram, enquanto umas admiravam as ondas loiras que os cabelos da menina faziam quando ela se espreguiçava, outras a olhavam com ódio por ela conquistar a atenção dos garotos tão facilmente.
— Muito bem, quem é o ajudante de hoje que vai recolher o dinheiro? — A professora perguntou, já havia se passado alguns minutos desde que o horário do almoço tinha começado, mas ninguém tinha se levantado para juntar o dinheiro.
Os alunos começaram a falar todos juntos, mas ninguém tinha certeza de quem era o ajudante, até que a menina de cabelos louros se levantou e apontou para a última carteira da última fileira. A princípio poderia parecer que a carteira estava vazia, mas se olhasse com atenção, poderia ver cabelos ruivos bagunçados jogados por cima da mesa e braços caídos ao lado do corpo. A pessoa estava dormindo...
A classe suspirou em sintonia com um desprezo palpável e encararam a professora com um olhar de tédio. A professora esbravejou enquanto caminhava em direção a carteira apontada. Ela bateu as mãos em cima da mesa da pessoa, que acordou em um pulo de susto. A turma começou a rir e fazer piadas e a professora olhou para a pessoa com um peso no olhar.
— Novamente, senhorita Aiko?
— Ah... Desculpe professora, é que eu...
— Não quero ouvir suas desculpas! — A professora interrompeu colocando suas mãos na cintura. — Hoje é o seu dia de ajudar a classe, então se levante e vá coletar o dinheiro de seus colegas para o almoço.
A aluna se levantou de sua carteira com a cabeça baixa e pegou a caixinha que ficava na estante da sala para que seus colegas colocassem o dinheiro. A professora foi para a sala dos professores enquanto a cabeleira ruiva despenteada passeava pela sala, parando mesa por mesa para ouvir um insulto ou piada de mal gosto e receber o dinheiro.
Ao parar na mesa da menina de cabelos loiros, a ruiva suspirou pesadamente antes de sorrir para a menina que sustentava um olhar de deboche.
— Pode me entregar o seu dinheiro, Kaori-san? — Aiko falou com uma voz pouco amigável.
— Claro, flor. Aqui está!
A loira colocou o dinheiro dentro da caixa e sorriu convencida. Quando Aiko foi dar um passo adiante, Kaori aproveitou a oportunidade e colocou seu pé em frente das pernas de Aiko, fazendo assim com que ela caísse de forma vergonhosa. Ela bateu a cabeça no chão, o dinheiro foi lançado com força para o outro lado da sala e sua saia se levantou, expondo sua calcinha a todos. Os meninos caíram na gargalhada e as meninas tiraram fotos e fizeram comentários maldosos.
— Ops... — Kaori disse fazendo beicinho.
Mesmo com sua dignidade quebrada, Aiko se levantou, arrumou sua saia e juntou o dinheiro espalhado, saindo da sala sem direcionar seu olhar para ninguém. Ela fechou a porta e encostou sua cabeça suavemente na mesma. Já estava acostumada com esse tipo de tratamento, mas não deixaria que isso a chateasse.
Ela entregou o dinheiro e seus colegas foram pegar seus almoços, enquanto ela ficou sozinha na sua mesa arrumando suas anotações. As outras aulas passaram devagar para Aiko, que se esforçava para não dormir sob o olhar severo de sua professora. Quando enfim o fim do dia chegou, Aiko ficou preenchendo a lista de presença, para depois entregá-la na secretaria.
Ela chegou em seu armário e colocou seu sapato, para enfim chegar na porta de saída. O céu possuía uma cor acinzentada e grossos pingos de chuva caiam constantemente.
— Droga, está chovendo? Eu deveria ter trazido um guarda-chuva... — Aiko diz estendendo sua mão e olhando para o céu.
Ela colocou a bolsa por cima de sua cabeça improvisando um guarda-chuva e correu pela rua. Uma quadra depois, Aiko foi puxada bruscamente pelo braço para dentro de um beco e bateu suas costas em uma caçamba de lixo durante a queda. Ela caiu sentada e quando se recuperou, olhou para cima e viu quem menos queria. Kaori e suas duas melhores amigas estavam na sua frente.
A loira deu uma risada enquanto encarava Aiko. Uma menina de cabelos pretos chamada Michiko, se aproximou de Aiko segurando um de seus braços e uma outra menina de cabelos igualmente pretos porém curtos, chamada Junsei, segurou seu outro braço. Kaori chutou a barriga da ruiva e riu maliciosamente, depois levantou um saco de lixo e despejou por cima de Aiko.
As três se juntaram novamente e Kaori levantou o rosto de Aiko, a puxando pelos cabelos.
— Entenda, Aiko. Você é um lixo e é isso que você sempre vai ser.
Michiko e Kaori riram, porém Junsei apenas a encarou, agradecendo mentalmente por não ser ela no lugar da ruiva. Kaori soltou os cabelos desgrenhados e juntas, as três desapareceram no meio da chuva densa.
Aiko não se moveu, ficou parada na chuva, sentada em meio ao lixo. Ela sentia suas costelas latejarem, porém ficar imovél era o máximo que ela poderia fazer para amenizar a dor. De repente ela ouve um barulho dentro da caçamba que estava encostada. Não levou susto e de início nem mesmo se importou, mas o barulho não parou e isso a deixou com dores de cabeça.
Ela se levantou, lutando contra as lágrimas e segurando a barriga e com o braço livre abriu a caçamba. Ela se apoiou na borda da caçamba e seu olhar turvo procurou a fonte do barulho. Seus olhos encontraram um gato, preto, jogado no meio de sacolas igualmente pretas. Quase camuflado se não fosse pela textura, ela pensou.
Ela soltou o braço de sua barriga e alcançou o gato preto, o tirando de dentro do lixo. Soltou a tampa da caçamba quando o pegou no colo e escorregou as costas pela parede até chegar na saída do beco em que estava. Aiko foi para sua casa com o gato no colo e estranhamente, o gato em momento nenhum miou em rejeição ao contato, muito pelo contrário, pelo silêncio ela poderia dizer que ele estava dormindo.
Aiko chegou em sua casa e abriu a porta da frente pesarosamente. A casa estava silenciosa... como sempre. Ela trancou a porta e colocou o gato em cima do sofá de sua sala, indo ao banheiro e buscando duas toalhas. Uma ela usou para se secar e a outra para secar o gato.
— Mas o que você estava fazendo no lixo em? — ela perguntou acariciando a cabeça do animal, agora seco.
Ela não entendia como alguém poderia abandonar um animal tão indefeso...
— Minha mãe também me abandonou... — ela sussurrou com um olhar morto.
A mesma se levantou do sofá e foi para o banheiro tomar um banho. Seu dia havia sido difícil.
ฅ^•ﻌ•^ฅ
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Gota de sangue
VampireOs vampiros vivem ás sombras de uma sociedade de humanos onde muitos nem mesmo sabem de sua existencia, porém tudo muda quando uma vampira é forçada a se revelar para proteger a quem ama. Como será que esse acontecimento interfere na vida de Aiko e...