BROKEN | SHEIBI

Quebrada

Outubro 2018

Quebrada. Assim era como Gabi se sentia, mas não quebrada de forma convencional, como quando marcava o último ponto de um acirrado Tie-Break. Ela se sentia quebrada da pior maneira possível, quando todos os seus sentidos se transformavam em um grande amargor, e mal conseguia lembrar qual era a sensação de felicidade. Nem mesmo quando ergueu sua última taça pelo Minas Tênis Clube ou quando soube que seria tia.

Estava quebrada da forma mais profunda e devastadora: um coração partido, uma desilusão amorosa que ela vinha tentando adiar há meses. Uma desilusão tão intensa que parecia quase impossível se reerguer novamente. Um amor que não poderia ser vivido, uma nova temporada, um novo clube, uma nova equipe.

- Você está fugindo das responsabilidades! Gabi você precisa ir, ela estará lá! Ela está te esperando! - Gattaz bradava enquanto apertava firmemente o volante de sua inconfundível BMW.

estava realmente ouvindo?
Perguntava a si mesma. Acreditava que não. Se estivesse ouvindo, não estaria no carro. Estaria onde deveria estar. Pelo modo como Rosa e Gattaz a olhavam, tinha certeza de que ela não estava ouvindo. Ou talvez preferisse não ouvir.

- Gabriela não está te escutando, Carol. Deixa ela. Não vai adiantar de qualquer forma, a decisão já foi tomada. - Diz Rosamaria, com toda a arrogância presente em sua voz. Gabriela odiava aquele tom de voz, como se soubesse de tudo. Como se Gabriela tivesse tomado a decisão mais idiota da semana. Já estava tudo acabado, então por que ela precisaria se importar? Voltar para onde a machucava não estava nos seus planos tão cedo.

Como eu poderia voltar se ela que me mandou embora?
Como eu poderia voltar se ela tem outro?
Como eu poderia voltar para Sheilla quando mal conseguia olhar em seus olhos?

Perguntava a si mesma várias vezes, como vinha fazendo nos últimos dias, desde que as mudanças no mercado de vôlei vieram a público. Desde que todos ficaram sabendo que Gabriela havia assinado com o VakifBank, o maior time da Turquia. Desde que todos ficaram sabendo que Gabriela, a principal jogadora do Minas, a capitã Gabriela Guimarães, havia assinado com um time do outro lado do mundo.

Para ser reserva.

Gabi se ajeita desconfortável no banco da BMW, passa as mãos agora suadas e ainda um pouco trêmulas pelo treino intenso em suas coxas, numa tentativa falha de enxugá-las. Passa a língua nos lábios procurando as palavras. Mesmo inconscientemente, buscava o sabor dela, mas como em todas as outras vezes, encontrava apenas o amargor, tanto das palavras a serem ditas quanto de toda a mágoa presente ali.

- Carol... - Começa, tentando encontrar as palavras, resta apenas a sensação de vazio, como se estivesse perdida há semanas. Estava confusa, sem saber o que dizer ou como agir. Sentia-se perdida e extremamente machucada. Talvez fosse por isso que afastava tudo e todos, completamente em modo defensivo

como um animal ferido.

Pensa por um momento, respira fundo e continua, agora com a voz embargada pelo choro e lágrimas não derramadas:

- Ela não estará lá, ela... acabou, ok? Só.. Eu vou pra a Turquia e tudo isso com Sheilla acabou, foi só... Não vai mais acontecer, ela está com Brenno e eu não posso mais... Eu preciso focar na minha carreira

Gattaz respira fundo e sente a mão de Rosamaria em sua coxa. Ele morde levemente o lábio antes de recomeçar. Gabriela tenta decifrar o olhar de suas ex-companheiras de time: piedade? Compaixão? Ela nunca saberia dizer ao certo.

- Gabi, talvez você tenha entendido errado, o que foi mesmo que ela disse? Ela, aquele cara, realmente acha que é o que ela quer? Acha que vai longe? Vocês... Porra! Era o amor mais sincero que eu já vi, o que aconteceu?