Gota de sangue

Emprego

Tóquio, 7:00 A.M.

Acordar cedo não fazia o estilo de Aiko, mas ela tinha que procurar um trabalho. Sabia disso no momento que encontrou o bilhete de despedida que sua mãe escreveu em cima da bancada da cozinha, porém ela prolongou sua própria folga o máximo que deu. Agora, não havia mais como escapar... Além do fato de que toda a comida já havia sido consumida assim como o dinheiro para emergências, agora ela tinha uma gatinha para cuidar. Sim, Aiko havia resolvido ficar com o gato, cujo qual ela descobriu ser uma fêmea.

Ela levantou de sua cama após ficar uns 20 minutos pensando em como seria bom se ela simplesmente deixasse de existir. Trocou de roupa, escovou os dentes e penteou seus cabelos ruivos tão poucos admirados pelo seu fantástico diferencial. Além de no Japão existirem poucas ruivas, seus cabelos possuem uma tonalidade desbotada, o que deixava a cor parecida com rosa quando expostos no sol de fim de tarde.

Ela abriu o armário da cozinha e pegou um cup noodles para o café da manhã, já que aquela era uma das poucas coisas entre os enlatados e comidas não perecíveis que tinha sobrado. Quando terminou de comer, se encaminhou para a sala de sua casa que se encontrava vazia, ao invés de ter uma gata como ela esperava.

Procurou-a pelo local por alguns instantes antes de avistar uma janela aberta. Tristemente ela se aproximou do vidro aberto e olhou para o chão do lado de fora procurando por algum vestígio da gatinha. Suspirou e fechou a janela ao constatar que ela provavelmente havia fugido e não voltaria.

Aiko saiu de casa com apenas uma pequena mochila nas costas onde mantinha os pertences mais necessários. Passou em mais de uma loja, padaria e restaurante procurando um emprego, qualquer lugar em que ela pudesse fazer algo e perdeu o pouco de esperança que tinha depois de sair do vigésimo lugar com um simples: "Entraremos em contato com você caso surja alguma vaga".

Por fim, acabou desistindo e entrou em uma livraria para escolher um livro. Gostaria de um pouco de diversão neste final de semana, ela pensou enquanto estudava os títulos e capas cuidadosamente, procurando algo que lhe chamasse atenção. Por estar distraída acabou esbarrando em alguém e pisou no pé da pessoa, que deu um grito abafado em resposta. Aiko rapidamente tirou seu pé de cima do da pessoa e se afastou amedrontada, as pessoas já a odiavam só de olhá-la, imagina por causar danos físicos.

— Me desculpe, por favor. Não estava prestando atenção. — Ela pediu fazendo uma referência para a pessoa.

Seus olhos estavam fechados em pavor, contendo as lágrimas de medo, apenas imaginando as consequências de seus atos não medidos, então ela não viu a pessoa sorrir suavemente, lhe analisando cada detalhe de sua peculiar e linda aparência.

— Sem problemas, apenas seja mais cuidadosa. — A pessoa respondeu simplesmente coçando a nuca, o que causou um breve susto em Aiko.

A pessoa não faria nada com ela? Nada? Nadinha? Aiko abriu seus olhos tão lentamente quanto pôde, pensou que estava delirando. Devagar, ela levantou sua cabeça e por meio de suas mechas ruivas ela encarou o rosto da pessoa a sua frente. Era linda, ela pensou. Sua roupa era casual, porém bem portada, provavelmente mais cara do que qualquer coisa que ela tinha em sua casa, mas ela não ligava para isso. Além do físico impecavelmente maravilhoso, a mulher à sua frente possuía o rosto mais lindo que Aiko já havia visto. Sua pele suave e tão clara quanto um papel, lhe dava um incrível destaque aos cabelos pretos, curtos e bagunçados que caiam por seu rosto de uma forma encantadora.

Aiko soltou um suspiro de encanto e foi apreciada por uma risada anasalada da mulher. Ela achou engraçado o modo como os olhos da garota brilharam quando ela a encarou.

— Precisa de alguma ajuda? — Ela perguntou e Aiko teve certeza que algumas rosas rodeavam a jovem encantadora.

Sua face ficou avermelhada pelos pensamentos ridículos e a garota a encarou de forma divertida.

— Não, obrigada... só estava dando uma olhada. — Aiko respondeu envergonhada olhando para o chão.

— Bom, caso precise de algo estou aqui para te ajudar... — Ela sorriu inocentemente, o que só fez com que Aiko ficasse mais deslumbrada com tamanha beleza.

"O que está acontecendo comigo?" ela se perguntou, enquanto colocava uma mecha de seus cabelos atrás da orelha, que também estava vermelha. Aiko caminhou para longe da garota e foi para outra seção da livraria. Finalmente ela escolheu um livro interessante, chamado Heartstopper.

Pacientemente, ela se dirigiu ao caixa onde a garota estava atendendo. Ela aparentemente era uma funcionária de lá. Sinceramente, Aiko preferia apenas vê-la de novo de longe ou então nunca mais a ver, estava muito envergonhada e admirada, porém aquele foi o primeiro caixa a ficar livre e não tinham mais pessoas na fila para que Aiko pudesse ceder seu lugar.

Ela se aproximou, comprimindo os lábios para que nada idiota saísse de sua boca e observou enquanto a garota registrava o livro que ela escolheu. Às vezes, ela sutilmente dirigia seu olhar para Aiko, mas ela fingiu não ver.

Aiko pegou seu cartão de crédito após o pagamento e se xingou internamente por causar mais contas quando deveria procurar um emprego para sobreviver. A atendente deu a ela seu livro dentro de uma sacola plástica e ela agradeceu recebendo um sorriso cativante em resposta.

Quando estava passando pela porta de saída, pensando que nunca mais veria a garota novamente, Aiko quase não prestou atenção em um cartaz que estava na porta e chamou sua atenção bem a tempo. "Precisa-se de funcionários". Estava escrito tão claramente quando a luz de uma lâmpada, mas Aiko não conseguia acreditar. Como ela havia passado por este cartaz quando entrou e não notou sua presença?

Como uma faísca, a garota de cabelos ruivos voltou correndo para o caixa da livraria, a jovem funcionária que havia lhe atendido mexia no celular e se surpreendeu quando a viu lá novamente.

— Por acaso... vocês estão contratando? — Era óbvio que estavam como dado no cartaz pendurado na porta, então Aiko se arrependeu instantaneamente de sua pergunta.

A garota permaneceu estática por um momento até suavizar sua expressão e sorrir para ela gentilmente e assentir com a cabeça. O olhar de Aiko brilhou intensamente de ansiedade. Ainda tinha uma esperança.

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