CAPÍTULO XIII - NÃO SOMOS AMIGAS

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{CLARICE}

Eu não estava legal.

Hoje, quando estava indo para a loja de instrumentos para comprar uma corda nova, vi Maya e Bea se abraçando forte.

Beatrice voltou há, sei lá, uma semana? E nós nem saímos direito, mas para a Maya ela tem tempo, não é? Para a Maya, toda hora é hora!

Que menina desgraçada.

Eu vou assumir, estava com ciúmes, me mordendo de ciúmes, completamente louca por isso. Mas como eu não estava legal, nada estava bom, inclusive minha relação com a maldita Beatrice.

Nós estávamos no sofá da minha casa, tentando debater se uma música era boa ou não para entrar no álbum, mas depois daquilo até a voz dela estava me irritando.

- Por que você tá assim? - Ela me perguntou, cruzando as pernas no sofá.

- Como assim? - Me fiz de cínica, eu sabia muito bem o jeito que eu estava e principalmente o porquê.

- Você tá grossa hoje, toda na defensiva.

- Beatrice, só não tô a fim de papinho. - Ela franziu o cenho, provavelmente muito confusa com as minhas atitudes - Você pode, por favor, focar na música e deixar isso de lado?

- Me fala, o que aconteceu? - Insistiu, mas aquele não era o momento. Eu estava tentando controlar, juro que estava, mas estava ficando impossível.

- Nada, vamos focar nas músicas. - Desviei do assunto mais uma vez, dando a Bea a oportunidade de ficar quieta e apenas focar em nosso trabalho, mas não.

- Você está brava comigo? - Era genuíno, e eu sabia que não era por mal, mas meu corpo ainda borbulhava de raiva e estava piorando com toda a insistência.

- Não estou. - Em nenhum momento eu olhei para seu rosto, porque eu sabia bem o que ia acontecer, ela ia saber que eu estou mentindo e ia insistir ainda mais.

- Então olha para mim. - Foi mais uma ordem do que um pedido, e eu a olhei - Agora me fala o que eu fiz.

- Você não fez nada.

- Eu não acredito.

- Que peninha. - O sarcasmo estava começando a me consumir, e eu não sabia por quanto tempo eu ia segurar a minha língua - Olha, vamos terminar isso outro dia, hoje eu não tô bem.

- Me diz logo o que eu fiz. - Cruzou os braços, se irritando também - Porra, a gente resolveu um problema de anos e do nada você volta a me tratar mal.

- Eu quero ficar sozinha. - Acho que essa foi a minha última tentativa de ficar calma.

- Mas não vai. - Eu ri, como se todo o rancor estivesse subindo pelas cordas vocais.

- Por que você se faz de sonsa, Beatrice? - Perguntei, erguendo as duas sobrancelhas - Você tem medo de mostrar que não é uma pessoa tão boa assim para os outros? Não precisa esconder de mim, eu já sei bem do que você é capaz.

- Que porra é essa? Do que você tá falando?

- Seu cinismo me irrita, puta que pariu. - Cocei o rosto - Você quer saber o que você fez?

- Claro que eu quero, porra! Eu passei anos querendo saber, mas você me ignorou por todo esse tempo. - Algumas lágrimas começaram a brotar no canto de seus olhos - Enquanto eu pensava que nós éramos amigas.

- Mas não éramos, e nem somos. - Falar aquilo doeu mais do que ouvir, sem dúvidas.

- Então eu não sou sua amiga? - Bea tentava controlar, mas não conseguia disfarçar a voz chorosa.

- Não, sabe por quê? - Negou com a cabeça - Quando eu tinha doze anos, eu era louca de paixão por você. - Admiti, isso me tirou um peso que eu nem sabia que carregava - Eu queria lamber o chão em que você passava. - Prossegui - E eu fui apaixonada por você até o que você fez, mas adivinha? Eu sempre te olhei com outros olhos, mesmo quando eu já tinha namorada.

- E-eu não sei o que eu fiz. - Soluçou, agora suas lágrimas eram extremamente mais aparentes, e sua voz falhava - Eu não sei o que eu te fiz, eu sempre te tratei muito bem, e do nada você começou a me odiar e... - Caiu em lágrimas mais uma vez, eu não sabia o que fazer, porque eu estava com raiva o suficiente para não acolher, mas eu queria nina-la igual um bebê.

- Não se faz de idiota, Beatrice.

- M-mas eu não tô! - Escondeu o rosto nas mãos - Em um dia eu tava ouvindo música no parque e no outro você me odiava.

- Você espalhou para todo mundo que meu pai matou a minha mãe! - Exclamei, sentindo as lágrimas subirem - Você ouviu minha conversa com a Milena e contou para todo mundo.

- Eu não fiz isso, eu nem sabia disso! - Retrucou - Eu só queria ser a sua amiga, mas essa louca tirou você de mim.

Naquele instante, uma chavinha virou na minha cabeça. Puta que pariu, eu ia matar a maldita da Milena.

Ela que contou para todo mundo, ela contou porque sabia que eu nunca a olharia do jeito que eu olhava a Bea.

Minha raiva simplesmente sumiu depois daquilo, foda-se a Maya e foda-se a Milena, foda-se qualquer merda de pessoa que se meter no meu caminho e no de Bea, foda-se tudo, menos ela.

Seu choro se intensificou, talvez por conta do meu silêncio repentino, e a culpa também instantânea.

- Bibi, me desculpa. - Quando fui toca-la, levei um tapa na mão - Ai! Mas que porra?

- Não encosta em mim! - Se levantou, pegou sua bolsa, seu caderno e se levantou - Nunca mais vem atrás de mim, entendeu? Nunca.

- Bea, me ouve, eu... - Fui interrompida.

- Eu não quero saber, eu não quero ouvir mais nada de alguém que só me fez sofrer o tempo todo. - Ela não estava mais chorando tão intensamente - Eu sofri por anos por sua causa, e eu estou sofrendo de novo, sabe por quê? - Fiz que não com a cabeça - Porque eu estou perdidamente apaixonada por você e não há nada que eu possa fazer sobre isso.

Quando ela disse isso e deu as costas, eu pensei em correr atrás dela, mas não fui, ao invés disso fiquei sentada igual uma idiota vendo ela partir.

Tantas coisas se passando pela minha cabeça, inclusive o como eu fui burra de acreditar que a Bea ia espalhar algo que ela nem sabia.

Beatrice está apaixonada por mim. Perdidamente, palavras dela. Isso é inacreditável.

Eu peguei meu celular e disquei o número da Milena, o único lugar que não tínhamos nos bloqueado.

- Alô? - Ela atendeu.

- É a Clarice. - Avisei, mas antes dela começar a falar, eu a cortei - Eu te liguei pra falar que agora eu sei que foi você que espalhou sobre meus pais, você é uma vadia. - Eu não gritava, na verdade falava bem baixo - Você fingiu que me amava por tantos anos, mas quer saber a verdade? Eu nunca amei você, você era só um step para eu me distrair de algo que sempre vem à tona, eu sou apaixonada pela Beatrice. - Meus dentes estavam cerrados - E eu deveria ter te traído com ela e não perdido o meu tempo, mas eu não fiz isso porque tenho caráter e valores. - Resmunguei - Mas parabéns, você sempre esteve certa sobre o jeito que eu a olhava, porque eu nunca te amei e ninguém nunca vai te amar.

- Acabou? - Ela perguntou.

- É.

- Fechou então, tchau. - Ela desligou, não parecendo nem um pouco mexida com tudo o que eu disse.

Mas eu disse, isso que é o importante, deixei claro para ela que sua teoria mirabolante sobre olhares e sei lá o que estava mais do que correta.

Olhei meu celular e tinha uma mensagem do Alex, "que merda você fez?"

Eu estou com um peso no coração, lembrando de todas as vezes que eu fui escrota sem motivo nenhum, pensando que eu estava certa.

Eu cometi mais do que um erro, foram muitos erros por muitos anos, se eu fosse a Bea também não ia mais querer me ver. Mas é uma pena, ela vai precisar me ver, querendo ou não.

Tirei o dia para ficar mais tranquila, esfriar a cabeça e pensar melhor, precisava sair com o Alex amanhã.

Flor De Lotus: A Bandinha De Garagem. (og version)Onde histórias criam vida. Descubra agora