Meu tempo estava se esgotando e eu não tinha onde cair morta. Pensei que não precisasse me preocupar com despesas de aluguel por um bom tempo, mas estava como sempre enganada. Após a morte do Apolo,não tive opção a não ser usar o dinheiro que recebi do Thales para meu sustento, afinal ninguém daria emprego a uma menor de idade.
Mas algo de bom o tempo me trouxe,meus dezoito anos,e é o que eu precisava para ter ao menos uma chance de ter um trabalho.
Depois de andar por horas a procura de um,entrei em uma cafeteria, após comprar um café na saída por pouco não me esbarrei no Rafael.
-O que faz por aqui? - perguntou antes mesmo do meu pedido de desculpas.
-Comprando um café e você? - olhei em volta.
-Moro aqui perto,é um lugar que sempre frequento. - apontou para a cafeteira atrás de mim.
-Ah,é claro - sair do caminho para que entrasse - uma boa noite, Rafael.
-Já são quase sete da noite,você está um pouco longe de casa, se esperar alguns minutos posso pegar meu carro.
-Não,não precisa, está uma ótima noite para uma boa caminhada - sorri levemente.
-Então não importa se eu acompanhar você.
-Não tem que ir pra aula? - foi impossível não observar o quanto estava bem vestido em seu palitó preto e gravata azul Royal.
-Não,dei a mim mesmo férias de um dia,precisei ir a uma reunião - pôs uma das mãos no bolso da calça social.
-Ah, então tudo bem. - tomo um pequeno gole do café.
-Se importa em esperar eu comprar um café ? - apontou discretamente mais uma vez para a cafeteria.
-Sem problemas, estarei te esperando aqui fora.
-Ok,serei rápido. - entrou no local com uma certa pressa e alguns minutinhos depois voltou com um copo de café em mãos - vamos?
-Vamos lá - respondi sem tirar os olhos de uma garota que passava do outro lado da rua de mãos dadas com um rapaz.
-Acho que veio um pouco longe demais, por um café - brincou após observar para o que chava minha atenção e eu desviei o olhar dando início a caminhada.
-Não foi apenas por um café. - sorrio fraco.
-Não conseguiu o emprego? - neguei com a cabeça.
-De acordo com eles "não tenho experiência". Fica impossível ter alguma se não recebi uma oportunidade - revirei os olhos e ele sorriu.
-Quando pretende se mudar? - toma um pouco do líquido.
-Assim que encontrar uma casa disponível. Está bem difícil.
-Seu prazo não acaba na próxima semana?
-Sim,e estou ficando louca.
-Tem preferência de lugar? Posso te ajudar a procurar.
-Não,na verdade, apenas não quero voltar para minha cidade. - permanecia segurando o copo agora vazio.
-Eu entendo, então acredito que tenho a solução.
- E qual seria? - seria uma luz no fim do túnel?
-Você pode morar na minha casa. - balançou um pouco o copo para garantir que também havia finalizado seu café.
-O quê? - parei abruptamente.
-Não me refiro a casa que estou morando no momento,mas na casa que tenho na minha cidade natal a algumas horinhas daqui.
-Desculpa,estou confusa.
-Eu tenho uma casa disponível na cidade vizinha,são menos de duas horas daqui. Caso queira pode morar nela até quando quiser ou até encontrar um lugar melhor. Você não iria precisar se preocupar com aluguel e seria uma preocupação a menos.
-Está oferecendo sua casa a mim e sem ter que pagar o aluguel?
-Em resumo ,é isto.
-É a sua casa! - eu estava visivelmente espantada.
-Uma casa que não moro mais nela e repito, está disponível para você. Você disse que o local não é um problema e pouco tempo atrás tinha planos de sair da cidade. Então...
-Não,não posso aceitar. Obrigada. - voltei a caminhar e ele fez o mesmo.
-Para de ser difícil,estou tentando te ajudar.
-Não quero sua ajuda. - digo de imediato.
-Pode ao menos tentar pensar na proposta? - segurou gentilmente meu pulso com a intenção de me fazer parar,e mais uma vez estávamos parados no meio da rua um olhos nos olhos do outro.
-Não posso morar na sua casa sem nem ao menos pagar aluguel.
-Eu não preciso de dinheiro.
-Isso não me importa,Rafael.
-Você não tem emprego e morando lá você também estará me ajudando,tenho um grande carinho pela casa e pela vizinhança, não alugaria ela para qualquer pessoa,a prova disso é que desde que saí ela permanece vazia. E se caso não aceitar,ela continuará da mesma forma.
-Não morarei lá sem pagar aluguel. - disse determinada. - não vai de convencer do contrário.
- Então você pode pensar em uma forma de me pagar enquanto mora nela.
-Rafael,assim eu não quero.
-Posso te buscar amanhã,caso suas coisas já estejam prontas.
-O quê? - ele voltou a caminhar sem se importar com meu espanto.
-Foi algo que iria te sugerir naquele mesmo dia,mas não achei apropriado. Então…amanhã?
-Não é bem assim,é uma loucura a ser muito bem pensada.
-Loucuras não são pensadas,apenas feitas.
-Diminuirá meu tempo de pensamento caso aceite o aluguel.
-Não há dinheiro que pague por aquela casa,Anne, então não tem porque me pagar.
-Estamos falando de uma casa, certo? - me perguntei o que aquelas palavras significavam.
-Não quero que pense que sou apegado a bens materiais,mas foi lá que vivi os momentos mais felizes da minha vida e há memórias muito importantes pra mim. - vi seus olhos lacrimejarem.
-E tem certeza da proposta que está me fazendo? - me olhou nos olhos.
-Você precisa de um lar e eu tenho esse lar,é simples.
- Não,não é simples, Rafael.
-Eu confio em você - aquelas últimas palavras bastavam para mim.
-Podemos ir quando estiver disponível. - disse ainda insegura da decisão que tomei. - mas não pode ser amanhã pois preciso me despedir da turma e da Suzana.
-Ótimo. Então podemos ir depois de amanhã e como seu advogado,devolverei as chaves à senhora encrenqueira.
-Você não é meu advogado. - disse sorrindo.
-Ela não sabe disso. - deu de ombros.~•~•~•~•~•~•~•~•~•~•~•~•~•~•~•~•~•~•~•~•~•~•~
E como vai a leitura??
Estamos indo para o último capítulo e espero muito que estejam curtindo a leitura!❤️
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Cicatrizes de uma borboleta (Livro 1)
RomansAnnelise aos 17 anos engravida de Apolo e acaba sendo expulsa da casa de seus pais. Não apenas pela gravidez mas também por jamais concordarem com o relacionamento deles. Além da dor da rejeição, ela encontra novos desafios pela frente. Com o objeti...