Dia de chuva

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A criança olhava a chuva cair, abraçando seu coelhinho com força. Ela se deita no chão com cara emburrada.

– Eu queria brincar lá fora! – berrou irritada, seus olhos ficando vermelhos.

– E depois quem se fode pra cuidar de tu gripada é a gente. – o demônio de olhos verdes teve um khakkhara se encontrando com sua cabeça depois de sua fala.

– Se ela começar a xingar a culpa é sua! – Sekido reclamou depois de bater em Karaku com seu cajado.

Tsuki se levanta, ficando sentada, ainda olhando a chuva cair, ainda com raiva em seu rosto.

O oni da alegria se aproxima, a pegando no colo e a cobrindo com suas asas. A criança continua olhando para a frente, deixando sua face mais relaxada, com o vermelho de seus olhos sumindo aos poucos.

– Quer conversar para passar o tempo? – o clone de olhos azuis se aproximou dos dois, sentando ao lado de Urogi.

– Conversar sobre o que? Não tem nada para conversar com essa chuva. – Karaku se sentou perto deles, sendo seguido por Sekido.

A mais nova ficou olhando para a água que caia. Gotas de agua aglomeradas caiam pela estalactite que tinha na entrada da caverna, fazendo um barulho suave ao bater no chão. Estreitou os olhos, se lembrando do olhar cheio de lágrimas da garota que era semelhante a si que viu em seu sonho.

– Pa, eu tenho clones também? – perguntou para o oni da raiva, o vendo piscar algumas vezes antes de responder.

– Não... Por que? – encarou ela, que ficou o olhando por um tempo, pensando em uma resposta – se for pra te fazer companhia ou coisa do tipo não rola, ter três versões de si mesmo não serve nem para lutar e só causa estresse.

– Ei! – o prazer e a alegria dizem uníssono, indignados com a fala de Sekido, menos Aizetsu, que ficou curioso sobre a pergunta da menina.

– Por que quer saber, meu bem? – perguntou acariciando os cabelos da criança.

Ela pensou, não sabia direito se era realmente um sonho, parecia bem real para um sonho.

– Quando eu tiver certeza eu falo. – respondeu com um sorrisinho, queria ter certeza de tudo antes de sair contando.

Os onis se olham, depois para a criança.

– Você é uma criança estranha. – Karaku disse dando um soquinho de leve na cabeça da menor, que sorriu colocando a língua para fora.

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A chuva ainda caia, e o céu se encontrava mais escuro, logo logo a noite chegava e eles poderiam ir para a próxima vila, isso se a chuva desse uma trégua.

O oni de olhos vermelhos se mantinha sentado no canto da caverna, com os olhos fechados e com seu khakkhara ao seu lado. Sentiu ter alguém o observando, julgou ser Karaku, já que o mesmo adorava o irritar.

Abriu um dos olhos, vendo que Karaku estava importunando Aizetsu junto de Urogi. Era Tsuki que o olhava. Encarou a criança de volta, a vendo apontar para seu cajado.

– Posso brincar? – ela possuía um semblante neutro, mas tinha um tom de travessura em sua voz - coisa que puxou do oni do prazer e alegria depois de todos esses anos de convivência.

– Não tem o que brincar com isso. – respondeu de forma seca.

Tsuki balançou a cabeça em negativo, se aproximando mais dele e sentando em seu colo, e automaticamente sua mão foi até as costas da criança para servir como apoio.

A morena esticou os braços até o cajado, abrindo e fechando a mãos. Sekido suspirou, cedendo e entregando para a pequena, que começou a desenhar no chão com a ponta do cajado.

O demônio ficou prestando atenção no desenho da criança, era os quatro onis e ela mesma. Achou bonitinho, e isso só provou que a criança amava desenhar sua família, sempre os desenhava quando pegava em algo que a permitia gravar formas em algo.

Tsuki parou de mexer o khakkhara na terra, levantando a cabeça para cima, pensando.

– Pa, como se escreve o meu nome? – olhou para Sekido, mas também chamou a atenção do demônio de azul.

– Tsuki! Eu te ensinei isso essa semana ainda! – reclamou se aproximando deles e abandonando Karaku e Urogi.

– Gomennasai... – a menor abaixou a cabeça.

Aizetsu olhou a filha por um tempo, notando que a mesma ficou triste com sua reclamação, e colocou uma das mãos em sua cabeça, fazendo um carinho.

– Olha só, vamos pegar (roubar) livros na próxima vila e vemos mais vezes para você aprender melhor, tá bom? – Tsuki balançou a cabeça em positivo, seus olhos ganhando um tom de amarelo.

O de azul ajudou a criança a escrever o que queria, aproveitando para ensinar mais coisas a ela no meio disso.

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Splash!

Era o som que fazia quando Tsuki pulava nas poças formadas pela chuva, água que caia das nuvens finalmente cedeu.

Os demônios agora estavam indo para a próxima vila mais próxima, porém a brincadeira da criança estava os atrasando, e Karaku e Urogi não colaboravam, pareciam mais crianças do que a própria criança.

– Chega! – o oni da raiva fez seu cajado khakkhara encontrar a cabeça dos dois onis bobalhões com força, causando reclamações.

Ele também pegou a criança e a colocou em seu ombro, a carregando que nem um saco de batata, seguindo caminho, deixando a menor irritada com sua atitude e os outros dois para trás, enquanto Aizetsu o seguia.

– Pa! Me coloca no chão! Eu sei andar! – Tsuki reclamou, se debatendo.

– Vai ficar saltitando que nem um coelho por ai? – Sekido perguntou, ouvindo um não da filha, a colocando no chão e voltando a andar.

A morena correu para ficar na frente, observando que os onis do prazer e alegria já voltaram a acompanhar o da raiva e tristeza, porém estavam emburrados com a batida em suas cabeças.

Se passou um tempo deles andando - Tsuki mais correndo do que andando -, a finalmente estavam perto da vila. Agora era procurar humanos desavisados, arrumar comida para a pequena, e torcer para não voltar a chover, isso se as nuvens do céu ainda tivessem algo para derramar contra a terra.

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Continua

Uma Pequena LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora