mortos.

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Carlos sai do restaurante carregando Paulo pelos ombros, sentindo sua respiração falhar. Algo ali estava óbvia e terrivelmente errado, além de tudo que já tinha dado errado antes.

Andar, respirar, fazer qualquer pequeno movimento dói, é terrível. Carlos segue sem rumo, já que ele não sabe andar a pé por aquele bairro. Observar as únicas poucas estrelas que tentam enfeitar o céu é inútil, nem mesmo a serenidade dos astros tiraria esse pesar de dentro de si. E sabem a maior ironia? Apenas duas estrelas conseguiam se fazer realmente visíveis naquela parte da cidade.
Eles se sentem incrivelmente cansados, e é como se tudo, cada milímetro do seu corpo, doesse, pulsasse, sangrasse, rasgasse. Carlos tosse dolorosamente, e Paulo suspira.

ㅡ Cadu... ㅡ o chama devagar, com a voz baixa, e os olhos de Carlos se arregalam por um instante ao ouvir o apelido sair da boca de Paulo.

"Isso foi tão bom de ouvir de você..." Carlos aperta seus olhos e franze a boca, sentindo, por algum motivo, vontade de chorar. "mas que caralho. Eu vou acabar morrendo com isso!"

ㅡ Diz, Paulô. ㅡ ele mesmo assim sorri, sentindo seu coração bater dolorosamente mais rápido, invariavelmente.

ㅡ Eu não quero ir pra casa. ㅡ Paulo sente uma lágrima escorrer amarga pelo seu rosto. Carlos para de andar, e o meio loiro sente mais e mais das lágrimas amargas. ㅡ E-eu não quero preocupar a minha mãe... não mais...

E Carlos o observa, estático, enquanto sente seus olhos se encherem de água. É água? As lágrimas de Paulo estão verdes!

ㅡ Paulo... a sua cara...

ㅡ Eu 'tô pouco me fodendo pra minha cara! ㅡ se exaspera, logo voltando a chorar com mais intensidade. Ao limpar seu rosto com as mangas da blusa branca, Paulo olha 'pra elas e fica com os olhos arregalados, sentindo seu lábio inferior tremer. ㅡ Carlos...

ㅡ Vem aqui, Paulinho. ㅡ Carlos sente duas "lágrimas" escorrerem dos seus olhos, enquanto abre os braços, chamando, clamando para que Paulo o abrace. Paulo permanece parado por dois segundos, então dá um passo, olhando para os olhos também chorosos de Carlos, e enfim o abraça, encaixando seu queixo fino nos ombros largos e acolhedores do outro.

Nesse abraço, os dois se deixam desmanchar em lágrimas, molhar e ser molhado com aquele líquido esquisito que seus olhos expulsam, e serem envolvidos por aquele cheiro de caule de flor. Eles não querem pensar em todas essas coisas esquisitas que estão acontecendo, desde quando aquilo estava acontecendo, por quê? Por quê? E por que justo com eles? Eles nem tinham certeza dos sentimentos um do outro, e vice versa, não tinham certeza se conseguiriam se confessar, despejar tudo pra fora, dizerem como se sentem, como se amam, como se querem...

Interrompendo aquele mundo de perguntas, Paulo se afasta abruptamente do abraço, seca o rosto desajeitadamente e segura a mão de Carlos, começando a andar rápido, quase correndo.

ㅡ Vem.

ㅡ Pra onde, meo?! ㅡ Carlos pergunta, desnorteado, e Paulo começa a correr o máximo que consegue. ㅡ Paulo!

ㅡ Só me segue! ㅡ Paulo se vira rapidamente para ver o rosto confuso de Carlos, e sorri grande, sentindo uma outra lágrima escorrer rapidamente por seu rosto, à medida que corre.

O de olhos azuis segura com força sua carteira no bolso de trás da calça de moletom e segue o meio loiro, que continua seu caminho. Eles atravessam umas duas ruas, e vão em direção a um playground. Passam entre os brinquedos coloridos, quase tropeçando na gangorra, e chegam a um buraco em uma grade, que separa o espaço de brincadeiras de uma mata pouco densa.

ㅡ A gente vai passar aqui? ㅡ Carlos franze a testa, ofegante, e o outro assente, passando pela grade sem muita dificuldade. O loiro dá de ombros, e passa também, quase prendendo o cadarço do seu sapato em um pedaço de arame pontudo. Paulo começa a seguir na frente, mas Carlos o fala: ㅡ 'Vamo andar devagar, meo, eu tô doendo.

花の混乱 - flower confusion - ⁽ᶜᵃᵈᵘᵃʳᵈᵃᵘˡᵒ⁾Onde histórias criam vida. Descubra agora