Capítulo 1

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O despertar da manhã trouxe consigo uma visão distorcida, ofuscada pela luz que invadia o quarto através das janelas. Inicialmente, tudo parecia normal, até que a percepção de que não estava em meu próprio apartamento tomou conta de mim. Era evidente que algo estava errado, e uma sensação sutil de desespero começou a se infiltrar em meu interior. Logo em seguida, a porta do quarto foi aberta por um homem extraordinariamente belo, de aparência jovem, posicionado à soleira.

"Você fez tudo conforme o combinado? É a garota que eu estava procurando?", indagou ele, referindo-se a mim. Ao seu lado, um homem abaixou-se em reverência, reconhecendo a figura como seu superior.

"Sim, senhor", respondeu o outro homem respeitosamente.

"Ótimo. Agora você pode ir", declarou o chefe, colocando as mãos nos bolsos de sua calça social. O rapaz prontamente se retirou, deixando-nos a sós.

Sentindo minha irritação crescer à medida que ele se aproximava, não pude evitar questioná-lo: "Pode me explicar o que está acontecendo aqui? Onde estou? Quem é você?"

"Espere um segundo", ele me encarou por um momento, parecendo decepcionado e, ao mesmo tempo, surpreso. "Você não é ela!", exclamou, dando um passo para trás, sua irritação se tornando visível.

"Ela quem? Do que você está falando?", perguntei, confusa.

Não demorou muito para que ele chamasse o homem que estivera presente antes, que prontamente atendeu ao seu chamado.

"Algum problema, senhor?", questionou o rapaz assim que atravessou a porta do quarto.

"Quem é essa garota?", apontou ele para mim, ainda visivelmente surpreso.

"Ela possui todas as características que o senhor solicitou. Não é ela?", respondeu o empregado, aparentando estar decepcionado consigo mesmo, como se todo o seu trabalho tivesse sido em vão.

"Se fosse, eu não teria chamado você aqui. Elas são parecidas, mas não é ela! Não é quem eu queria", esbravejou o chefe, demonstrando sua irritação em relação ao seu subordinado.

"Acredito que tenha havido um engano, senhor. Peço desculpas", curvou-se o empregado, reconhecendo seu erro.

"Engano? Você está brincando comigo? Sabe de uma coisa, já que o erro foi seu, explique a situação para ela!", ordenou o chefe, saindo do quarto visivelmente irritado.

Em seguida, o empregado começou a me explicar toda a situação. "Bom, mil desculpas, srta. S/N", iniciou ele.

"Pelo fato de ter me raptado? Se desculpas adiantassem, a polícia não existiria", retruquei, estendendo meu braço para alcançar minha bolsa que estava sobre um criado-mudo ao lado da cama, determinada a chamar a polícia.

"Por favor, não faça isso!", ele disse, demonstrando certo receio.

"O que está dizendo? Você me raptou, acha mesmo que não vou chamar a polícia?" Ele suspirou, sentindo-se acuado.

"Tudo bem, então, mas se for ligar, coloque toda a culpa em mim. Deixe o chefe fora disso. Afinal, fui eu quem te raptou." A medida que ele pronunciava aquelas palavras, percebi uma mudança em seu tom de voz, como se estivesse apenas cumprindo seu trabalho. Essa percepção fez com que eu repensasse minha decisão. Eu joguei meu celular de lado, abandonando a ideia de ligar para a polícia.

"Você não vai ligar? Ok, muito obrigado", ele expressou um sorriso agradecido em seu rosto. Poucos segundos depois, o telefone dele tocou e ele saiu do quarto para atender, me deixando sozinha ali. Fiquei ali por algum tempo, refletindo sobre o motivo pelo qual fui raptada e como conseguiram fazer isso sem que eu percebesse.

"Uau, que quarto gigante. Ele é maior que todo o meu apartamento. Essa casa deve ser uma mansão... Ah, quem se importa? Eu preciso sair daqui o mais rápido possível!" Peguei minhas coisas e dirigi-me em direção à porta. Enquanto caminhava, não pude deixar de notar a grandiosidade da casa e sua decoração impecável. No entanto, algo além disso capturou minha atenção. Ao longo do corredor que levava ao quarto em que eu estava, havia várias outras portas, cada uma delas com um segurança posicionado em frente.

Dúvidas começaram a surgir em minha mente. Que tipo de lugar era esse? Será que ele sequestrava pessoas? Ou talvez realizasse sacrifícios humanos? A simples ideia me arrepiou por completo. No entanto, eu decidi ignorar qualquer suspeita e continuei caminhando, ansiosa para sair dali o mais rápido possível. Foi quando esbarrei em alguém.

"Ai!", soltei uma pequena exclamação.

"Você? O que ainda está fazendo aqui?", ele perguntou, surpreso com meu encontro inesperado.

"Eu... estava procurando a saída! Não se preocupe comigo. Já estou de partida", respondi, pronta para seguir meu caminho. No entanto, ele segurou firmemente meu braço. Surpresa com sua audácia, dei um passo para trás.

Ele olhou para o relógio em seu pulso. "Está quase na hora do almoço", disse ele.

"E daí?", respondi, confusa.

"E daí que você vai ficar para comer. Depois disso, pode ir embora", falou autoritariamente, como se dar ordens fosse algo rotineiro em sua vida.

"Nem pense nisso. Eu como algo na rua, obrigada", retruquei, pronta para partir novamente.

Mas ele me puxou mais uma vez, nossos corpos se chocaram. Ele olhou profundamente nos meus olhos. "Eu não estava perguntando, querida", ele afirmou com desdém, revelando um sorriso astuto e desafiador. Em seguida, ele gritou novamente pelo seu empregado, que apareceu segundos depois.

"Tire essa garota da minha casa imediatamente. Não quero vê-la nunca mais", ordenou ele, expressando claramente sua aversão.

"Digo o mesmo a você", respondi, desafiadora, enquanto me afastava.

Com um misto de raiva e desapontamento em seu olhar, ele viu enquanto eu me retirava do local. A sensação de alívio e liberdade preencheu meu ser, mas uma pergunta continuava ecoando em minha mente: por que fui arrastada para essa situação? E o que me aguardava além daquelas portas?

À medida que eu deixava aquela casa sombria para trás, percebi que a minha experiência de ser capturada e enfrentar o desconhecido havia despertado uma curiosidade macabra dentro de mim. Uma inexplicável atração por tudo aquilo tomou conta de mim.

Doce ObsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora