Lia
Eu ainda não tinha reunido coragem para falar abertamente com Ana sobre o ocorrido daquele dia, só tentei evitá-la ou agir como se nada tivesse acontecido. Eu sei que estou errada, mas a covardia ultimamente está sendo o meu forte.
- Olha, acho que seria legal a gente conversar- Ela se senta na mesma mesa que eu estava anteriormente sozinha tomando um café e orando para que ela não viesse fazer exatamente isso
- Já está na hora de eu ir, Ana- arrisco me levantar
Ela segura minha mão e me encara
- Não antes de me ouvir
- Ok- desvio o olhar nervosa, para mim era desafiador conversar a sério com alguém como ela, alguém com aquele ar autoritário e direto, eu confesso que fico em total pânico
- Eu não sabia que você tinha voltado com o Isaac, aliás, eu não sabia que ele tinha voltado de onde estava
- Não voltamos..- deixei escapar, por mais que essa informação não me ajude necessariamente
- Não?
A encaro e desvio o olhar rapidamente
- De qualquer forma, desculpe pelo impulso, eu não sei o que deu em mim- ela dá uma pausa- mas eu gostei muito, e repetiria se você deixasse
Fiquei meio sem ar na última frase, mas eu precisava agir como se aquilo não tivesse me deixado desestabilizada.
- Tudo bem, era só isso que você queria me dizer?
- Era sim- ela tinha um olhar penetrante, parecia esperar que eu dissesse algo, mas eu não me atreveria, o que eu iria dizer? Que estava confusa quanto a minha sexualidade por causa dela? Que eu gostei? Que talvez eu gostaria de repetir?
- As coisas não precisam ficar estranhas, você devia levar a vida com mais leveza Liazinha, relaxa- ela deu um sorrisinho de lado
Ri de nervoso, claramente
- Eu tô de boas- menti descaradamente - Não vai ficar nada estranho
- Certo, agora você pode ir embora se quiser- ela diz e eu logo lembro da minha tentativa de fuga
Apanho minhas coisas e meu café e me levanto, mas antes de sair andando a ouço falar novamente.
- Não esquece o que eu falei, sobre repetir
Balanço a cabeça, é claro que eu não iria esquecer.Dia seguinte
Esperei chegar ao trabalho e ter que dar de cara com o Isaac, mas infelizmente ou felizmente quem estava lá era o Sr. Seixas que por algum motivo desconhecido me liberou, mais cedo. Estava na porta da saída da empresa observando o movimento para poder atravessar a rua, quando sou surpreendida por um alguém familiar.
- Oi Lia, você se lembra de mim?- o rapaz com os cachos negros caídos na testa se direciona até mim sorridente e caloroso, como se fossemos velhos amigos
- Olá- sorrio de volta, eu não me lembrava de seu nome, mas lembrava de seu rosto e principalmente da antipatia de Isaac por ele
- Quanto tempo, não é? Como anda a vida?- ele parecia está captando cada detalhe que via em mim, nunca senti um olhar tão pesado quanto o dele, não sei se era isso mesmo, ou se era somente o costumeiro desconforto de minha parte, não o culpo, eu me sinto desconfortável com todo mundo
- Pois é, estou bem e você?- reparo que assim como o Isaac ele também amadureceu fisicamente, agora também tem uma barba perfeitamente alinhada a seu rosto, aparentemente eu fui a única que permaneci igual se não fosse pelos cabelos tingidos, que inclusive agora estavam horrendos e ressecados
- Melhor agora, E o Isaac?- vi seu sorriso diminuir- Vocês namoram não é?
- Não mais- que saco ter que dizer isso, é como enfiar uma faca pontiaguda na minha unha, ou talvez eu esteja exagerando?
- Poxa, é uma pena- não parecia ser uma pena a julgar pela sua expressão, seu sorriso tornou a aumentar
Sinto uma mão gélida tocar meu ombro e me viro num susto vendo Isaac ali, do nada, de onde ele surgiu?
Ok, estou na frente da empresa do pai dele, que tecnicamente também é dele, eu não devia estar tão surpresa.
Por um segundo o silêncio pairou, eles ficaram se olhando, o Isaac com uma cara de pouquíssimos amigos e o seu antigo amigo que desconheço o nome devolvia um olhar sereno.
Desconfortável.
- Olha, só você perguntou pelo Isaac, e aí está ele- essa deve ter sido a minha frase mais longa hoje
O gelo aparentemente foi quebrado por um aperto de mão, porém eu continuava ali no meio dos dois, como um escudo de segurança, observo a mão de Isaac acariciando meu ombro descoberto, subi meus olhos pelo seu rosto, e vê-lo tão de perto me arrepiou por dentro, eu senti algo que não sentia a muito tempo, borboletas no estômago.
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Ruído Branco
RomanceOs pensamentos acelerados se assemelham a uma avenida cheia de carros barulhentos. Tudo que um mundo caótico precisa é de um pouco de paz. E tudo que Lia e Isaac querem é silêncio. Segunda temporada de Modo Silencioso