Fuga

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Fugindo. Foi assim que Gabriela passou suas últimas semanas no Brasil, correndo e se escondendo daqueles olhos castanhos que tanto a perseguiam. Sua rotina estava bagunçada pela viagem, e a ansiedade consumia seus pensamentos de uma forma que era impossível de ignorar.

À medida que o dia marcado para pegar o avião se aproximava, Gabriela se viu em um bar com todas as meninas do time. No entanto, para sua surpresa e de todos, Sheilla não estava presente. Enquanto tomava seu martini, Gabriela observava todas as garotas ao seu redor, sentindo-se acolhida. Por mais que Sheilla a tivesse procurado durante toda a semana, fazendo Gabriela acreditar que ela estaria lá naquela noite, foi um tremendo alívio quando Thaisa confirmou que a Oposta não compareceria. Segundo a Central, a desculpa da vez era que Sheilla estava passando mal, assim como em todas as outras ocasiões em que marcavam de sair e Sheilla precisava estar no mesmo lugar que Gabriela.

A cada evasão, Gabriela sentia uma mistura de alívio e tristeza. Por um lado, escapar de um encontro com Sheilla significava evitar a dor de vê-la com Brenno, mas, por outro lado, a ausência daquela conversa adiada também deixava um vazio em seu coração. Ela se perguntava se estava tomando a decisão certa, se deveria enfrentar aquela situação de uma vez por todas.

Os treinos se tornaram cada vez mais angustiantes para Gabriela. Ela via Sheilla em quadra, a presença dela se tornando mais opressiva a cada toque na bola. Cada vez que seus olhares se cruzavam, Gabriela sentia uma onda de emoções conflitantes: amor, tristeza, raiva e decepção. Ela queria se aproximar, confrontar Sheilla, mas o medo de ser rejeitada ou de descobrir que nunca foi o suficiente para ela a impedia.

A cada dia que passava, Gabriela se sentia mais afundada em sua própria angústia. Ela se isolava do restante do time, evitando conversas casuais e qualquer interação que pudesse trazer à tona o assunto delicado. Ela se perdia em pensamentos dolorosos durante os treinos, tentando disfarçar sua dor e continuar jogando como se nada estivesse acontecendo. Mas, por dentro, sua alma estava em frangalhos.

A solidão começou a consumir Gabriela. Logo ela estaria em um novo país, sem ninguém em quem confiar ou desabafar. A falta de comunicação com as pessoas ao seu redor agravava ainda mais a sensação de estar perdida e desamparada. A cada noite solitária em seu quarto, ela se perguntava se algum dia encontraria a felicidade novamente, se conseguiria superar essa dor dilacerante que a acompanhava

Gabriela pacientemente arrumou suas malas, doou o que ficaria e se despediu de sua família, estava ansiosa e apreensiva, não havia nada mais que ela poderia fazer para voltar atrás.

Gattaz se ofereceu pra levar Gabriela ao aeroporto, a ponteira aceitou sem discussão, o caminho todo ocorreu em um silêncio ensurdecedor, Rosamaria por sua vez até tentou puxar alguma brincadeira ou um comentário sarcástico, mas, percebendo o clima pesado, preferiu ficar em silêncio.

Gabriela não tardou, assim que chegou fez o Check-In e se sentou em uma das cadeiras junto de Gattaz e Rosamaria, logo seu voo seria anunciado, as outras meninas do time ficaram de aparecer mas até então não haviam chegado. Gabriela sentia as emoções a flor da pele, sua boca seca e os olhos marejados antes mesmo de ter de se despedir de fato de suas amigas e de seu país.

Estava pensativa, valia a pena sair de seu posto de capitã para ser reserva? Se fez tanto essa pergunta nos últimos dias e chegou à conclusão que, sim, valia a pena, valia muito por se encontrar o mais longe possível de Sheilla.

Mas então seus olhos curiosos passado pela multidão cruzaram com os assombrosos olhos castanhos.

Entre a multidão de pessoas, Sheilla, acompanhada das outras meninas do time, procurava desesperadamente por Gabriela. Seus olhos castanhos escaneavam cada rosto na esperança de encontrá-la antes que fosse tarde demais.

BROKEN  |  SHEIBIOnde histórias criam vida. Descubra agora