Ruído Branco

Reacender

Lia

Fazia tempo que eu não brincava de esconde esconde claramente, mas ainda sabia me esconder bem, eu tinha a habilidade de caber em qualquer lugar então me espremi no vão entre parede e o guarda roupa do quarto da Mari e passei para trás do mesmo, mas parei para pensar que seria impossível sair dali, eu estava começando a ficar sem ar.
- Lia?- Ouvi a voz grave do Isaac me chamando e resolvo ficar calada, vai que ele está em um complô com a Bel?
- Você realmente sabe se esconder bem- sua voz estava se aproximando- mas eu consigo sentir seu perfume, está mais forte hoje?- ouvi sua risada e ri silenciosamente também
- Se quer se esconder aqui faz silêncio- respondi
- Onde que você está?- percebi que ele estava abrindo a porta do guarda-roupa
Saio de onde estava me dando por vencida pela falta de ar, era um bom esconderijo, mas impossível de manter por muito tempo.
- Caramba, como que você se enfiou ai?- o quarto estava escuro devido a luz apagada mas eu conseguia vê-lo muito bem
- Eu consigo me enfiar em qualquer lugar- ri meio tímida, o Isaac me deixava tímida, ou eu já era antes?
- Verdade- ele ficou parado ali na minha frente
- Você não vai se esconder?
- Ah, é sim, claro, mas é que não tem muitos lugares para se esconder aqui- ele olhou em volta
- Claro que tem, você só não cabe, com esses seus braços enormes- recebi uma sombrancelha arqueada como resposta- enormes não por quê são compridos, eu quis dizer que...- eu percebi que estava me enrolando e parei- ah você sabe
- Quer dizer que estou grande?
- É, maior que a 4 anos atrás com certeza, então não, não cabe em nenhum lugar aqui
- Ah, então que tal se eu sair do quarto e  entregar nosso esconderijo?- ele ameaça ir até a porta e por algum motivo eu o seguro pelo braço
Ele não iria fazer aquilo, claro que não, só fez aquilo para que eu o tocasse, entendi mais rápido do que deveria.
- Vai me ajudar a me esconder?- ele perguntou, mas eu continuei segurando seu braço, estava firme, parecia bem forte, fiquei completamente distraída, eu acho que nunca tinha tocado num bíceps daquele jeito, nunca percebi que era atraente, ou talvez só fosse porquê era o Isaac, eu não tinha certeza
- Provavelmente seu próximo hiperfoco serão os meus bíceps- fechei a cara e soltei seu braço
- Eu não seria tão superficial assim- desfiz minha expressão ao sentir suas mãos em meu rosto
- Eu sei que não
- A Bel tá demorando para vir- dessa vez eu quem fui até a porta, tentei a abrir sutilmente, mas percebi que estávamos trancados- Isaac, porquê você trancou a porta?- o encarei um pouco assustada
- Eu tranquei?- ele fez uma cara de desentendido, mas eu senti uma pontinha de mentira- não fui eu- ele se aproximou e tentou abrir a porta
- Para de brincadeira, você está com a chave não está?
- Não, juro- ele colocou as mãos nos bolsos
Foi a Mari, logo deduzi, então era isso que ela sentia quando eu a obrigava encontrar com a Bel por meio de alguma circunstância que eu criava? Que terrível.
Pensei em bater na porta para que ela viesse abrir, mas não fiz isso, apenas encarei Isaac, iria me permitir dar o gostinho que Mari quer
- O que foi? Está desconfiando de mim?
- Não, foi a Mari que nos trancou- passei por ele roçando nossos ombros e me joguei na cama confortável a frente- Ela acha que eu estou incomodada ou desconfortável, pois saiba ela que não estou
- E se eu te disser que gostei da idéia de estar trancado com você?- ele caminhou até a cama e subiu na mesma ficando quase que em cima de mim se apoiando somente com as mãos
- Não sei se estou tão confortável agora
Ele ficou paralisado, como quem não estava esperando ouvir aquilo, então resolvi explicar.
- É que você é um pouco pesado para estar em cima de mim, sabe?
- Ah, sim, achei que não queria que eu estivesse em cima de você- ele se aproximou ainda mais roçando sua barba no meu pescoço, não que eu não quisesse mas o Isaac estava sendo um assanhado, eu não sei se estava esperando por aquilo, apesar de seu comportamento além da gentileza no carro no dia da carona
- Na verdade, eu não sei se quero- eu estava completamente arrepiada com seu toque, eu acho que tinha cócegas de barba no pescoço, isso foi muito específico, mas é que também nunca tinha sentido uma no meu pescoço
Senti que ele deixou um beijo lá e finalmente saiu de cima de mim se deitando do meu lado.
- Você ficou toda arrepiada- ele sorriu em satisfação
Meu coração disparou, se bem que ele já estava antes.
- Você é um assanhado, sabia? Parece que não sabe conversar sem me tocar
- E você não gosta de ser tocada por mim?- seus olhos desceram para minha boca, claro que eu não iria responder aquela pergunta
- Seu coração tá acelerado?- ele iria ficar com o maxilar doendo se continuasse sorrindo tanto
- Como sabe? Não está me tocando agora
Ele desceu os olhos para os meus peitos descaradamente.
- Você tinha me falado que estava relaxada e confortável mas sua respiração não demonstra isso, você está nervosa?
- Zac- falei quase num sussurro
- Seu corpo é traiçoeiro ele entrega tudo que você não fala
- Você está me provocando, como quer que eu reaja?- senti meu rosto ficar vermelho, mais do que já estava na verdade
- Você sabe exatamente como eu quero que você reaja, Julinha
Eu me senti literalmente encurralada, infelizmente eu não tinha filtro algum sobre minhas emoções, estava muito na cara que eu estava morrendo de saudades de subir em cima dele e beijá-lo, desde que ele havia chegado isso ainda não havia acontecido, mas devia.
Ergui minha mão até seu rosto e acariciei me aproximando de seu rosto mas desci meus olhos até seu tronco infelizmente coberto pela camisa, ele nunca usava quando estava em casa, mas bem naquele momento estava usando, maldito seja o bom senso de Isaac Seixas, deslizei minha mão de seu rosto para dentro de sua camisa sentindo o quão quente estava sua pele e tudo que havia mudado de 4 anos até aqui.
- Isso, explora o que é seu, meu amor- ele falou isso no meu ouvido quase inaudível, fechei os olhos ao sentir, eu senti a adrenalina adentrar o meu corpo, e se Mari abrisse a porta?
- E a Ava? Ela quer ficar com você- acabei falando algo que me atormentava desde que conheci aquela garota
- Quem é Ava perto de você?- ele me puxou pelo quadril me fazendo ficar em cima dele
- É você quem eu quero, Maria Júlia, entenda isso, nunca deixei de querer
Eu não iria dizer que também o queria porque aquilo estava bem estampado na minha cara, mas ouvir aquilo fez com que as borboletas no meu estômago se multiplicassem, era bem possível que ele estivesse sentindo elas também.
Fui de encontro a sua boca e finalmente depois de tanto tempo o beijei, com toda minha saudade e fogo, senti suas mãos em meu quadril descendo para minha bunda, eu não queria parar nunca de beijá-lo, era como se eu literalmente tivesse ido ao céu sem sair da cama.
Suas mãos apertaram a região me fazendo me fundir ainda mais no seu corpo, eu precisava tanto daquilo, e não sabia que precisava até fazer.
Ouvi a chave fazendo barulho e imediatamente sai de cima dele que se sentou e rapidamente colocou um travesseiro no colo, eu já sabia bem o porquê.
Olhei para a porta e observei uma Mari descabelada a abrindo.
- Eai, gostou de ficar presa a força com o Isaac, Liazinha?- ela deu um sorriso maléfico
- Sim, nós dois adoramos, obrigada irmã- Isaac respondeu por mim, apesar do travesseiro no colo, sua expressão era totalmente composta, não parecia que eu estava em cima dele a uns segundos atrás
Eu estava completamente absorta, vermelha, ofegante e principalmente envergonhada.
- Metam o pé- Bel apareceu escancarando a porta a abrindo- Se comam no quarto de vocês, que eu quero ficar no quarto com a minha mulher
- Bel, você está bêbada?- perguntei incrédula
Antes que ela me respondesse Isaac foi me puxando para fora do quarto.
- Eu cuido dela, relaxa- Mari falou antes de fechar a porta
Caminhei com o Isaac até seu quarto em silêncio, a quebra de tensão havia me deixado mais tímida que antes, eu estava olhando para o chão, especificamente para meus pés, se eu olhasse para aqueles olhos a minha frente eu definitivamente perderia o jeito de andar e nem saberia falar.
- Você vai dormir comigo hoje né?- ele fechou a porta depois que eu passei
- Juntos?- eu devo ter parecido muito incrédula
- Se quiser pode ser separado, eu durmo no chão
- Não, não, jamais te pediria isso- olhei seu rosto de relance- Desculpa, eu tô envergonhada
Ele deu um sorriso doce com uma expressão paciente no rosto.
- Eu adoro você exatamente assim, não precisa se desculpar- sorri pelo seu sorriso, eu não tinha certeza se eu era apaixonada pelo Isaac como antes, mas de alguma forma aquele sentimento estava reacendendo
- A gente dorme junto, como nos velhos tempos- tomei a iniciativa de beijá-lo novamente, eu não podia deixar minha timidez me fazer perder a oportunidade de aproveitar aquele momento
- Que saudades que eu tava de você- ele falou baixinho reconfortando meu coração disparado