AliceO silêncio é tão alto.
Eu tinha 15 anos a primeira vez em que apanhei de meu irmão. O primeiro abuso, dentre vários.
O silêncio é enlouquecedor.
Estava no início da minha adolescência, era jovem e cheia de planos assim como minhas amigas.
Meu primeiro erro, foi não perceber que eu era muito diferente delas.
Tínhamos muito em comum, mas elas não tinham um pai alcoólatra e um irmão problemático em casa para lidar. Elas não tinham que inventar motivos bobos para nunca estarem em casa, porque elas não precisavam fugir do caos da própria família.
Ninguém acreditaria, que dentro de um lugar tão nobre, existia tanta podridão.
Mas se de uma coisa eu sei, é que nas lixeiras mais caras, se escondem os lixos mais nojentos.
Eu tinha uma casa. Nós tinhamos uma mansão. O que eu não tinha, era um lar. Não mais depois que você se foi.
E naquela tarde, eu descobriria que o que é ruim, sempre pode te matar.
Nos saímos para ir a um cinema, era aniversário de uma de minhas amigas e alguém levou uma bebida. – Nunca descobri quem foi, porque aquela foi a última vez em que vi aquelas pessoas. – Foi a última vez que me viram.
O dia terminou com alguém nos dedurando.
Se soubessem as consequências...
Se eu soubesse...
Eu tinha quinze anos, um pai cachaceiro e a ilusão inocente de uma criança. Você já estava morta.
Tentei ignorar minha realidade por muito tempo e consegui, contudo, naquela tarde quando cheguei em casa a veracidade de minha história bateu forte.
Descobri que polícia havia notificado meu irmão, porque meu pai estava em coma alcoólico a algumas horas no hospital. Eu nem mesmo me preocupava mais com suas idas a emergência. Afinal, com você finalmente enterrada, meu pai bebia cada vez mais.
"Ela era tudo o que eu tinha." Ele dizia sempre que ficava muito bêbado ao lembrar de você ainda viva e saudável. E pelo visto, neste quesito não sou muito diferente de meu pai.
A senhora também era tudo o que eu tinha.
Meu irmão ficou irritado, não apenas por eu tê-lo desobedecido mais uma vez ao sair com minhas amigas e fazer besteira. Mas por terem deixado para ele toda responsabilidade de cuidar de um homem bêbado e de mim.
O quê eu poderia fazer? Meu irmão é 7 anos mais velho. Eu era apenas uma jovem em luto e perdida. Não sabia ao menos tomar conta de mim mesma.
Quando ele se aproximou, senti que Jonatan também havia bebido.
Foi quando ele tirou o cinto da sua calça para me bater.
Ele não me bateu.
Ele me espancou.
Me agrediu até que eu vomitasse todo lanche e a bebida de meu estômago. Até sangrar minha boca e o nariz.
Jonatan descontou todos os anos de frustrações que ele havia passado com nossa família em minha pele.
Eu tive cortes em vários lugares por conta do couro do acessório. Vários vergões e roxos espalhados em diversas partes de meu corpo.
Tive febre.
Eu nem sabia que era possível ter febre por ter sido muito machucada. Eu não sabia que era possível alguém bater por tanto tempo sem parar. Eu não sabia que aquela seria apenas a primeira vez de todos os anos que se seguiriam...
E eles seguiram!
Tentei não causar mais nenhum problema, entretanto, existir já era um.
Eu deveria agradecer pelas minhas primeiras surras? Afinal eu não fazia ideia de que um dia ele pioraria as coisas, que ele chegaria a fazer...
Deus, ele fez... Mandou que fizessem.
365 dias por ano, 7 dias por semana, 24 horas por dia. Foi essa a conta de cada ano que se seguiu comigo sob o domínio de meu irmão em que eu desejei estar morta. Esse era o período em que desejei nunca mais acordar após cada desmaio que tive provocado por suas sequências sem fim de tortura.
Eu não sofria quando meus olhos se fechavam e eu me entregava ao torpor. Eu sofria sempre os abria e percebia que eu ainda vivia.
Ou não...
Aliás, não é porque eu estou respirando, que estou vivendo...
Eu só sobrevivi! Durante todo esse tempo.
Eu sobrevivi...
...mas gostaria de não ter sobrevivido.
Eu estava sozinha e abandonada. Apegada as ruínas de meu lar despedaçado. Perdida e machucada demais pra ver um luz. Eu estava apenas...
Eu não sei o que eu estava...
Bom, me deixe dormir. Eu estou tão cansada de sentir dor. Quero ir dormir na intenção de não acordar.
Mas tudo bem, mãe...
Sei que logo eu estarei com você...
Continua...
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Com amor, Nina❤️
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E se eu fosse salva?
Romance• Ali foge dos abusos de seu irmão e acaba sendo encontrada de uma forma peculiar por alguém que vai protege-la a qualquer custo. Como saber em quem ela pode realmente confiar? Quem é seu salvador? 📌ATENÇÃO : Esse livro abordará tema...