confusão,

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- Paulo -



ㅡ Carlos... vem aqui, por favor? ㅡ te chamo com a mão, e entramos dentro do meu quarto, escuro e abafado. Acendo a luz, abro a janela, e você se senta na ponta da minha cama, olhando ao redor.

Me sento na cama também, e quase que instantaneamente voltamos para aquela noite em que seu pai pediu para que ficasse aqui, logo depois de ter voltado do hospital por conta da picada da aranha. Mesmo tentando não me importar tanto, o sentimento de confusão estava ali, e tomava conta de você. Eu também estava confuso, incomodado, mas não tanto quanto você estava. E eu gostaria de ter te ajudado. Gostaria de ter te abraçado bem forte enquanto podia... mas em relação a isso, eu estava confuso, também.

"Eu não estou mais confuso quanto a te amar, no entanto."

ㅡ Paulo... como que 'cê tá? ㅡ pergunta, e eu assinto.

"Mas eu não sei quanto a você."

ㅡ Desde a morte do meu pai, meus dias 'tão sendo iguais. Não é como se fossem muito diferentes antes, mas pelo menos minha mãe e o Pera 'tão aqui comigo. A companhia deles é boa. ㅡ sorrio fraco ao olhar para o gatinho sonolento, deitado largado no meu travesseiro. Faço um afago na sua cabeça, e ele amolece, se revirando e se levantando. Ele se estica, e vai pro seu colo. ㅡ Ele cresceu bastante desde que eu achei ele, ver ele crescendo é bom... me conforta.

ㅡ Que bonitinho... ㅡ você sorri, fazendo carinho no pelo macio, e eu sorrio também, fechado e brevemente. ㅡ Por que cê colocou o nominho dele de Pera, meo? ㅡ os olhos azuis buscam os meus, e eu desvio os meus olhos para as minhas mãos, depois para Pera, que desce do seu colo em um salto e vai andar pela casa.

ㅡ É que era o nome da minha tartaruga. ㅡ digo, estalando meus dedos e rindo soprado.

ㅡ Tartaruga de verdade? ㅡ você fica boquiaberto, e eu nego com a cabeça.

"Carlos, você é adorável."

ㅡ Não, era uma de pelúcia... que eu ganhei do meu pai, quando eu era bem pequeno. Deve que eu tinha uns oito anos, sei lá. ㅡ um sorriso saudoso se passa por minha boca, e meus olhos querem se encher de água. Respiro fundo, mas dói, parece que arranha, tem algo entalado na minha garganta, tem um tempo que eu me sinto assim. Passo a mão pelo meu cabelo, e sinto seu olhar pesar em mim. ㅡ Uh... faz tempo. Eu era criança.

ㅡ Eu não lembro de ter algo que meu pai me deu quando era criança, deve que tudo estragou com o tempo. ㅡ coça a barba rala com as unhas curtas, e eu rio soprado.

ㅡ Ou foi você estragou e não se lembra. ㅡ brinco, e você faz uma cara desacreditada.

ㅡ Como que cê pode pensar isso do Caduzinho criança, Paulô?! ㅡ o sotaque. Esse sotaque... Eu era muito cuidadoso, tá? ㅡ você franze a testa, mas ri também.

ㅡ Tudo bem, eu acredito em você. lhe dou um eye-smile e respiro fundo, desviando o olhar para minhas mãos com os dedos entrelaçados.

Passado esse momento, eu me senti muito bem por dentro. A dor continua me incomodando, mas o seu sorriso trouxe um calor tão gostoso pro meu coração que... sabe? Ela pode ser deixada de lado por um tempinho. Não vai fazer tão mal assim, poxa.

Depois de tantos dias remoendo o que passei, o que passamos, como eu tive uma impressão ruim de você, mas logo depois senti falta da sua companhia. Era algo diferente, mas que agitou meus dias monótonos. E agora nos dias tristes... era o que faltava. Eu gostaria de poder dizer isso pra você, mas eu sinto que muitas coisas me impedem, diversas circunstâncias, e eu mesmo. Minha própria cabeça me impede de falar pra você esse sentimento que começou a florescer em mim assim que eu parei pra pensar em como eu sentia, como eu senti, como eu sinto sua falta. Eu nunca senti saudades de alguém com tanta força, e de um jeito tão doloroso assim...

花の混乱 - flower confusion - ⁽ᶜᵃᵈᵘᵃʳᵈᵃᵘˡᵒ⁾Onde histórias criam vida. Descubra agora