O beijo que eu nunca te dei - Cecília e Victor

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Victor nunca foi uma pessoa de fácil convívio.
Sempre cuidou muito da vida dos outros, era rude com a maioria das pessoas, achava que ninguém estava acima do seu  intelecto exemplar e era fechado como uma ostra.

A maioria das pessoas que o conheciam diziam que ele nunca ia se casar, porque "se era ranzinza novo, imagina velho".

Mas as vezes, bem lá no fundo ele podia ser um cara normal, um cara legal até. Um cara que curtia Harry Potter, Star Wars, Marvel e outras coisas da cultura geek, e que não questionava até o nome do câmera man quando alguma garota dizia que também gostava. Um cara que gostava de ler e era viciado em comprar meias personalizadas pela Internet. Um cara que poucas pessoas conheciam, e Cecília era uma dessas pessoas.

Ela e Victor eram moravam no mesmo bairro desde que ambos se entendiam por gente, mas só foram se conhecer de fato, quando começaram a estudar juntos na oitava série. Se tornaram amigos porque em uma tarde fatídica, Cecília se perdeu no caminho de volta para casa, e ele ajudou a garota distraída a encontrar onde ela morava. Quando ela sorriu para ele naquela tarde ensolarada e passou do portão para dentro, ele soube que estava lascado.

Se estivéssemos falando de um garoto normal, ele iria convidar Cecília para ir ao cinema quando se deu conta de seus sentimentos, iria escolher uma das fileiras do fundo e finalmente dar o beijo que tanto queria na garota, mas lembre-se, estamos falando na hipótese SE fosse um garoto normal, mas era o Victor, e sua forma de demonstrar afeição por Cecília era com implicância.

Um dia, quando estavam na primeira série do Ensino Médio, por exemplo, Cecília conversava com suas amigas sobre como seria o casamento perfeito para ela. Victor imediatamente passou por ela e falou "Se você casar, Césio 137."

Esse tipo de brincadeira se tornou cada vez mais frequente, e Cecília retribuía na mesma moeda.

"E você, que se casar vai se divorciar na primeira semana? Fala sério! Você é insuportável"

Apesar dessas frequentes provocações, os dois eram bons amigos, era como se elas apenas dessem um tempero à amizade.

Cecília jamais iria pensar que Victor nutria qualquer tipo de sentimento por ela, afinal, os garotos que costumavam pedir pra ficar com ela a elogiavam, comentavam "linda" e não "feia" nas fotos das redes sociais, e principalmente a chamavam para sair.

Foram quatro longos anos sendo amigo de Cecília, vendo ela se envolver em outros relacionamentos, e enchendo-a de provocações também, até que na metade do terceiro ano do Ensino Médio, Cecília terminou um de seus namoros, talvez o mais intenso dentre todos eles. Ela estava péssima.
Mas Cecília não era do tipo de garota que ficava triste e se trancava no quarto esperando a bad passar, nem que ficava chorando na frente dos outros ou pedindo apoio a todo mundo que passava, ela só tentava seguir sua vida normalmente. Odiava a pena pós-término que qualquer um viesse a sentir dela.

Ela ia para o colégio, anotava as matérias, comia seu lanche no intervalo, e quando alguém questionava sobre o relacionamento, apenas respondia da maneira mais racional possível "não estava dando mais certo e decidimos terminar, decidimos juntos".

Ela disfarçava muito bem, a maioria das pessoas não percebia que ela estava em pedaços, porém, Victor percebia.

Flashback On

— Cecile, está tudo bem?

— Por que não haveria de estar?

Você terminou recentemente, todo mundo sabe, e sei que você não quer dar o braço a torcer pras pessoas de que está mal, mas o fato é que na aula você estava muito estranha. Tem certeza que não quer conversar? Prometo que fica só entre nós.

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