Felicidade

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Feliz, era assim que Gabriela se sentia ao final do período de treino, Zé chamou todas pra formarem um círculo na intenção de passar as considerações finais. Mas antes de pegar a prancheta habitual ele estava com uma sacola em mãos, que continha a logo da CBV estampada, todas ali conheciam o conteúdo destes plásticos, eram uniformes fornecidos pelo patrocinador.

- Perdeu a camisa de novo Betinha? - perguntou Gattaz já em tom descontraído

- A Roberta ja ganhou a dela Carol, esse aqui é especial - Zé diz com um leve sorriso, retirando apenas a camiseta do pacote em suas mãos, abrindo ela diante das jogadoras.

Era de Gabriela, lá estava, o número 10, logo abaixo havia uma faixa... E se aquilo estava ali só podia significar uma coisa. O clima fica tenso, a dúvida de quem substituiria Natália foi quebrada naquela hora. Gabriela estava imóvel, em choque, olhava a camiseta como se fosse a coisa mais preciosa, Zé entregou o pacote e a camisa em suas mãos.

- Zé...tem certeza que essa é a camisa certa? - indagou Gabriela, confusa,

ela era apenas uma tapa buraco.

Então porque raios estava sendo nomeada a capitã?

Porque estava ganhando aquela camiseta se não iria nem pisar na quadra?

Que merda Zé Roberto tinha na cabeça para colocar uma inútil que havia sido cortada como a jogadora mais importante?

O que antes era um clima divertido havia caído por terra e Gabriela se sentia entrando num cubículo apertado ao engolir seco, um lugar que não lhe cabia mais, se a convocação já era um peso, ser capitã então era quase uma sentença de morte.
A sensação de felicidade que ela devia sentir ao receber a camiseta de capitã havia se transformado em uma montanha-russa de emoções. A honra que deveria ser, agora era um fardo insuportável, um título que ela se sentia incapaz de carregar.

Dobrou a camisa e encarou o chão tentando entender porque aquilo foi entregue a ela, não estava em sua melhor fase, acabara de enterrar sua carreira assinando com o time turco, ela era uma reserva, nunca considerou ser capitã da seleção era algo impossível nas condições dela.

- Tenho sim, porque a pergunta? - Calmamente respondeu o técnico.

Brait visivelmente irritada interrompeu Gabriela de dar uma retórica ao técnico:

- Eu acho que falo por todo mundo aqui quando digo que a Gabriela não 'tá' em condição pra ser capitã. Ela não rendeu nem no próprio clube. Então porque ela vai substituir a Natália? - Brait soou ríspida e foi bem rápida em seus argumentos.

Ao ouvir aquilo Gabriela não conseguia tirar sua vista do chão, tentou se manter forte enquanto todos os olhares do time estavam grudados nela. Todos estavam vendo, tinha vontade de correr, mas se saísse agora, seria mais um desrespeito com suas colegas de time que, apesar de amarem ela como amiga, quando se tratavam de profissionalismo eram precisas e até cruéis, suas mãos tremiam enquanto encarava o pacote em seu colo.

- Olha Zé, eu tenho que concordar com a Camila. Ela nem é inútil em quadra. Não fez porra nenhuma, não vira uma bola nem no clube e vai ser capitã? Recebeu propina foi? - Carolana reforça os argumentos da Líbero, estava irritada com a situação.

Gabriela se sentia presa ao chão, com suas mãos tremendo, cada vez mais apertava a camisa, Os olhares pesados e julgadores de suas companheiras faziam-na se sentir ainda mais vulnerável. O desejo de se esconder ou desaparecer crescia dentro dela. Ela queria gritar, dizer que estava tentando melhorar, mas as palavras pareciam presas em sua garganta.

Ela já se sentia uma inútil e ouvir aquilo foi só uma confirmação. Todas ali sentiam a mesma coisa, pensou na única pessoa que poderia defende-la, no mesmo instante lembrou que aquela era quem mais tinha ferido ela...

BROKEN  |  SHEIBIOnde histórias criam vida. Descubra agora