infância

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   Eu tinha 12 anos, estava sozinho na cozinha com meu irmão, a tv esta ligada, o jornal nacional acabou de começar, meu irmão me pergunta oque eu queria para o jantar e eu rapidamente respondo:
  —aquela sopa la com massa boiando—
—capelatti  in brodo— ele me corrigiu.
A mesa de jantar esta fazia e a casa silenciosa, faz pouco tempo que meu pai tinha ido embora e mamãe, embora sempre cheia de vida, não tinha vida pra gente, sentiamos falta do carinho e tudo aquilo era muito novo e muito estranho, meu irmão que convenhamos, nunca foi um bom cozinheiro decide então fazer a sopa.

  Para preparar o caldo de carne, ele pega um pedaço de maminha que sobrou do churrasco do final de semana, duas línguas e bate no liquidificador com água, quando finalmente percebo a existência daquela papa cinzenta, que meu irmão insistia em nomear de caldo, eu percebi que ele não tinha ideia do que tava fazendo, e não estou falando somente da sopa, parece que ali, vendo meu irmão criar uma nova raça humana, eu finalmente percebo que aquele momento, aquele único momento, naquele silêncio e nós dois sozinhos... é novo pra ele tambem, sentado na mesa de jantar comendo uma sopa radioativa, eu finalmente comecei a ver meu irmão como uma espécie de estátua inabalavel, um heroi perfeito, e mais como um...humano, talvez ali eu tenha começado a entender que adolecente não são adultos e sim crianças com um pouquinho mais de altura e experiências, que sentem as mesmas inseguranças, o mesmo sentimento do pavor do escuro, que sentiam as mesmas dores.

  Percebi ali que meu irmão estava perdido, assim como eu, mais ali, naquele momento, tomando aquela sopa tenebrosa! A gente tava perdidos juntos... eu acho que a gente se encontrou junto tambem

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