Capítulo 2: Pyxis

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"Ela age como o verão e anda como a chuva

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"Ela age como o verão e anda como a chuva. Me faz lembrar que há tempo de mudar."

Verão de 2003.

Era o verão das descobertas.

Helô estava prestes a completar onze anos, mas ainda tinha dez, e gostava de ter dez. Era uma sensação de paz no número redondo, parecia que ela só teria a mesma paz quando completasse vinte.

Era o verão das descobertas, por que ela havia descoberto, finalmente, como andar de bicicleta sem cair. Não aguentava mais as rodinhas, ela se sentia mais criança do que já deixavam claro que ela era, o tempo todo.

E todas as suas colegas na escola já pedalavam sem rodinhas. Ela simplesmente não podia admitir esse fato.

A história da abolição das rodinhas foi a seguinte:

Não queria pedir a seu pai que a levasse no parque do centro da cidade para treinar na bicicleta "de adulto". Não tinha, obviamente, nada a ver com o fato de que ela tinha vergonha de seu pai, ou algo do tipo; ela amava seus pais mais do que tudo. Era só que, naqueles dias, todo mundo parecia ficar em grupo de amigos, ou ter melhores amigos. Aquelas duplas inseparáveis, que faziam com que você pensasse que ia ter aquela pessoa pra sempre.

Aos dez anos, Helô passou a pensar que todas as amizades que fizesse naquela idade, ficariam com ela para o resto da vida. Ela, porém, só desejava, do mais profundo de seu coração, uma certa amizade para o resto da vida: a dele.

Foi por isso que, ao chegar da escola naquele dia, sabia que, muito provavelmente, ele estaria no seu closet lendo o último livro que ela havia emprestado. Ele já havia trocado os gibis por outros interesses. As Aventuras de Sherlock Homes parecia aguçar sua curiosidade, dentre todos os exemplares que ela possuía. Ela não gostava de nada mais a não ser discutir sobre o que havia lido recentemente com ele.

Seu vizinho novo - bem, nem tão novo assim, já fazia algum tempo - era curioso: ela emprestava um livro, o que dava a ele o direito de levá-lo para casa, mas ele queria ficar lendo no armário dela.

A menina não seria nem doida de reclamar, ele era legal demais para que ela o quisesse a qualquer distância que não fossem os dois palmos que eles permaneciam afastados todas as vezes que estavam deitados juntos no chão do armário - ordens de seu pai. E Stenio sempre obedeceu e respeitou o pai da garota, às vezes, até mais do que ela mesma.

"Ei, Stenio." Chegou, jogando a mochila no chão do quarto, enquanto falava com o garoto.

"Oi, Helôoo." Ele sempre falava o nome dela de um jeito engraçado, mas ela achava fofo demais, por que só ele falava assim.

Causava uma sensação estranha e boa no estômago da menina.

"Preciso que você me ajude numa coisa." Ela o viu se levantar do closet e deixar o livro de lado.

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