Conflitos

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Gabriela finalmente acordou.

Depois de uma noite de sono tão profunda que quase parecia uma eternidade, seus olhos se abriram com um ímpeto, e o coração acelerado denunciava a excitação que sentia ao lembrar da intensidade da noite passada. Ela olhou para os próprios braços, onde o calor do corpo de Sheilla ainda ecoava em sua pele, e uma onda de emoções avassaladoras a dominou, sentiu-se tentada a tocar a mais velha porém queria dar um basta aos seus desejos.

Admirando aquela figura envolvente de Sheilla ao seu lado, Gabriela percebeu que não era um sonho; tudo tinha sido real. A saudade que sentia, mesmo estando juntas, era palpável, e ela não conseguia se conter, inalando o perfume dos cabelos da mulher mais velha para guardar cada detalhe daquele momento único.

Uma ultima vez

pensou Gabriela.

Com uma suavidade quase reverente, Gabriela se desvencilhou dos braços de Sheilla e verificou a hora no celular. Ainda era cedo, mas o coração acelerado indicava que não havia mais espaço para o sono ou a tranquilidade, a ansiedade em manter tudo como estava não dava espaço para brechas em sua paz. Calçou os chinelos com pressa, seguindo o impulso de levar sua energia pulsante para o banheiro, mas a vontade de acordar Sheilla a fez hesitar. No entanto, ao observá-la tão serena no sono, ela decidiu respeitar aquele momento de paz e se conteve.

Enquanto isso, o despertar de Sheilla foi uma experiência agridoce. Sentia falta dos braços carinhosos de Gabriela que a envolveram durante a noite toda, daquele calor, a segurança que a mais nova proporciona a si fazia com que tudo ficasse no passado. Era como se a proteção que tanto almejava finalmente estivesse ao seu alcance, mas agora parecia se esvair novamente. Ela lutava contra os pensamentos intrusivos de que tudo poderia não passar de um breve vislumbre de felicidade, e a angústia a corroía por dentro.

Ao se levantar, Sheilla tenta encontrar conforto em suas rotinas matinais, mas mesmo seu ritual habitual de higiene era interrompido por dúvidas atormentadoras. Será que Gabriela se arrependeu? Será que aquele momento intenso de conexão foi apenas um desvio em seu caminho? A tristeza que a assolava quase a fez desmoronar, mas ela se forçou a continuar.

No momento em que Sheilla gira a maçaneta da porta do quarto, um misto avassalador de emoções a atropela como um tsunami emocional. Lá está Gabriela, presente e palpável, olhos ainda entrecerrados pelo sono, mas o brilho intenso que emana deles é quase avassalador. Na bandeja repousa um banquete de delícias que fazem o coração de Sheilla acelerar, pois sabe que Gabriela conhece seus gostos como ninguém. É um gesto tão pessoal, tão profundo, que quase parece invadir os recônditos mais sombrios de sua alma. O coração de Sheilla dá uma pausa fugaz, todas as incertezas que a atormentaram se desvanecem como fumaça, substituídas por uma explosão avassaladora de euforia que percorre cada fibra do seu ser. A resposta para suas inquietações, a confirmação ardente de seus desejos mais profundos, estava ali, diante dela, naquele presente preparado com tanto cuidado por Gabriela. Era como se a resposta estivesse ali, naquele gesto carinhoso e dedicado de Gabriela... Por outro lado a mais nova, ao ver a expressão apaixonada de Sheilla se adiantou.

- Sheilla, não, nós somos amigas e as meninas já me contaram que você estava pulando refeições. Eu sou sua capitã agora e preciso da minha melhor jogadora em sua melhor forma. Não tem outra intenção a não ser me certificar que você vai comer, antes que você ache que eu estou...pensando em qualquer outra coisa além de nossa amizade - Palavras que poderiam até soar como reconfortantes...pelo menos deveriam.

Era isso que elas eram.

Colegas de time.

Numa hierarquia, Gabriela a capitã; Sheilla uma jogadora.

BROKEN  |  SHEIBIOnde histórias criam vida. Descubra agora