Segredos amaldiçoados

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Tóquio, 3:52 A.M.

Os olhos de Nomu Chi se abriram com certo esforço, o repetido som de bipe fazia sua cabeça latejar. Ao observar o cenário à sua volta se reconheceu em um hospital. Aiko estava sentada em uma cadeira ao seu lado lendo um livro e se alegrou ao ver Nomu Chi acordada.

— Nomu Chi, você está bem? Como se sente? — Aiko se apressou em direção da cama hospitalar e pousou sua mão no rosto pálido.

— Se... de. Sede... — Nomu Chi falou com dificuldade sentindo sua garganta arranhar.

— Aqui, beba! — Aiko ofereceu a ela um copo de água.

Nomu Chi bebeu até a última gota e sentiu-se refrescada, mas não totalmente saciada. Aiko tirou o copo vazio da mão meio trêmula de Nomu Chi que encerrou a mesma.

— O que aconteceu... depois? — Nomu Chi perguntou atraindo a atenção da ruiva.

— Ela morreu... Junsei está morta! — Aiko respondeu com os olhos lacrimejando. — Não se preocupe, eu contei aos policiais que foi em legítima defesa. Eu chamei eles quando você me trancou no quarto e eles chegaram um pouco depois que Junsei parou de respirar. Felizmente ela havia voltado a se parecer como uma pessoa normal, assim evitei os problemas de tentar explicar a situação...

— Que bom... — Nomu Chi tentou sorrir, mas seu esforço foi em vão, o rosto triste de Aiko a impedia de esboçar qualquer expressão de felicidade. — Qual o problema? Não está feliz que tudo acabou...?

— Por que você foi para lá?

— O que? — Nomu Chi encarou-a confusa.

— Por que você foi para a minha casa Nomu Chi, isso não faz sentido... — Aiko esbravejou com lágrimas escorrendo por seu rosto. — Igual o fato de você ser... o que? Uma vampira? Não faz sentido... O que foi aquilo? Nada disso faz sentido! Eu estou tão confusa e ao mesmo tempo triste, você quase morreu por minha causa!!!

— Aiko... Por favor... — Nomu Chi tentou pegar nas mãos da ruiva que se afastou do contato.

— NÃO...!!! Não... Por favor você Nomu Chi, entenda que eu estou assustada com toda essa situação, então por favor me explique.

— Eu não acho que esse seja o lugar adequado... — Nomu Chi desviou seu olhar e se focou em suas próprias mãos.

— Nomu Chi, está de madrugada, ninguém irá nos ouvir... Por favor, me conte. — Aiko hesitou, mas segurou nas mãos de Nomu Chi para fazê-la sentir se mais confortável.

— Tudo bem... — Nomu Chi suspirou — Eu sou... uma vampira! Eu nasci assim. Quando o código do mundo foi reescrito surgiram os vampiros. Nós temos habilidades físicas melhores que a dos humanos e podemos alterar os códigos também... Não seria um problema, mas a muito tempo os vampiros entraram em guerra com os humanos e agora nós temos que viver escondidos...

— Junsei também era uma vampira? — Aiko questionou, interessada na história.

— Sim... Porém ela havia sido... Alterada... — Nomu Chi disse com pesar.

— Pelo que? Os códigos do mundo?

— Não... por uma maldição. Eu não sei exatamente o que é, mas isso transforma os vampiros totalmente. Eles perdem o controle de si mesmos e matam quem quer que vejam.

— Coitada da Junsei... Mas na verdade Junsei me parecia de certa forma consciente. — Aiko comenta se lembrando do que Junsei havia dito.

O gato...

— Ela estava falando de um gato! Disse que eu tinha feito algo com ele, mas eu não faço ideia sobre o que ela estava se referindo. — Aiko disse pensativa e Nomu Chi olhou para ela de maneira confusa. — O último gato que eu vi foi uma gata preta que eu levei para casa, mas ela fugiu... Será que era dela que Junsei estava falando?

— Sem chance! — Nomu Chi negou balançando a cabeça e dessa fez quem estava confusa era Aiko.

— E por que não?

— Eu era a gata que você levou! — Nomu Chi aponta para si mesma sorrindo convencida. — É impossível que Junsei estivesse falando de mim porque aquela foi a primeira fez que eu a vi.

— Espera... você o que? Você disse que era a gata? — Aiko estava com a cabeça rodando em confusão, Nomu Chi era um gato?

— Sim, eu era a gata! É por isso que os gatos não gostam de mim, meu cheiro de gato!

— Espera, então você já sabia onde eu morava mesmo antes de me acompanhar até lá? — Aiko encarou-a desconfiada e se afastou.

— Sim, mas foi só uma coincidência de eu te ver no dia seguinte enquanto estava trabalhando...

— Por que não me contou antes? — Aiko brigou e Nomu Chi sentiu seu orgulho ferido.

— Como se você fosse acreditar. Me acharia uma louca, isso sim. — Nomu Chi retrucou de mau humor.

— Foi por isso que foi legal comigo? Por que eu te salvei? Você não me acha legal nem nada, só não queria ficar me devendo nada!

— Mas é claro que não Aiko! Por que está dizendo algo como isso? Está me chamando de interesseira? — Nomu Chi se sentiu ofendida com as acusações. — Por que eu teria te beijado então?

— Eu sei lá, talvez para me enganar, já que foi isso que você fez esse tempo todo!

— Isso não é justo Aiko... — Agora era Nomu Chi que chorava.

Aiko se levantou da cadeira, pegou sua bolsa e foi em direção à porta.

— Aiko, espera... — Nomu Chi tentou se levantar, mas sentiu seu peito doer com a movimentação brusca.

— Vá enganar outra pessoa! — Aiko olhou furiosa para a garota que segurava seu peito com dor.

Se sentiu mal por saber que Nomu Chi estava naquele estado por sua causa, mas saiu do quarto e fechou a porta atrás de si sem nunca mais olhar para trás.

ฅ^•ﻌ•^ฅ 

Gota de sangueOnde histórias criam vida. Descubra agora