Mari
Não era possível essa perseguição, aposto que o universo tá tirando uma com a minha cara, quanto mais eu tento fugir da Bel mas ela aparece.
E lá estava ela acompanhada de Sofia, eu detesto aquela menina, ela é sonsa, se faz de inocente, mas tenho certeza que não presta, eu sinto.
Avisto Isaac e comento sobre a presença ilustre dela, que reage com uma certa indiferença, em seguida Luís aparece com drinks e faço questão de virá-los de uma vez, saudades da época em que eu só fazia isso e não tinha outras preocupações como Maria Isabel Martins em mente.
- Vai com calma, princesa- eu não tava com paciência para esses flertes típicos de homem que o Luís me lançava, mas era uma oportunidade para mostrar que eu não estava sozinha ou triste
- Me trás mais um, por favor?- sorri de ladinho jogando meu melhor charmeNão demorou muito para eu já estar meio zoada da cabeça, as luzes incandescentes me doíam os olhos, eu não precisaria de mais um drink para ficar zonza.
Eu estava bêbada? Talvez, mas precisei apreciar meu irmão no palco, eu demorei um pouco para assimilar quando eu vi aquilo, me deu uma vontade imensa de chorar, eu estava muito emotiva, isso não é normal pra mim.
Saquei o celular e gravei, óbvio que eu precisava mostrar isso para uma certa pessoa depois.Quebra de tempo
- Mari? Você tá legal? - ele parecia meio preocupado
Eu estava com raiva e triste, porém mais ainda com raiva, o que eu havia feito de errado? Minha cabeça não estava funcionando, algumas memórias haviam sido apagadas, eu só queria saber o que eu fiz de errado, era claro que o motivo do término era só um pivô de algo maior que havia por trás, mas eu não sabia o que era, como uma pessoa pode mexer tanto com a outra dessa forma? Eu tinha tantas perguntas, nunca me importei muito com o que as pessoas acha de mim, mas se eu soubesse o que a Isabel acha de mim, se eu soubesse o meu erro eu iria repará-lo agora, ou não, eu não sou de fazer isso, o álcool no meu corpo estava acelerando meus pensamentos eu me sentia mal, enjoada, porém com raiva também, talvez eu não tivesse feito nada, ela só deixou de me amar e eu preciso aceitar.
Olhei para o Luís e o vi turvo diante de meus olhos, eu me aproximei para beijá-lo, mas ele se afastou.
- Ei, não- ele me segurou- não vou te beijar, você está bêbada
O encarei confusa, desde quando isso importava?Dia seguinte
Acordei com dor de cabeça em um quarto diferente, que lugar é esse? Levanto num pulo e sinto minha visão embaçar.
- Você acordou- ouço uma voz doce e familiar
- Hm?
- Você está bem?- era Lia? O que?
- O que eu tô fazendo aqui?- perguntei confusa
- O Luís te trouxe pra cá, você mandou ele te trazer, já era madrugada, você tava muito bêbada, o que houve?- ela se sentou na cama que eu estava, provavelmente era um quarto de visitas ao julgar pela pobre decoração
- Eu não lembro de quase nada, por quê eu pedi para ele me trazer pra cá? Meu deus, Lia perdão
- Relaxa, meu pai brigou um pouco, mas eu já resolvi
- Meu Deus, o seu pai ele vai..- ela logo me acalma
- Eu já resolvi, relaxar, vamos descer, eu faço café para você, ajuda na ressaca, a cafeína vai te dá uma acordada
- Você não foi trabalhar hoje?- vou a seguindo
- Hoje não é dia de trabalho, Mari- ela riu da minha cara provavelmente, comecei a acordar naquele momento, reparar na casa, nas feições da Lia, ela estava tão serena e parecia tranquila, ela devia estar brava comigo,não?
- Ah- me sentei á mesa- Lia, você sabe algo da Bel?- me faltou sutileza
- Especifique- ela fazia um café, que me dava asco de ver, mas eu não podia negar, ela tinha razão sobre ele ser bom para ressaca
- Você sabe o motivo real do término?
- Ué, mas você quem terminou- até a Lia tava sendo cínica? A encarei feio e ela me encarou rapidamente e logo voltou a atenção para o café
- aqui, bebe sem me enrolar
- Você sabe de alguma coisa que eu não sei?
- Acho que você devia conversar com ela depois
- Depois?
- É, Mari, às vezes tempo realmente é necessário- ela me olhou carinhosamente - Você se sente melhor?
Eu notei que ela estava tentando amenizar alguma coisa, me confortando, senti como se ela tivesse com dó, ou a Lia sempre foi assim e eu não reparei? Não sei, mas também não sei se gostei da sensação de estar tão vulnerável de frente para alguém.
Bebi um pouco do café e ao sentir o gosto amargo fiz cara feia.
- Posso colocar mais açúcar?
- Posso dizer que não? Ou eu estaria sendo insuportável?
Peguei meu celular que curiosamente estava no meu bolso e com bateria e entreguei a Lia.
- Abre na galeria e vê o vídeo mais recente e deixa eu pegar o açúcar
Coloquei mais açúcar e dei uma mini viajada na reação da Lia, era tão claro ver de fora o amor que ela sentia pelo Isaac. O som cheio de ruído e péssimo que meu celular captou parecia uma orquestra totalmente harmoniosa se eu fosse julgar pela expressão dela, sem que ela percebesse um sorrisinho se formou em seu rosto. Provei o café novamente e não sei se ele estava mais doce pelo açúcar ou pela boiolagem das coisas que pensei.
- E ai?- peguei meu celular de volta
- O Isaac voltou para os palcos?
- Acho que isso foi só uma exceção. Bem, isso é uma conversa que deixo para vocês dois
Ela não disse nada, apenas olhou para o nada.
- Por quê vocês não voltam?- a questiono
- Não me enrola, bebe
Revirei os olhos mas depois sorri pois era impossível ficar sem rir estando ao lado de um ser tão Lia.
Acho que acordei mais poética hoje.Horas depois
- Onde você estava, Mariana?- meu pai estava injuriado na sala assim que abro a porta, ok ele tinha razão, mas não tava com saco para ele
- Na casa da Lia- respondo sua pergunta tentando me sair e automaticamente me safar da bronca
- Desde ontem? O seu irmão chegou sozinho em casa- ele tava bravo, inferno, não ia me livrar dessas
- Pois é
- Mariana, o que eu faço com você?
- Sei lá, me dá um pouco da importância que você dá ao Isaac? Eu iria gostar- falo irônica sem pensar muito bem, eu devia ter ficado calada
- Com essa irresponsabilidade você nunca vai colocar os pés na minha empresa nem como...- ele pensa em um dos cargos mais inferiores possíveis provavelmente mas eu não o deixo pronunciar
- E o quê você me ensinou sobre responsabilidade? Aliás, a nós dois? Você só forçou o Isaac a carregar nas costas algo que ele nunca quis e não dá a mínima para perguntar ou saber o que eu quero
- Eu não sou responsável, Mariana?
- Não sei, me diz você- vejo isaac descendo as escadas com uma expressão atordoada
- Vocês estão conversando? Ou brigando?- ele parecia aflito
- Conversando - respondeu meu pai
- Brigando- rebato- E aliás, Pai, importância não é só sobre trabalho- subo as escadas segurando a mão do isaac para que subisse comigo deixando meu pai resmungando algumas bobagens que eu fiz meu cérebro ignorar
- As vezes eu queria poder desligar a minha audição em momentos assim, você faria isso, Zac?- pergunto jogada na cama do mesmo
- Talvez, mas não consigo geralmente, eu fico com raiva. O que aconteceu? Você sumiu ontem
- Eu estava com o Luís, mas acordei na casa da Lia
Ouço sua risada baixa
- Confuso, como você está?- ele dá uma pausa- e como a Lia está?
- Vocês não se vêem todo dia?
- Bem, não nos falamos muito depois daquele ocorrido
- Vocês heteros são tão exagerados, eu no seu lugar entraria numa relação a 3
Ele me olha estático em choque
- Mariana, que absurdo, meu Deus!
- Qual é, maninho, ambas familiares para você, se uma é bom imagina duas, sensacional - não sei de onde tirei a última palavra mais ri ao falar, talvez eu pudesse ser comediante
- Não, não mesmo, eu odeio Ana, não a perdoei, queria a Lia, mas ela não me quer!
Reviro os olhos
- E a Bel?- ele me pergunta me pegando de surpresa
- Bem, ela está lá na casa dela...
Ele me encara esperando mais alguma resposta.
- Sei lá, estamos na mesma situação que você e a Lia, no sentido de não saber mais de quem é a culpa, ou quem está certo ou errado, ou quem quer ou não quer
- Confuso- é o que ele responde
- Segunda vez que você fala isso- jogo um travesseiro nele- e por quê você não faz essa barba, hein? Talvez a Lia te rejeite por is..- fui atacada pelo mesmo travesseiro
- Ei- tento me defender mas sou desconcentrada pelo barulho do telefone
- Zumbido chato- declara Isaac
- Alô?- atendo sem prestar atenção em quem era
- Mari?- conheço a voz familiar do outro lado, Bel..
- Ah, oi? O que é?- não sabia o que responder, ela só falou meu nome..
- Chegou uma encomenda aqui, mas eu não pedi nada, é sua?
Merda, era um presente surpresa para ela que eu havia esquecido totalmente de cancelar ou sei lá o que.
- É para você- me arrependo de falar daquela forma, parecia tão generosa e doce, a mesma voz da Mari da Bel, porém eu não sou mais essa Mari da Bel- Não de agora, eu tinha pedido a um tempo, na verdade
- Certo- ela já podia desligar...
- Por quê me ligou, Isabel?
- Você me bloqueou das redes sociais- Ela responde após dar um suspiro cansado
- Certo- eu quem falo dessa vez
Ficamos em silêncio, mas eu a ouvi abrindo o pacote, e eu fiquei esperando sua resposta ao invés de desligar, burra, burra.
Levanto os olhos e percebo o isaac me olhando de canto desconfiado e solto uma risadinha silenciosa, por quê ele era tão esquisito?
- Uau- ouço ela falar
- Nossa, muito obrigada, Mari, eu queria muito mesmo este livro, obrigada- arrisco dizer que ela estava sorrindo enquanto falava
- Boa leitura, Bel- torno a chamá-la pelo apelido, mas essa não é a pior parte, a pior parte é que também comprei este livro para mim, para podermos falar sobre juntas e provavelmente o meu vai chegar em breve e quando isso acontecer eu vou queimá-lo. Mentira, Deus eu jamais queimaria um livro.
- Obrigada - ela pronuncia mais uma vez antes de desligar
- O que ela disse?- ele fala aparentemente ligando novamente a peça externa
- Websexo- abro meu sorriso mais sádico
Ele me olhava com asco
- Ah, vai me dizer que você não fazia com a Lia?
Ele fez uma expressão de quem foi pego
- Credo, Zac, ah não, você aprendeu a ser sem filtro assim com ela?
- Meu deus, que absurdo, de qualquer forma que bom que eu optei por não ouvir nada
- O seu defeito é querer reprimir o óbvio, seu curioso, não foi nada demais- volto a pensar na Bel
- Se você quer voltar, você fala
- Não quero, obrigada
Ele não me respondeu apenas me julgou com os olhos, acredito que em breve Isaac vai desistir de ser verbal comigo e passará a se comunicar somente pelo olhar de asco e reprovação.
Mas convenhamos que eu quem deveria olhar para ele assim e não ao contrário.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Ruído Branco
RomanceOs pensamentos acelerados se assemelham a uma avenida cheia de carros barulhentos. Tudo que um mundo caótico precisa é de um pouco de paz. E tudo que Lia e Isaac querem é silêncio. Segunda temporada de Modo Silencioso