Princípio

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Narradora

Isaac e Lia se conheceram ainda crianças, mas hoje em dia mal se lembram dessa época, foi um período difícil para seus país ambos solteiros na época e sem uma figura materna na vida de seus respectivos filhos.
Para Valentim aquilo era difícil em dobro, O pai de Maria Júlia, Lia o apelido que ele mesmo deu, sempre cuidou de tudo sozinho, nunca teve ajuda de ninguém, a educou, sustentou e a criou com muito amor e esforço. Sentia muito por ter sido abandonado pela mãe de sua filha, que havia ido embora pelo fato de não aceitar uma filha autista, no início aquilo foi o fim do mundo para ele, se viu abandonado, desamparado com uma filha pequena sem nenhum apoio, por sorte Lia nem se lembrava dela praticamente, mesmo que uma mãe sempre fizesse falta numa má hora ela era muito grata a seu pai por tudo, então preferia pensar que ter seu pai com ela era o suficiente e tentava o orgulhar de toda forma, apesar de que Valentim só visava sua felicidade e seu bem estar, o importante sempre seria isso para ele.
Seixas perdeu sua esposa para a morte súbita, a dor inexplicável de perder alguém especial de uma forma tão repentina e trágica mexeu com ele, seu amor se foi deixando dois filhos ainda pequenos para criar, porém diferente de Valentim ele não criou os filhos, ele pagou para isso, enquanto afundou suas mágoas no trabalho, aquilo não fazia ele um pai ruim, mas a ausência dele na infância de Isaac e Mariana pesou e muito, ser criado por pessoas que nem vínculo familiar possuía deixou carência imensuráveis para as duas crianças, mas já que nunca é tarde, um belo dia ele se reaproximou de seus filhos, mas já havia se passado tantos anos e tantas coisas haviam sido perdidas e ficado para trás que perderam o sentido, ele também arranjou uma nova esposa nesse meio tempo que Infelizmente não era lá uma boa pessoa, mas atualmente não estava mais com ela, resolveu ficar ao lado da filha que foi a maior vítima de sua ex madrasta com seus ataques homofóbicos, ele não queria cometer o erro de fazer escolhas erradas novamente. Isaac estava na Espanha fazendo faculdade, ele queria passar um cargo de alta importância para o filho em sua renomada empresa, e para isso ele precisava de uma boa formação, que desnecessariamente era fora do país, porém fazia sentido ter escolhido a Espanha tendo em vista que um de seus melhores sócios e amigo morava lá e consequentemente abrigou Isaac, o que deixava Seixas mais tranquilo pois após o acidente que deixou isaac surdo, ele se sentia um pouco inseguro de deixar o filho totalmente sozinho principalmente em um país desconhecido, além de já ter feito isso quase a vida toda. Honestamente Isaac não estava tão feliz com aquela vida, pois não era aquilo que ele queria ainda mais longe de todo mundo que ele amava e cada vez mais distante de sua maior paixão, a música.

Mariana, a filha mais nova, segundo ela viveu na sombra do irmão, não tem nada contra ele, o adora, mas se sente mal por ser tão inferiorizada até hoje. Durante a infância se via mimada entre os cuidados de babás, mas sentia falta de algo. Quando ela cresceu algumas coisas sumiram incluindo as babás, e logo se viu sozinha ali, naquela casa gigantesca, e mesmo que tivesse um irmão não era tão amiga dele assim, e logo se percebeu uma garota extrovertida que por infelicidade da vida era sozinha em casa, mas se via na obrigação de ao menos fazer amizades fora dela. O seu primeiro ciclo social deu início na escola, que logo se estendeu no ballet, na natação, nas festas e por ai seguia. Ela já havia feito muitas amizades, mas nenhuma de fato era estável, até hoje Mari não considera ter de fato uma amiga além de sua namorada Bel, a maior companheira dela, ela conheceu Bel na fase que fez natação, mas pela incrível ironia do destino mesmo saindo da natação, a encontrou em outros locais, em outros meios, em outros ciclos, até que se tocaram que aquilo não era uma mera coincidência e hoje são como mar e céu

- Sabe Mari, a relação do Sol e da Lua é meio tóxica, já parou para perceber?- Bel fala repentinamente quebrando o silêncio
Mari para de olhar seu vasto guarda roupas e vira a cabeça com um ponto de interrogação na cara.
- Mas por quê? Eu adorava dizer que éramos como sol e a lua
- O sol é uma estrela, possui brilho próprio, sabe? A Lua é só um satélite depende do sol para iluminar a noite, na lógica de uma relação isso não é tão saudável
- Sendo assim agora seremos como Mar e o céu então - a garota dá um sorriso convencido após apresentar uma solução para a questão da namorada
- Que criativo de sua parte, MARi
Mari deu uma gargalhada com o ênfase no mar.
- Ai eu adoro romantizar a gente, a vida fica tão mais poética- Mari se aproxima de sua namorada segurando um vestido extremamente sexy
- Que isso?- Bel se refere ao vestido
- Um vestido, que você vai usar para mim hoje- ela sorri maliciosa e Bel sente suas bochechas ruborizadas
- Atrapalhei algo?- Lia abre a porta do quarto e nota a proximidade de ambas
O casal fica estagnado olhando para a garota na porta
- O que foi?- ela segura o próprio cabelo- ficou ruim?
- Maria Júlia? O que você fez?- Mari pergunta ainda em choque porém se aproximando para analisar
- Por quê eu não fui avisada? A Mari tudo bem, mas eu sou sua melhor amiga- Bel se fez de ofendida
- Resolvi fazer surpresa- Lia ainda tinha uma expressão preocupada- Vocês gostaram?-
- Gostei não, eu amei- Mari estava realmente chocada o quanto os fios platinados combinaram com a sua cunhada, ou ex cunhada- eu não via uma mudança tão radical assim desde que a Bel cortou o cabelo e parou de pintar ou quando eu tirei minhas tranças
- Você mandou foto para o Zac?- Bel perguntou um tanto curiosa
- Não, e nem vou- o silêncio reinou
Mari suspira meio chateada
- Isaac é um pau no cu, sinceramente, que ele se exploda
- Eu sabia que as coisas mudariam- Lia estava um tanto vulnerável mas estava se segurando para não chorar
- Espera, a mudança no cabelo foi pela sua decepção?
Mari encarou Bel tipo: " Isso não foi óbvio?"
Lia se deita na cama e com facilidade seus olhos sem enchem de lágrimas
- Quando ele voltar, eu não sei se quero ver ele
- Achei que vocês tinham decidido ser ao menos amigos, desculpa por tocar no assunto, Liazinha- Bel se redimi
- Tudo bem
- Sábados se tornaram depressivos, mas pelo menos somos bonitas- Mari sorri com um pontinho de positivismo sincero e Lia dá uma risadinha
Naquele momento Bel estava mexendo nas madeixas platinadas de Lia enquanto a mesma tinha um olhar vazio para o teto, era difícil para ela, desde o início sabia que aquilo iria ser complicado, mas não imaginava que doeria tanto daquela forma, ela realmente amava o Isaac, foram 3 anos tentando arduamente fazer dar certo mesmo com a distância e com o infeliz do fuso horário e com as férias totalmente diferentes, eles haviam se visto pouco, não havia dado tempo de quase nada, e naquele quase nada, chegou a virar um nada de fato, mas será mesmo que não havia restado algo?

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