A jornada da vilã - Catarina

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— Eloisa, eu tô com pena da Chiara. Ela estudou tanto, não deveria estar trancada naquele quarto de hotel.

— Pena da nossa empregadinha? É por isso que você nunca se dá bem, você é patética, sempre tentando ser politicamente correta, não cola nas provas, teve que fazer três recuperações, não chega nos garotos porque "sua amiga viu primeiro"... francamente Catarina, se você não aprender a tirar vantagens sobre os outros vai estar sempre na lama. A cara de porco você já tem.

Catarina revirou os olhos com as palavras da irmã.

— Se eu tenho, você também, somos gêmeas caso tenha se esquecido.

— Gêmeas não idênticas, obrigada. Agora o que você tá esperando pra ir lá dar em cima do Brian e postar aquela foto de vocês dois se beijando pra partir o coraçãozinho da Chiara, igual a mamãe mandou?

— Por que não vai você? Não quero beijar ele, ele é mais baixo do que eu.

— Porque ao contrário de você, perdedora, eu já tenho namorado. Você sabe que a mamãe vai ficar furiosa se amanhã você não tiver uma foto beijando o Brian circulando na Internet né?

Catarina sabia que Eloisa estava certa. E não queria passar a tarde seguinte ouvindo de sua própria mãe que era uma fracassada que não sabia nada sobre vingança. Andou em passos firmes até o asiático, que estava na pista de dança.

— Oi, gatinho, o que acha da gente tomar um drink junto?

— Eu acho que você devia aprender a andar de salto primeiro. - Brian e os amigos se acabaram nas gargalhadas. E Catarina se afastou, cambaleando de um lado para o outro, enquanto eles a chamavam de coisas como "pé de pato."

Sentou em uma das mesas para comer alguns canapés. Estava de saco cheio! Desde que sua mãe se casou com Baltazar Campello, Catarina sentia-se como uma arma de guerra, utilizada por sua mãe sempre que a mesma queria fazer Chiara chorar. No começo era exigido que ela e sua irmã dessem beliscões na garota, quebrasse seus brinquedos, depois, conforme foram crescendo, as travessuras foram ficando mais cruéis, como manchar a calça da irmã de criação na escola e dizer que foi menstruação e dar em cima dos garotos por quem ela se apaixonava, além de ridicularizar a menina perante os outros. Catarina se sentia mal com tudo aquilo, mas Eloisa, por sua vez adorava. Parecia que sua irmã já havia vindo diabólica de fábrica, já que quando Chiara não estava presente, Catarina era quem era o saco de pancadas e alvo de todos os insultos de Eloisa.

Estava pronta para passar o resto da noite na mesa, se escondendo de sua irmã, até que uma de suas amigas se aproximou e a puxou para dançar.

Apesar de fazer aulas de balé desde criança, elas nunca funcionaram para Catarina, pois ao contrário de Eloisa, ela era extremamente desajeitada, por isso, tinha vergonha de dançar em público, já que sempre que fazia isso algum desastre acontecia. E dessa vez não foi diferente.

Catarina tentava acompanhar suas amigas que rebolavam ao som do funk que tocava no salão de festa e quando se deu conta, estava no chão, de costas, coberta de algum líquido gelado, e com... outra garota por cima dela.

— Me desculpa, não foi minha intenção sujar o seu.... vestido. - A outra garota dizia sem graça, estendendo a mão para que Catarina levantasse.

O fato é que naquele momento, Catarina estava com uma mancha enorme de um drink de morango e framboesa em seu vestido branco de formatura. Na parte de trás. Exatamente onde você está pensando.

— Meu Deus! O que você derrubou no meu vestido?

— Foi suco de frutas vermelhas, foi mal. Tenta sair rápido dessa posição que parece que você está menstruada. - A garota se aproximou e sussurrou, sem conseguir conter um sorrisinho.

— Sua vaca! Você não olha por onde anda, mancha o meu vestido caríssimo e ainda debocha da minha cara. - Catarina se levantou rapidamente, vermelha de raiva, gritando com a garota que praticamente era uma das garçonetes do buffet.

— Ei, perai gatona, você quem tropeçou em mim, com essa dança ridícula, e eu não ri de você,  eu tava tentando te ajudar, sendo o mais discreta possível, quem tá chamando atenção fazendo escândalo é você!

— Tanto faz, só me ajuda. Você fez a cagada agora você limpa.

Catarina pegou a garota pelo braço correndo para o banheiro, enquanto a garota de cabelo azul protestava. 

— Epa epa epa, eu tava trabalhando, você tropeçou em mim, me derrubou junto com você e agora você quer que eu pare de fazer o meu serviço pra limpar o seu vestido? Eu até te emprestaria uma blusa pra você amarrar na cintura, mas eu não tenho obrigação de limpar a sua bunda, sua patricinha mimada!

— Você sabe quanto custou esse vestido? Mamãe vai me matar...

Catarina já não estava mais com raiva, e sim em pânico.

— Provavelmente mais do que o meu salário. - respondeu a garota com sarcasmo, em seguida revirou os olhos e suspirou. - Tá bem, vou te ajudar.

A garota pegou papel, molhou com um pouco de água, e foi com Catarina para dentro de uma das cabines do banheiro.

— Se você peidar na minha cara, eu vou te expor na Internet.

Abaixou-se, e começou a limpar o vestido com o papel, enquanto Catarina ficava imóvel, devido à situação totalmente constrangedora.
Depois de alguns minutos, a garota se levantou.

— Más notícias... não saiu. Mas até aonde eu sei, suco de morango não mancha roupas permanentemente, você pode chegar em casa e colocar direto pra lavar. E, como eu disse. - A garota tirou o suéter xadrez que estava usando e amarrou na cintura de Catarina. - fica com isso, pra você não passar vergonha na festa.

Catarina encarou a garota confusa. Geralmente quando ela conhecia outra garota, a unica coisa que ela reparava era se esta tinha mais atributos que chamavam a atenção dos garotos do que ela, mas olhando para essa garota em específico, reparou em cada detalhe, em como os cabelos azuis meio desbotados estavam com as pontas desgastadas, mas ainda assim caiam perfeitamente em seus ombros, no tom amendoado de seus olhos que transmitia uma personalidade forte, no piercing no nariz, que era algo que as Campello consideravam deselegante, no batom vermelho passado de maneira torta na boca da garota, que por sua vez parecia tão.... macia. Encarou-a por alguns segundos como uma espécie de transe hipnótico. Aquela garota estava longe de ser perfeita ou bem arrumada, mas ainda assim ela era tão... linda?

Era normal reparar tanto assim em outra garota?

— Por que tá sendo tão legal comigo? Eu sou insuportável. Fui péssima com você lá fora. - Catarina questionou, finalmente saindo do transe.

— Mulheres devem ajudar outras mulheres, mesmo que algumas ainda não tenham entendido isso. - A garota deu dois tapinhas leves mo ombro de Catarina, e um sorrisinho. - E também, não acho que seja tão insuportável assim. Vi você discutindo com sua irmã mais cedo, ela sim parece uma vaca sem empatia. Você... ainda não sei te definir.

— Você é uma stalker?

— Sou a garçonete. É normal que estejamos em todos os lugares, vocês só estão entretidos demais com a vida privilegiada de vocês pra nos notar.

A garota destrancou o banheiro e saiu.

— Aí, falando nisso, eu preciso voltar a trabalhar. Pode deixar minha blusa na recepção do hotel Campello. Tô hospedada lá, daí eu passo lá e pego.

A garota saiu do banheiro e Catarina passou o resto da parte com uma dúvida a atordoando: o nome da garota.





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