CAPÍTULO XIX - FESTIVAL

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{BEATRICE}

- Eu vou mijar nas calças e eu não tô de brincadeira. - Jay disse, de pernas cruzadas enquanto aguardávamos nossa hora de subir no palco.

Hoje, nós íamos tocar em um festival de música fora de Liverpool. Eu estou nervosa porque nunca subi em um palco antes, Clarice está fumando um cigarro atrás do outro e isso está me deixando doida, Alex foi ao banheiro pela milésima vez Jay não parou de reclamar nem por um segundo.

Faltavam longos dez minutos para começar o nosso momento, eu estava repassando a lista de músicas mentalmente o tempo todo. Não que eu estivesse nervosa, mas conseguiria abrir um buraco no chão só com o batuque dos meus pés.

- Jay, por que você não levanta esse cu preguiçoso desse sofá e vai ao banheiro? - Clarice reclamou, naquele dia eu me relembrei de um defeito péssimo dela, o quão esquentadinha ela fica quando está nervosa.

- Porque o Alexander foi sugado pelo vaso. - Retrucou como se fosse óbvio, porque era.

- Ai, que inferno. - Resmungou, indo até a porta do banheiro da espécie de camarim que estávamos - Alex, sai logo daí.

- Eu estou passando mal. - Ele murmurou, aparentemente estava bem fraco.

- Caralho, Clarice. - Reclamei - Por que você é tão estúpida? Não tá vendo que ele tá mal?

- Eu? Estúpida? - Apontou para si mesma, como se eu tivesse dito algo absurdo - Eu só tô tentando resolver essa merda.

- Não tá dando certo, caso não tenha reparado. - Sorri de forma irônica, sentindo meu coração se afundar - Você não sabe resolver nada sem ser babaca.

- Então resolve aí, porra. - Sorriu de volta, daquele jeito cínico que eu bem conhecia - Afinal, você sempre quer sair por cima em tudo mesmo.

- Isso não é uma competição. - Cruzei os braços.

- É o que parece. - Retrucou - Você é uma garotinha competitiva e mimada que não aceita nada de um jeito diferente do seu. - Ela deu dois passos para frente, eu dei dois para trás, sendo prensada na parede.

- Você deveria ter pensado melhor nisso antes de me pedir em namoro. - Eu percebi que todos ali nos encaravam, totalmente perdidos em como essa briga começou.

- É, eu deveria. - Deu um tapa na parede, ao lado da minha cabeça e mordeu a parte interna da própria bochecha, se afastando e indo para fora.

- Babaca. -Murmurei, vendo ela sair - Idiota, mesquinha, argh! - Rangi os dentes, pronta para pular no pescoço dela.

- Vocês brigam assim sempre? - Mary, que até então estava em silêncio, perguntou.

- Essa é a nossa primeira briga em, sei lá, quatro meses? - Contei nos dedos - Tinha me esquecido desse lado adorável da Clarice. - Me taquei ao seu lado no sofá - Ela deve ter ido lá fora encher minha cabeça de chifre.

- Tá doida, Bea? - Fui repreendida - A Ice é meio escrota, mas não faria isso com você nunca.

- Mary, você ouviu o que ela disse? - Perguntei - Ela literalmente disse que deveria ter pensado duas vezes antes de me namorar.

- Me ouve, a Ice ama você mais que tudo no mundo. - Segurou minha mão e acariciou as costas. - Certo?

- Pessoal, um minuto, vamos? - Uma moça da produção perguntou, todos saímos correndo até o palco, onde Clarice já nos esperava.

- Beijinho de boa sorte? - Se inclinou em minha direção, só não esperava que eu fosse virar o rosto e me recusar olhar para ela.

Nos chamaram no palco, nós subimos, cantamos, tocamos e por alguns segundos eu até me esqueci de que estava chateada.

Estar diante a tantas pessoas cantando suas músicas junto com você é de outro mundo, olhei nos olhos do máximo de pessoas que eu consegui apenas para saberem que do mesmo jeito que elas me viam, eu as via também.

Foi lindo, eu vi histórias sendo criadas diante aos meus olhos, por mais que fosse só um festival e nem tivesse tanta gente assim. Quando acabou, eu estava suada e mais feliz do que nunca, sentindo como se meus pés nem tocassem o chão.

É como se apaixonar, só que melhor, porque palco nenhum vai estragar um dos melhores dias da sua vida.

Na hora de nos despedirmos, agradecemos no microfone e Clarice me beijou na bochecha, provavelmente percebendo o tamanho da merda que fez, mas eu a ignorei.

O caminho de volta foi uma merda, todos nós estávamos meio brigados, Alex e Mary não estavam se falando, eu estava enjoada, Clarice estava fedendo à fumaça praticamente em cima de mim, já que ela não pode simplesmente respeitar o meu espaço.

Eu até queria ver os outros shows, mas ninguém estava no clima para isso, então acabei desistindo também. Que dia merda, meu Deus.

Pelo menos eu estava linda, cheirosa e maquiada. O problema é que Clarice também estava linda, e toda vez que eu cedia o meu olhar, eu me lembrava o porquê de ela saber que sou dela.

Clarice digitava em seu celular, logo cutucou e me mostrou, estava dizendo que precisávamos conversar sobre aquilo, eu só respondi que não queria falar com ela. Quando tentou de novo, eu não li.

- Tchau, gente. - Eu fui a primeira a ser deixada em casa, Alex ia para a casa de Mary e meus pais estavam viajando, então a casa era minha até amanhã.

Eu tomei um banho de horas, andei nua por aí, vi TV e acabei capotando no sofá. Sim, sem roupa, mas ninguém estava vendo de qualquer forma.

Acordei com a campainha tocando incessantemente, acordei assustada e me enrolei na toalha jogada na cadeira. Quando abri a porta, era Clarice.

- O que você quer aqui? - Apoiei meu corpo na batente da porta, pude palpar seu nervosismo ao me ver sem roupas, como se fosse a primeira vez.

- Conversar com você. - Respondeu, pousando a mão gélida em meu ombro.

- Eu não falei vezes o suficiente que eu não queria? - Reclamei.

- Eu conheço a minha namorada, Bibi. - Passou a mão em meus cabelos, dando um sorriso fraco - É uma teimosa, mas é a teimosa mais incrível do mundo.

- E a minha namorada é uma imbecil. - Devolvi, por mais que agora estivesse mais dentro de sua brincadeira.

- Mas é a namorada que você escolheu. - Chegou mais perto, passando os braços ao redor da minha cintura.

- É o que tem, né? - Ela se fingiu de indignada e eu ri, aceitando o abraço e apoiando a cabeça no busto de Clarice - Brincadeira.

- Aham, sei. - Segurou meu rosto e me beijou, num selinho demorado e amoroso - Me perdoa, amor.

- Você é uma idiota. - Eu sorri, passando minha bochecha em sua mão.

- Eu sei, eu sou mesmo. - Concordou - Mas você até que gosta, vai.

- As vezes. - Ergui uma sobrancelha.

- Você sabia que eu amo você? - Perguntou, me roubando um selinho.

- Ama? - Assentiu - Quanto?

- Ahm... - Pensou - Imagina um dinossauro, agora imagina um dinossauro montado em cima dele e depois faz isso vezes infinito, é esse tanto.

- Que específico, amor. - Ri, colocando uma mecha de seu cabelo para trás - Eu também te amo dois dinossauros infinitos.

Ela me beijou, e a brisa suave da noite não era o único motivo pelo qual os meus pêlos se arrepiavam.

Agora dentro de casa, a toalha voltou para a cadeira e o programa de TV ficou mais baixo, eu definitivamente perdoei Clarice naquela noite.

Talvez aquela personalidade dela desse problemas para nós no futuro, mas não ali, naquele momento não importava nada disso.

Eu a amo assim, afinal Clarice sem sua leve arrogância não é a mesma.

Flor De Lotus: A Bandinha De Garagem. (og version)Onde histórias criam vida. Descubra agora