Capítulo 07

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Aqui eu descrevo com detalhes a chegada de João Filho de volta à Ibipiranga 18 anos depois da chacina de sua filha, agora um adulto transtornado e endurecido pelas lembranças do passado.


JOÃO



Naquela tarde, o vapor que trouxe Vivian não seria o último a passar por Ibipiranga, pois vários trens passam pela estação ferroviária durante o dia, tanto de passageiros como de carga.

O sol já está prestes a se pôr naquele dia, o poente está alaranjado à espera do crepúsculo, e já não há mais muita gente na plataforma da estação, quando mais um vapor se aproxima da cidade.

O Sr. Pingo está lavando alguns copos na pia do balcão de seu bar, quando nota a fumaça da locomotiva que se aproxima. Logo ele percebe também a chegada de alguns homens fortes e robustos na plataforma da estação, aguardando a chegada do veículo, que pelo jeito não vem trazendo passageiros, mas sim alguma espécie de carga.

Como tem poucos clientes no bar naquela hora, o velho Sr. Pingo larga os copos e caminha em direção à plataforma, na intenção de saber que carga é aquela que está chegando. Ele avista um velho homem, de chapéu de palha e roupas rudimentares, que parece liderar os carreteiros. Ele então se aproxima daquele homem ainda enxugando as mãos com um sujo pedaço de pano.

– O que é que está chegando aí, Sr. Valério?

– São fardos de palha e caixas de ferragens, lá pra fábrica de chapéu do José Couto – responde o velho homem enxugando a testa, molhada de suor, com um pequeno lenço.

– Oh sim. Pensei que fosse mais material para as minas de granito – comenta o Sr. Pingo.

– Pois o amigo se enganou.  As cargas de Carlos Lucena, o vapor está indo deixar lá dentro das minas – afirma Seu Valério ainda enxugando a testa.

– Verdade?

– Verdade. O Sr. Carlos fez um contrato com a Companhia para que todas as suas encomendas fossem deixadas na porta das minas, até por que a linha férrea passa por lá – explica o velho Valério, já se dirigindo para os carreteiros, visto que o trem já está bem próximo.

– É, tem razão – concorda o Sr. Pingo, retornando para o bar.

O vapor então para na estação. Sem dúvida é um trem de carga. A fumaça da locomotiva cobre quase toda a plataforma, logo seus vagões são abertos e os fortes homens que estavam à espera da carga, começam a descarregar os inúmeros fardos de palha, e num vagão mais adiante, outros descarregam pesadas caixas de ferragens, todos sob o comando de Valério, que não para de enxugar a testa.

Novamente dentro do balcão do bar, Seu Pingo e Dona Josefa observam atentamente o trabalho duro daqueles carreteiros. A velha mulher comenta para o marido:

– Difíceis os tempos em que você trabalhava desse jeito, hein Pingo?

– É minha velha. Não gosto nem de lembrar – responde o velho, voltando a lavar os copos.

– Ainda bem que nosso bar foi pra frente, senão ainda hoje você estaria nessa vida – continua Josefa.

O Sr. Pingo solta um leve sorriso, meio irônico, balança a cabeça de forma negativa e continua a lavar seus copos. O bar está bem vago, já que das sete mesas que existem, apenas quatro estão ocupadas, enquanto algumas pessoas passam em frente, olham e depois vão embora.

De súbito, entra no bar o rude Pedrosa acompanhado de uma mulher abraçada a ele. O estado de embriaguês dele agora é deplorável, pois na verdade não dá pra saber se a mulher está abraçada com ele por ser alguma namorada ou porque está segurando-o pra não cair. O Sr. Pingo observa a situação de Pedrosa e comenta em voz baixa pra Josefa:

"TERRA SEM LEI" - Romance sertanejoOnde histórias criam vida. Descubra agora