Capítulo 1

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Um. Dois. Três.

Respire fundo, você não está sufocando, é apenas uma sensação ruim em seu peito, mas vai ficar tudo bem.

Repetir isso, diariamente, a todo instante, não poupou Park Jimin de ficar ansioso ou aflito com algumas situações chatas do seu dia a dia, mas o ajudou, e muito, a levar tudo com um pouco mais de sutileza e, até mesmo, certo humor. Ele sempre criou dentro de si a expectativa de que as coisas poderiam melhorar, reverter ou, quem sabe, fazê-lo se adaptar a uma condição que fora induzida a ele desde antes de seu nascimento.

Nenhuma dor dura para sempre, dizem, mas a de Jimin em específico parece, aos seus olhos, triplicar diariamente, aumentando seu nervosismo, criando situações inoportunas e o deixando dolorosamente perdido.

A verdade é que ele se machuca todos os dias apenas para que possa ver quem ama feliz.

Não é como se fosse uma escolha, porque não é; nunca foi. O mundo não foi generoso com Jimin, ou bondoso. Nascer com poderes deveria ser uma dádiva, para ele era uma ruína. A ruína do seu reinado, de sua vida como ômega, marido ou pai. Isso porque, na verdade, ele não podia ser nada do que queria.

Como futuro rei, a prioridade em sua lista sempre foi e sempre seria o seu reino. O seu povo. A sua família. As pessoas que, de forma direta ou não, dependiam dele.

No entanto, como Príncipe do Gelo, como dolorosamente o nomearam, entendia que as coisas não eram como deveriam ser. Bem, elas até eram, mas o destino deveria ter encontrado meios mais fáceis de fazê-lo pagar pelos pecados de uma vida passada. Afinal, para ele, aquela era a única explicação para tanto sofrimento na atual.

Ele sabia, no entanto, ser amaldiçoado. Não entendia as razões e nem buscava respostas, mas sabia que algo havia acontecido de grave para que o deixassem de tal forma. Ele nasceu desse jeito, porque algo aconteceu enquanto ele ainda estava na barriga de sua mãe. E essa certeza ninguém era capaz de tirar de dentro de sua cabeça.

Diferente dos outros ômegas do reino, Jimin nasceu com poderes. Alguns diziam que era um dom, outros entendiam que era um fardo e sua maior derrota. Saber criar poderes com origem no gelo é uma dádiva, de fato. O problema é ter a pele como a de Jimin e congelar qualquer um que o toque com a mais leve troca de contato.

É doloroso, é difícil, e Jimin odeia.

Odeio seus poderes na maior parte do tempo.

A pior dor que é capaz de carregar, é o fato de ter pessoas incríveis ao seu redor e não ser capaz de tocá-las nem por um milésimo de segundo que seja, porque se ele o fizer, mesmo que seja um breve descuido, a pessoa vai congelar tão rápido quanto alguém pisca seus olhos. E esse peso ele não é capaz de carregar. Afinal, já cometeu esse erro uma vez, e prefere não lembrar a respeito.

Essa história em específico, dolorosamente se repetia em sua mente, como se estivesse em um loop infinito. Ele sequer precisava fechar seus olhos azuis e brilhantes para se lembrar dos escuros de quem amava perdendo a cor e o brilho, tornando-se quase transparentes de tão brancos com o gelo os envolvendo. Mesmo acostumado com o frio, aquela frieza em específico nunca seria superada ao longo de sua vida – ou assim, pensava até então.

Jimin carregava bondade dentro de si mesmo sabendo que podia matar qualquer um e todo mundo em milésimos de segundo, contra a própria vontade. Muitas vezes, sentia-se como uma espada sempre empunhada, preparada para cortar qualquer um que ousasse se aproximar da lâmina; ou como uma cobra, sempre pronta para dar o bote em sua presa.

Não sendo uma escolha sua, carregar esse peso era a única saída. Não tinha mais nada que pudesse fazer que não fosse aceitar sua derrota, abraçar seus instintos e tentar controlar sua força. Porque seu poder é forte, incontrolável em certo nível, e causa danos irreparáveis.

Between Fire & Ice | jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora