19 Capítulo 🦋

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Algumas semanas após minha conversa com a Suzana,eu finalmente consegui sair pela primeira vez depois de muito tempo e inúmeras tentativas. Fui ao culto e levei a Suzana comigo,me senti em uma leveza que eu não sentia a muito tempo,as palavras que ouvi renovaram minhas forças para enfrentar quantos leões fossem necessário.
Ao voltar para casa em meio a alguns sorrisos,paralisei e imediatamente minha alegria se foi. Senti meu coração falhar um batimento e meus nervos totalmente descontrolados.
-Anne,você está pálida,está tudo bem? - minha amiga se assustou ao olhar pra mim.
-Eu devo estar louca. - minha voz saiu fraca e ela se colocou na minha frente segurando meus braços gentilmente.
-Por que pensa isso?
-Porque estou vendo a Angélica em minha porta. - olhou na mesma direção que eu e apenas depois de alguns segundos voltou a falar.
-Podemos voltar daqui,ela não nos viu. - exclamou.
-Não... - respirei fundo com os olhos fechados - esse encontro um dia aconteceria e será melhor acabar logo com isso.
-Tem certeza? Você não parece bem.
-E não estou - olhei em seus olhos e comecei a ir em direção a Angélica. - O que faz aqui? - questionei quando ao me aproximar.
-Onde estava,não têm horas para voltar para casa? - Ignorei sua pergunta e reforcei a minha
-Perguntei o que faz aqui.
-Vim ver minha neta,o que mais eu faria aqui? - Suzana me olhou com discreto espanto enquanto mais uma vez respirei fundo e busquei manter o controle do meu corpo que tremia por dentro.
-Agora você a chama de neta?
-Não seja ridícula,quero ver a filha do Apolo.
-Angélica,vai embora daqui,por favor. - fechei os olhos esperando assim adquirir alguma paciência.
-Eu não vou a lugar algum, tenho direito de ver a minha neta. Afinal com quem a deixou para ganhar o mundo sem ter horas pra voltar?
-Você se refere a neta que você chamava de problema? Que desejava a todo custo arrancá-la do meu ventre,pois ela atrapalharia a vida do seu amado filho?! - senti estar perdendo o controle de mim mesma.
-Não ouse falar do meu filho - levantou seu tom de voz.
-Não ouse achar que tem o direito de ver a minha filha, você não a aceitou quando teve a chance - exclamei.
-Anne,calma - senti a Suzana segurar levemente meu braço, suas mãos estavam frias.
-Eu quero ver a minha neta,agora! - se moveu indo em direção a porta.
-ELA ESTÁ MORTA - gritei o mais alto que consegui no momento e a vi parar abruptamente. Então me pus entre ela e a porta.
-Morta? - pareceu confusa.
-Não ouviu o que falei? Sua NETA está MORTA. - eu nunca havia falado aquilo em voz tão alta.
-Você está mentindo,não quer que eu a veja.
-Pouco me importa se não acredita. - enxuguei rapidamente uma lágrima.
-Quem você pensa que é pra esconder algo assim de mim?
-Para que assim você pudesse comemorar? Afinal era isso que você almejava. - sem chance de reagir levo um tapa no rosto e ouço Suzana dar um leve grito de surpresa.
-Não seja ridícula,eu não queria a morte dela,muito menos comemoraria - respondeu entre dentes.
-Não te contaram como são os abortos ? É exatamente isso que acontece com a criança,ela morre! - frisei a última palavra.
-O que fez com a filha do meu Apolo? - estava claro que ela não acredita em minhas palavras e não me importava muito com isso,afinal em palavras ela havia deixado claro que jamais amaria a Ana um dia.
-Tudo que precisa saber é que não segui os seus conselhos, Angélica. - enxuguei as lágrimas que pretendiam transbordar dos meus olhos.
-Você não mudou nada - falou com desdém.
-Situações me fizeram mudar, situações que não desejo nem mesmo para alguém como você. Mas acredite,essas mesmas situações me mudaram o suficiente pra eu me esforçar pra te perdoar,mas você chegou cedo,ainda estou no processo.
-Por outro lado,essa criança tirou uma grande sorte por não ter você como mãe. - meu coração levou um baque com aquelas palavras.
-Você é maluca? Como pode dizer algo assim? - notei a fúria de Suzana em cada palavra.
-Você não me deixou ver o Apolo, e desde a morte dele nunca havia procurado saber como estava a Ana, Respeito sua frustração de não encontrar quem procurava e quero que compreenda que também perdi alguém. Ela era minha filha. Não tem o direito de chegar na minha casa e falar o que bem pensa, você pode acabar ouvindo o que não quer.
-Sobre isso... - mexeu rapidamente na bolsa que usava de lado - quero que saia imediatamente desta casa,está me ouvindo? - balançou um papel perto do meu rosto.
-Por que acha que tem direito sobre meu teto? - pergunto confusa.
-Porque seu teto é propriedade do meu filho e a partir do momento que ele se foi,passou a ser propriedade minha.
-Mas essa casa nunca foi do Apolo. - por alguns segundos pensei que Angélica estava ficando louca.
-Antes de entrar nela,ela já era dele,foi o "presente" do Thales pelo "casamento ridículo de vocês" . - revirou seus olhos.
-A mentira está no sangue da família. Quer a casa?te darei,mas não será hoje e muito menos amanhã,sei dos meus direitos e irei usá-los. As chaves da casa estarão em suas mãos a exatamente daqui a trinta dias,nem mais nem menos. - tentei demonstrar firmeza mesmo abalada com a informação.
-Não duvide que eu possa te colocar pra fora.-Não percebi a aproximação do Rafael até ouvir sua voz chamando meu nome e interrompendo a "conversa"
-O que faz aqui? - então olhei para a única pessoa que poderia tê-lo chamado - Suzana...
-Desculpa... - disse baixinho e sem jeito.
-Ah,vejo que lidou maravilhosamente bem com a perda do meu filho - exclamou olhando o Rafael de cima a baixo. - Meu filho só poderia estar louco quando resolveu se envolver com você.
-Angélica, por favor,não vamos falar de loucura.
-Sou o advogado dela e se é o que deseja, iremos à justiça. A lei está ao lado dela e facilmente ela ganhará a causa - olhei para o Rafael me esforçando para não demonstrar surpresa. Ela não olhou para trás antes de entrar no carro e ir embora. Após respirar fundo, pedi que a Suzana e o Rafael entrassem.
-Acredito que os vizinhos já viram o suficiente - disse abrindo a porta. - Querem uma água,suco? - joguei as chaves no sofá.
-Não, Obrigada - o Rafael também negou - e você,está bem? - pareceu insegura em perguntar.
-Estou. Como disse,uma hora ou outra esse encontro aconteceria. Desculpa o incomodo, a Suzana não deveria ter te incomodando.
-Não foi incômodo,eu já estava no caminho da sua casa.
-Estava? - perguntei surpresa sentando.
-Senti saudades e estava vindo te ver.
-Eita,eu estou de saída - Suzana levantou rapidamente do sofá e antes de sair recebi dela um leve aperto no ombro. Fiquei sem palavras, não sei se existia alguma para essa situação.
-Te vi no culto mais cedo. Fiquei muito feliz em te ver lá e também por não ter saído da cidade. Fiz planos de ir até você quando acabasse, mas houve alguns imprevistos.
-Você e seus imprevistos - sorri fraco - Eu não te vi...e já faz um tempo que nos vimos.
-Bastante, Annelise. Te ver hoje me fez perceber que algumas coisas mudaram.
-Outras nem tanto. - esperei que entendesse ao que me referia.
-Mas você está indo muito bem.
-Queria te agradecer,sei que já faz um certo tempo mas fiquei sabendo apenas a alguns dias. - tomei um pouco de água enquanto observava a expressão de confuso em seu rosto,não sei se por curiosidade ou pelo fato de eu mudar o assunto - sei que me doou sangue,e não poderia deixar de agradecer.
-Ah,você soube? - fez uma leve expressão de sem jeito.
-Sim. Sabemos que não é fácil encontrar nosso tipo sanguíneo,então não diga que não foi nada,tenho muito o que agradecer a você - minha vontade também era agradecer por ele enfrentar seu trauma apenas para me ajudar. Mas não queria constrangê-lo.
-Agradecimentos recebidos com sucesso - recebi um leve sorriso e levantou para ir embora. - desculpa,mas não posso ir sem antes perguntar... o que pretende fazer?
-Honestamente, não sei. Quando penso ter tudo sob controle me surgem novos problemas. - suspirei.
-De qualquer forma, se precisar de algo e eu puder ajudar,pode me ligar.
-Obrigada Rafael. - ele apenas assentiu antes de ir embora.
Durante a noite recebi uma ligação do Thales,ele estava com a Angélica hoje pela tarde, mas disse estar envergonhado demais para ir até mim, então optou por esperar a sua mãe no carro. Ele lamentava em voz embargada a morte da sobrinha. Estava claro que ele se sentiu culpado pelo o que aconteceu com a Ana e mesmo que eu dissesse inúmeras vezes que não foi sua culpa, não o convenceria disso.

Cicatrizes de uma borboleta (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora