Os Norwood

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04:53

     Estavam dois idosos sentados em cadeiras de balanço feitas de madeira no alpendre fora de casa. Em cima da porta de tela atrás deles havia uma lamparina de vidro pendurada, cheia de pequenos vaga-lumes cintilantes. A cadeira da senhora Norwood fazia um ruído estranho ao tocar a tábua de madeira frouxa no chão, mas estavam ali a tanto tempo que se acostumaram com o barulho.
     Ouvia-se apenas o som da brisa gelada daquela madrugada varrendo o gigantesco milharal alguns metros à frente deles. Era fresco e confortável. O céu estava absurdamente limpo. Apenas duas coisas ocupavam o azul escuro infinito daquela noite, a lua e um misterioso ponto brilhante estático.

   — Duas garotas foram presas hoje. — disse o velho, com a voz rasgada.

   — Porque? — a senhora observava o ponto brilhante.

   — Esfaquearam a amiga no meio da floresta perto da rodovia Haddonfield. Disseram que uma "criatura mística" as mandou fazer aquilo.

   — Esse mundo tá cada vez mais doido, Ed.

   — É. Oque você tá olhando?

   — Aquela coisa. Nunca vi algo assim. Não estava aqui ontem nem antes de ontem.

   — Deve ser uma estrela. Algumas são tão brilhantes que podemos ver daqui da terra.

   — Não sei.

   — Talvez seja uma nave alienígena. Sempre aparecem em fazendas essa época do ano. — tom de sarcasmo.

     E tirou uma pequena risada dela. — Espero que sejam.

   — Não vamos ter a câmera pra capturar esse alien.

   — Nem tudo que aconteceu foi documentado, Ed. Nossas memórias são mais valiosas que um pedaço de papel.

   — Talvez... acho que ele se mexeria se fosse um alien.

   — Vai ver está em uma cabine de controle, observando a gente de volta com um telescópio.

     Ele ergueu a mão na direção do ponto brilhante, acenando lentamente. Quebrando qualquer expectativa, algo estranho aconteceu. A luminosidade apagou. Acendeu novamente, piscou duas vezes, e apagou mais uma vez, acendendo em seguida.
     O senhor e a senhora Norwood se levantaram das cadeiras imediatamente, de olhos arregalados, fitando aquele ponto. O brilho começou, estranhamente, a descer no céu, até chegar ao chão, se escondendo em algum lugar atrás do milharal.

   — Jesus, Maria e José.

   — Molly querida, vá pegar a câmera. — o senhor pegou uma escopeta que estava encostada na parede perto da porta.

     A senhora entrou em casa e voltou com uma câmera analógica nas mãos. Ele carregou a arma, e entraram juntos no milharal.

06:10

     Podia-se ver o sol nascendo no horizonte, se levantando atrás do milharal. Os dois saíram de lá, e andavam estranho, falavam estranho, e olhavam estranho. O senhor estava sem a arma e a senhora sem a câmera. Apenas ali, parados, com manchas de sangue pelas roupas.

   — Vovó? Vovô? — perguntou uma criança na porta, sonolenta. — Onde vocês estavam?

   — Somos normais, querido. — disse a senhora.

   — ... Oque? — ganharam a atenção do garotinho.

   — Somos normais, Timmy. Somos normais.

   — V-vocês não estão me parecendo muito normais agora...

   — Vem dar um abraço na vovó, vem.

     Relutante, o garoto foi até eles, amedrontado. Não foi até os braços da avó, mas sim ficou parado a dois metros de distância dos dois, os observando.

   — Vocês não são o vovô e a vovó... ou são?

     Ao mesmo tempo, Ed e Molly abriram sorrisos pontiagudos de orelha a orelha. A criança arregalou os olhos.

08:23

     Numa área residencial, um carteiro passava de bicicleta pelas ruas, jogando jornais nas portas das casas. Um homem de roupão cinza abriu a porta, pegou o jornal e o abriu, lendo no café da manhã. A manchete da primeira página era sobre uma pesquisa que encontrou corpos de cientistas e exploradores congelados no ártico, que datavam de trinta anos atrás.

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